A campainha toca três vezes. O sinal é uma indicação de que a peça vai começar. Mas, durante quase dois anos, a plateia não esteve reunida. Sem palmas, sem público ou bilheterias, os artistas de teatro enfrentaram uma das maiores crises do setor.
Por estarem em ambientes fechados, com pouca circulação de ar, os teatros acabaram sendo os primeiros espaços fechados logo no início das restrições em março de 2020, no Brasil.
Dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro mostram que, com a pandemia, houve redução média de 43,9% do volume de produção nas atividades e que o setor de economia criativa é composto, em grande parte, por micro e pequenas empresas e profissionais autônomos, formalizados ou não, que não possuem capital de giro suficiente para suportar grandes períodos sem faturamento. Ao todo, 88,6% indicaram ter sofrido com queda do faturamento.
No Dia do Artista de Teatro, comemorado na próxima quinta-feira (19), a ‘Reportagem da Semana’ conversou com atores que convivem diariamente com o desafio da pandemia e que precisaram buscar alternativas.
Em Rio Claro
A multiartista, atriz-marionetista e produtora cultural Daiane Baumgartner de Souza, de 37 anos, fazia, em média, duas apresentações no mês antes da quarentena, além de ministrar oficinas. De abril a julho de 2020, teve de cancelar todos os trabalhos presenciais.
“Como todo artista deveria fazer, eu tinha uma reserva financeira que consegui usar nesse período. Decidi focar na criação de um novo espetáculo, um trabalho que era individual e portanto eu conseguiria fazer sozinha em casa ”, comentou.
Conforme o tempo foi passando, Daiane começou a fazer alguns cursos online e passou a se dedicar mais aos estudos. Inclusive, criou a própria capacitação de construção de bonecos em miniatura, também online. Atualmente, o projeto está na quarta edição.
“Construí meu ateliê e minha sala de ensaio em casa. Apresentei todos os meus trabalhos de forma online neste período, tentando encontrar formas de criar o encontro que acontece no teatro presencial também no virtual”, explicou.
A multiartista afirmou que esse é um período muito desafiador. Ela, que trabalha com o tema do horror e da morte nos espetáculos desde 2013, teve de fugir dessa temática para evitar o tema para conseguir se sustentar.
“Nós trabalhamos com emoções, sentimentos e coisas intangíveis. E esse período trouxe muito medo. Algumas pessoas paralisam, outras entram no modo automático para se proteger emocionalmente, e é importante para os artistas estarem ligados no seu tempo, vivendo intensamente para poder, de alguma forma, fazer com que se torne eterno de alguma forma”, disse.
Sobre a saudade do palco e do calor humano, a artista disse que é incalculável, mas que prefere esperar até que todos estejam vacinados no Brasil.
“Primeiro, vamos voltar a fazer teatro ao ar livre. Acredito que depois [voltaremos] para as salas de teatro. Mas vai demorar ainda um bom tempo para encher tudo novamente”, finalizou.
‘Tive de me virar para conhecer o mundo da internet’
A atriz, pianista e cantora Tassia Martins Guarnieri, de 32 anos, disse que quando a pandemia começou ela não era uma pessoa inteirada SOBRE O mundo digital. Foi preciso se reinventar para poder sobreviver ARTÍSTICA e financeiramente.
“Comecei a fazer lives, participei de festivais online e criei o ‘Peça uma Canção’, um quadro onde as pessoas escolhem músicas que elas querem ouvir na minha voz . Tive que saber mais sobre o marketing digital. Um novo mundo”, comentou.
A atriz disse que é preciso lutar por apoio e buscar auxílios e editais para artistas.
“A gente não trabalha só no momento do espetáculo. Existem horas, meses e anos para criar essas horas de momentos mágicos, e precisamos ser pagos por isso. Fazemos algo fundamental para estarmos vivos.
Questionada, a prefeitura de Rio Claro disse que tem incentivado as diversas atividades culturais no município, inclusive o teatro. Além de oferecer espaço para as apresentações no palco do Centro Cultural, que recentemente foi reformado, a Secretaria Municipal de Cultura tem oferecido apoio financeiro para diretores e oficineiros de teatro, a partir de um edital municipal que estabelece as regras para a distribuição dos recursos. A prefeitura também mantém diversas oficinas de teatro no Centro Cultural e na Philarmônica.