DANIEL E. DE CASTRO – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A ótima campanha de Beatriz Haddad Maia e Anna Danilina no Australian Open está marcada na história do tênis brasileiro, mas não terminou da forma como a paulista e sua parceira cazaque gostariam.
Neste domingo (30), elas começaram a final de duplas na frente das favoritas tchecas Barbora Krejcikova e Katerina Siniakova, porém levaram a virada em uma partida muito equilibrada e acabaram derrotadas por 6/7 (3), 6/4 e 6/4, após 2 horas e 42 minutos.
Bia Haddad, 25, não conseguiu encerrar o jejum de 54 anos sem que uma tenista do país triunfe num torneio do Grand Slam, os quatro principais do esporte. A 19ª conquista de Maria Esther Bueno, no US Open de 1968, permanece como a última nesse nível.
Com a presença na final, Bia tornou-se a terceira representante brasileira a alcançar uma decisão de Slam. A mais recente até então já fazia 40 anos: Cláudia Monteiro foi vice-campeã de Roland Garros nas duplas mistas em 1982.
Sabia-se que o desafio deste domingo seria enorme. Siniakova, 25, é a líder do ranking de duplas. Logo atrás vem Krejcikova, 26, quarta colocada em simples e vencedora de Roland Garros no ano passado. A parceria entre elas acumula sucesso desde a base e já rendeu quatro títulos profissionais de Grand Slam, além da medalha de ouro nos Jogos de Tóquio.
Se os currículos da brasileira e da cazaque não têm esse peso, elas carregavam muita confiança após derrubarem cinco parcerias pelo caminho em Melbourne e emendarem nove vitórias na temporada.
A jornada foi surpreendente. Bia imaginava atuar ao lado da argentina Nadia Podoroska na Austrália, mas ela se lesionou no fim do ano e fez com que a brasileira recorresse a uma conhecida dos tempos de juvenil.
“Procurei uma parceria que tivesse um ranking parecido com ela, uma situação em que desse para entrar na lista. A Anna estava jogando um ITF [torneio de nível menor] na Tunísia e topou na hora. Aí perguntei se ela não queria vir antes, para jogarmos Sydney também, e nós fomos as últimas a entrar lá”, contou.
As últimas se tornaram as primeiras no WTA 500 de Sydney, com a conquista do título mais expressivo da carreira de ambas.
Em Melbourne, a sequência positiva continuou, mas exigiu resiliência. Foram três vitórias consecutivas de virada pelo caminho. As dificuldades ajudaram a fortalecer a dupla, que nas semifinais precisou derrotar as cabeças de chave número 2, as japonesas Shuko Aoyama e Ena Shibahara. Para fechar uma campanha incontestável, só faltava mesmo derrubar as grandes favoritas, mas ficou no quase.
O vice-campeonato permitirá a elas grandes saltos no ranking de duplas. Bia passará da 150ª para a 41ª posição, e Danilina, da 53ª para a 25ª. A premiação em dinheiro é de 360 mil dólares australianos (R$ 1,35 milhão) a serem divididos pelas duas.
Início confiante e virada dolorida Bia e Danilina iniciaram a partida sem sentir o peso da sua primeira final de Slam e abriram uma quebra de vantagem no terceiro game. A brasileira e a cazaque se mantiveram firmes, aproveitaram que Krejcikova estava bem abaixo do seu potencial e lideraram a parcial até 4/3, quando as tchecas devolveram a quebra de saque.
Depois disso, o jogo ficou alternado, com mais uma quebra para cada lado, e foi para o tiebreak. Bia, que já tinha se destacado com um backhand fulminante na paralela quando sacava com 4/5 e 30 iguais, teve ótimo desempenho para garantir a vitória da dupla por 7 a 3.
No segundo set, uma quebra no saque da brasileira logo no primeiro game deu a vantagem que foi administrada pelas tchecas ao longo de toda a parcial, aproveitando o crescimento de Krejcikova no jogo.
A decisão do título ficou para o terceiro set. Bia foi quebrada no quinto game, o que permitiu às rivais assumirem a liderança num momento crucial. Foi o momento de Krejcikova crescer ainda mais, trazer Siniakova para o jogo e elas abrirem vantagem de 5 a 2.
Ainda havia esperança, concretizada pela dupla da brasileira com uma quebra logo na sequência e a diminuição da vantagem. As tchecas pareciam prestes a perder de vez o controle emocional, mas sacariam novamente para fechar.
Num game muito tenso, Krejcikova soube usar melhor os balões no ponto decisivo e venceu um duelo com Danilina de maneira insólita para levar as tchecas a mais um título de Slam.
Momento do tênis feminino brasileiro O vice de Bia vem na esteira de meses animadores para o tênis feminino do país.
Em julho do ano passado, Luisa Stefani, 24, e Laura Pigossi, 27, conquistaram a primeira medalha olímpica do Brasil no esporte. O bronze nos Jogos de Tóquio veio após uma campanha de contornos improváveis e uma virada espetacular na disputa pela medalha.
Embalada, a especialista em duplas Luisa foi a responsável por outros grandes resultados do país. Em setembro, ela chegou às semifinais do US Open e quebrou uma marca de 53 anos sem que uma brasileira alcançasse essa fase na chave de duplas femininas de um Grand Slam. Uma grave lesão no joelho durante a partida impediu que a duplista lutasse pela vaga na final, e seu retorno às quadras está previsto para a metade deste ano.
Mesmo fora de ação, Luisa ainda entrou no top 10 do ranking, com a nona colocação alcançada em novembro, a melhor de uma brasileira desde a criação da lista, em 1975.
Em outubro, foi a vez de Bia brilhar com a vitória mais expressiva da sua carreira em simples, sobre a então número 3 do mundo Karolina Pliskova.
Num degrau abaixo, Pigossi e Carolina Meligeni, 25, também estão em ascensão no ranking e neste ano puderam disputar pela primeira vez na carreira a fase qualificatória do Australian Open.