A morte não tem nenhum humor

O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

A morte é trágica. Sem humor, ela mata pessoas bem e as mal-humoradas. Desta vez, matou um humorista, um comediante de primeira linha, que estava em um dos melhores momentos da sua carreira: Paulo Gustavo, aos 42 anos.

Quando assisti ao filme “Minha mãe é uma Peça 1”, fiquei impressionado com o humor espontâneo desse ator que conquistou público tão vasto e tão diversificado, o que lhe garantiu a fama e uma das maiores bilheterias de todos os tempos no Brasil.

Do teatro para o cinema, ocorreu um salto incrível, transformando o ator em porta-voz das minorias, do universo gay e de combate ao racismo nas redes sociais.

No final do ano passado, divulgou mensagem defendendo o riso, o humor como forma de resistência em uma época tão adversa, de pandemia e de intolerância. Vítima dessa mesma pandemia, Paulo Gustavo resistiu bravamente até onde pôde.

Os seus filmes mostram o dia a dia das relações entre uma mãe conservadora, que é a sua própria mãe, que ele encarna com muito humor e que aceita a sua homossexualidade, apesar de fazer parte de uma geração ultraconservadora e preconceituosa.

No Rio e em Niterói, a peça ficou em cartaz durante mais de quatro anos, com um público de mais de 200.000 pessoas. No cinema, “Minha mãe é uma peça” rendeu 3 filmes e quase sempre lotou as salas de exibição, com algumas senhoras que se identificaram com a mãe do filme dizendo que assistiram ao primeiro, segundo e terceiro filme, além da peça, dezenas de vezes.

Um dos filmes que ele fez e que tiveram sucesso, não tanto quanto “Toda mãe é uma peça”, foi “Divã”, que tem como protagonista a atriz Lília Cabral, uma artista plástica em crise após a separação.

Paulo Gustavo, em uma entrevista ao Programa do Jô, afirmou que tinha pavor de viajar de avião. Destemido na maneira de se colocar na entrevista, conseguindo a proeza de falar mais do que o Jô, o que era raro nos programas do Jô Soares, ele falou da sua fragilidade humana, o medo do avião e o fato de não saber falar inglês, porque simplesmente havia se esquecido de se matricular em uma escola de inglês.

Paulo Gustavo, com a sua partida precoce, nos deixa tristes, mas a sua alegria, presente nos seus filmes, peças e entrevistas, deve servir de alento para que continuemos a sorrir, apesar de tudo.

Paulo Gustavo teria ainda uma carreira longa pela frente, não fosse essa intrusa, a morte, tirá-lo de cena tão cedo.

Bom final de semana.

O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e  professor de redação.

jaimeleitaleitao@gmail,.com

Redação JC: