Foto: Marcos Corrêa/PR

DANIEL CARVALHO E RICARDO DELLA COLETTA – BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)

Auxiliares militares do Palácio do Planalto se disseram consternados após os cerca de 30 minutos em que, ao anunciar que estava entregando o cargo de ministro da Justiça e da Segurança Pública nesta sexta-feira (24), Sergio Moro acusou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de querer interferir a Polícia Federal.

Assessores fardados do presidente reagiram com frases como “agora acabou” e apontando “o fim de muitas ilusões, inclusive as nossas”.

Houve relatos de silêncio nos corredores do quarto andar, onde ficam os gabinetes ministros palacianos e até de lágrimas após a fala de Moro.

Ao anunciar sua demissão do governo federal, Moro criticou a insistência de Bolsonaro para a troca do comando da Polícia Federal, sem apresentar causas que fossem aceitáveis. Moro afirmou ainda que o presidente queria ter acesso a informações e relatórios confidenciais de inteligência da PF.

Mais pragmático, o núcleo político do governo começou a agir para tentar conter os danos. Um articulador de Bolsonaro disse que um dos caminhos é exigir que Moro prove o que disse. Se relatou as ilegalidades que o Bolsonaro teria cometido, agora teria que comprovar.

Outra linha de defesa seria argumentar desgastar a imagem de Moro indicando que o ministro insinuou que, caso a nomeação de um indicado seu fosse confirmada, ele silenciaria sobre as supostas ilegalidades.

No núcleo mais ideológico do governo, já circula a estratégia de desmoralizar Moro para tentar manter unida a bolha bolsonarista.

Acusariam, por exemplo, que, à frente do Ministério da Justiça, não investigou Adélio Bispo, responsável por dar uma facada em Bolsonaro durante a campanha presidencial, em 2018.

Logo no início da manhã, Bolsonaro recebeu deputados bolsonaristas no Palácio da Alvorada. Os parlamentares saíram de lá seguindo a narrativa criada pelo governo para dar tentar não perder apoio de sua base popular lavajatista.

Pouco antes das 8h30, a Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência publicou um reprodução do decreto de exoneração de Maurício Valeixo no DOU (Diário Oficial da União) com as palavras “exonerar a pedido” em destaque.

“Ao contrário do que parte da imprensa está noticiando, a exoneração do sr. Maurício Valeixo se deu A PEDIDO do próprio. Contra fake news, busque sempre a fonte primária da informação. Bom dia”, dizia mensagem publicada pelo braço de comunicação do governo sobre o qual o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, exerce forte influência.

Ao deixar o Alvorada, Bolsonaro deu sequência à narrativa que construiu.
“Imprensa, vocês erraram tudo no dia de ontem. Um abraço”, afirmou, esquivando-se de questionamentos.

A partir daí, a tropa bolsonarista começou a reproduzir o discurso costurado logo cedo.

“Valeixo, diretor da Polícia Federal, deixa o cargo a seu pedido”, escreveu a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) em sua conta no Twitter.

Ao deixar o Palácio do Planalto, o deputado coronel Armando (PSL-SC), vice-líder do governo e um dos que estava, horas antes, no Palácio da Alvorada também seguiu o roteiro.

“Foi a pedido”, disse, minimizando a discussão sobre o assunto com o presidente.

Depois, o próprio Bolsonaro reproduziu o print do DOU da exoneração, destacando trecho do artigo 2º da lei 13.047/2014 segundo o qual cabe a ele escolher o diretor-geral da PF.

“Art. 2º-C. O cargo de Diretor-Geral, NOMEADO PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, é privativo de delegado de Polícia Federal integrante da classe especial.”

Logo depois do pronunciamento, porém, o tom de alguns apoiadores já era um pouco diferente.

“Sinto muito pela saída de Sergio Moro do governo. Não só por ser meu padrinho de casamento, mas principalmente pela sua conduta exemplar de cidadão, juiz e ministro. Sempre terá minha profunda admiração, bem como a gratidão de todos os brasileiros de bem. Obrigada, Moro!”, escreveu Zambelli em sua conta no Twitter.

Os filhos de Bolsonaro silenciaram nas redes sociais.

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