Carine Corrêa

São 17h15 da tarde na Avenida Tancredo Neves. O comércio está prestes a fechar. No Terminal Rodoviário de Rio Claro às vésperas do feriado, é intenso o movimento de passageiros, motoristas, funcionários, faxineiras, taxistas e, às margens, especificamente na praça, os moradores de rua.

Quem são eles? Mendigos ou andarilhos? De onde vieram? Estão só de passagem? Por que moram na rua? A quem tanto incomodam? A reportagem do Jornal Cidade sentou na praça, e conversou com dois dos moradores de rua que se instalaram há alguns meses ao lado do Centro de Informações Turísticas (CIT). A dupla não quis se identificar, mas, concedeu entrevista.

Um dos andarilhos afirma que já está na praça há pelo menos oito meses: na foto, os pertences deixados pelo grupo no espaço
Um dos andarilhos afirma que já está na praça há pelo menos oito meses: na foto, os pertences deixados pelo grupo no espaço

“Há 16 anos moro na rua. Sou de outro estado, mas com frequência venho para Rio Claro. Aqui na praça, nós ajudamos um ao outro. Tudo o que eu queria era uma casa, comprovante de residência, poder ter um lugar para morar e conseguir trabalho. Se conseguimos uma marmita, nós dividimos. Tudo é dividido entre o grupo. Pessoas para criticar, existem muitas. Para ajudar? Quase ninguém. Sem contar que a assistência da cidade é limitada. No albergue não pode dormir todo dia. Passagem de ônibus ganhamos uma única vez”, diz um deles.

Outro morador que estava ao lado, interrompe mostrando algumas marcas na pele. “Preciso me cuidar. Estava olhando esses dias para o meu corpo, e percebi como estou magro. Tenho uma doença, moça. Recebi ajuda de um homem da igreja, que doou medicamentos para esse problema que estou tendo na minha pele”, disse preocupado.

Entre uma pergunta e outra, o grupo comunicava entre si para dividir as tarefas. Logo um deles retira uma faca: foi pegar um queijo que estava guardado, para dividir com os outros colegas. “Você quer um pedaço?”, perguntou à reportagem. Ele revela que na praça ao lado do CIT, está há pelo menos oito meses. “A gente toma uma pinga e fuma para distrair; para sobreviver”, completou.

O colega mostra à reportagem o artesanato que faz para levantar dinheiro para comida. “A gente vai abordar os motoristas, eles nem abrem o vidro. Já fazem um sinal para que nem chegarmos perto”, relatou.

Transtornos

A permanência do grupo na praça já foi motivo de reclamações de moradores e comerciantes da região. Já houve relatos de andarilhos agressivos.

Contraponto

Na matéria “Especialistas avaliam a problemática envolvendo os moradores de rua”, publicada pelo JC em 25/jul, peritos no assunto foram questionados sobre a origem do problema e como poderia ser amenizado. O sociólogo Airton Moreira Jr. considera que a cidade é excludente na medida em que a especulação imobiliária leva à falta de opção por moradia. “Vivemos na cidade com terrenos cada vez mais caros e aluguéis cada vez mais insustentáveis. O aumento no número de pessoas em situação de rua passa por isso.”

Para a geógrafa Maria Magali Matias, as políticas sociais seriam importantes medidas de proteção “contra a violência gratuita que muitos sofrem”. Para ficarem alertas à noite, a fim de se defender, dormem durante o dia. Então por isso a expressão “vagabundo”.

Assistência Social

Segundo a Prefeitura, as pessoas em situação de rua são atendidas pela Secretaria de Ação Social. Sua abordagem, feita pelo Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), inclui cadastramento, atendimento psicológico e contato com familiares (se for desejo do morador). Além disso, o Creas encaminha para a rede de serviços do município ou outras instituições de serviço social. Quem quiser comunicar a presença de moradores de rua, os telefones do Creas são 3523-6420, 3523-6439 e 3524-8679. Contatos à noite e em finais de semana são feitos à Casa Transitória: 3533-5277, 3517-8910 e 3524-8910.

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