Apenas um Estado atinge meta de vacinação do sarampo

Vinte e cinco Estados e o Distrito Federal não alcançaram, no ano passado, a meta de vacinação contra o sarampo. Contagiosa, a doença tem se espalhado desde o início do ano por Amazonas e por Roraima, mas também já há casos confirmados no Rio Grande do Sul. Segundo dados oficiais, o País registrava, até o fim de junho, 1.891 casos suspeitos da doença e 472 confirmações – a maior parte na Região Norte e 7 no Rio Grande do Sul.

Apenas o Ceará alcançou, em 2017, mais de 95% da cobertura vacinal na segunda dose – meta do Ministério da Saúde preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No total, o Brasil tinha cobertura de 71,55% da segunda dose do imunizante em 2017, o que representa queda ante a cobertura registrada no ano anterior, que era de 79%.

A baixa vacinação preocupa autoridades e especialistas em saúde. “A pressão de retorno dessas doenças é constante. Temos um trânsito de pessoas de um lugar pra outro muito grande”, explica Flávia Bravo, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações no Rio.

A Secretaria Municipal de Saúde do Rio informou nesta quarta-feira, 4, que há 17 casos sob investigação. Um deles já teve resultado preliminar positivo, mas ainda se espera a confirmação pelo laboratório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Trata-se de uma paulista de 21 anos que mora na capital fluminense. A jovem só foi diagnosticada após viajar para São Paulo, onde moram parentes – o caso também é investigado no Estado.

São Paulo

Segundo o Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo, a jovem fez vários deslocamentos no Estado, incluindo o Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, a capital paulista, Santos e Praia Grande, no litoral. Também teria participado de eventos religiosos e visitado um parente internado. Por causa disso, o Estado busca pessoas que possam ter tido contato com a paciente e apresentado sintomas. “Ela veio de avião. Temos de saber todos os que estavam lá, onde estão e notificar os Estados para onde foram”, explica Marcos Boulos, coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Estado de Saúde. Segundo ele, outras duas pessoas que tiveram quadro febril na região monitorada são acompanhadas.

O Estado registrou ainda uma ocorrência confirmada não autóctone da doença em abril, de uma médica que viajou ao Líbano. Nesse caso, não houve transmissão identificada e a paciente se recuperou. No mês passado, a Secretaria de Saúde editou um alerta em nível 3, o mais alto da escala, para o risco de casos de sarampo importados da Rússia – onde ocorre a Copa e há 1.200 infecções.

“Temos novos casos e medo do aumento da circulação do vírus”, diz Maura Salaroli de Oliveira, infectologista do Hospital Sírio-Libanês. Segundo explica, a melhor forma de prevenir a doença é a vacinação – a primeira dose deve ser aplicada em crianças de 12 meses e a segunda dose, quando completam 1 ano e 3 meses. Em São Paulo, a cobertura vacinal da segunda dose atingiu apenas 67,9% do público-alvo no ano passado, segundo o ministério.

Diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde, Rejane de Paula observa que a população tem buscado menos proteção. “Notamos um movimento antivacina circulando em nosso Estado” , afirma.

Para especialistas, os informes de erradicação de doenças – as Américas foram consideradas livre do sarampo em 2016 pela Organização Pan-Americana da Saúde – podem ter levado a população a não buscar os imunizantes. Hoje, as Américas relatam 1.685 casos confirmados em 11 países – 85% na Venezuela. O Brasil passou este ano a registrar a circulação do vírus do sarampo (genótipo D8, o mesmo circulante na Venezuela desde 2017) nos Estados de Roraima e Amazonas.

Outra questão é que, com a redução de casos em consultórios, profissionais têm dificuldades em reconhecer o sarampo. “Toda doença que fica muito tempo longe da gente, o médico não pensa nela. Pode ser que os médicos mais jovens nunca tenham visto um caso”, diz Boulos. Os sintomas são erupções na pele, febre alta, dor de cabeça e mal estar. Há mais chance de morte entre crianças.

Segundo Flávia Bravo, os adultos também têm de se informar. “Muitos que têm hoje 30 anos tomaram a vacina aos 9 meses e era uma dose só”. “Todos têm de saber o seu passado de vacinação e, na dúvida, se vacinar. Não tem overdose”, diz.

O ministério informou que “de janeiro a junho, encaminhou a Roraima e Amazonas 711,4 mil doses da vacina tríplice viral”. De 6 a 24 de agosto, haverá campanha nacional de vacinação contra sarampo e poliomielite. Na semana passada, o jornal O Estado de S. Paulo mostrou que o País tem 312 municípios com alto risco de retorno da pólio, por causa da baixa vacinação.

Amazonas

No Amazonas, 265 casos de sarampo foram confirmados oficialmente até esta quarta-feira e 1.693 casos suspeitos são investigados. O cenário levou a prefeitura de Manaus a decretar, anteontem, situação de emergência no município. Como ação, 260 agentes atuarão em escolas, centros comerciais e diretamente em residências, além de 185 postos de vacinação pela cidade.

“Desde o mês de março nós estamos com nossas unidades abastecidas com a vacina, com equipes prontas para atender os usuários. Realizamos ações de intensificação e mobilizações, mas esbarrávamos na resistência das pessoas em tomar a vacina”, informou o secretário municipal de Saúde, Marcelo Magaldi.

“Ao invés de esperarmos que as pessoas busquem a prevenção das unidades de saúde, nós vamos em suas casas, na zona ribeirinha, nas estradas e escolas”, afirmou Arthur Virgílio (PSDB), prefeito de Manaus. O município concentra a maioria dos casos suspeitos da doença registrados no Estado até agora. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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