Bolsonaro pede que PMs ‘façam seu devido trabalho’ e sugere Força Nacional em atos contra o governo

Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil

DANIEL CARVALHO – ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS, GO (FOLHAPRESS)

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu ajuda das PMs nos estados e disse que vai usar forças de segurança federais contra manifestantes que, no domingo (7), extrapolarem os “limites da lei” em atos contra o seu governo.

Sem máscara, na inauguração de um hospital de campanha para vítimas do novo coronavírus na cidade de Águas Lindas de Goiás, a 57 km de Brasília, o presidente cobrou que a Polícia Militar faça “seu devido trabalho” e sugeriu o uso da Força Nacional em manifestações contra o governo que se denominam antifascistas. Bolsonaro pediu que seus apoiadores não saiam às ruas.

Segundo integrantes do Ministério da Justiça, a Força Nacional de Segurança ainda não foi convocada, o que deve acontecer após uma reunião com o Governo do Distrito Federal, responsável pela segurança da Esplanada dos Ministérios, nesta sexta-feira (5).

Oficialmente, a Força Nacional deve ser acionada para fazer a proteção do patrimônio público.

“O outro lado, que luta por democracia, que quer o governo funcionando, quer um Brasil melhor e preza por sua liberdade, que não compareçam às ruas nestes dias para que as forças de segurança, não só estaduais, bem como a nossa, federal, façam seu devido trabalho porventura estes marginais extrapolem os limites da lei”, disse Bolsonaro.

Bolsonaro afirmou que os manifestantes que se opõem a seu governo “geralmente são marginais, maconheiros, desocupados que não sabem o que é economia, o que é trabalhar para ganhar seu pão de cada dia”. “Querem quebrar o Brasil em nome de uma democracia que nunca souberam o que é e nunca zelaram por ela”, disse Bolsonaro.

Apesar de afirmar que não há previsão de atos em Goiás neste fim de semana, Bolsonaro disse ter certeza que, caso apareçam no estado, o governador Ronaldo Caiado (DEM) irá tratá-los “com a dureza da lei que eles merecem”.

Bolsonaro tem trabalhado com aliados numa estratégia para tentar diferenciar esses atos das manifestações semanais de seus apoiadores. Com isso, o presidente tentará insistir na tese de que os que o apoiam têm como hábito organizar movimentos pacíficos, enquanto a oposição adota métodos violentos.

Na terça-feira (2), o presidente classificou atos contra seu governo de “marginais e terroristas”.

Seus auxiliares aguardam com expectativa as manifestações de domingo para aferir o tamanho da oposição nas ruas. Na segunda-feira (1º), o presidente já havia dito a seus apoiadores que não deveriam sair de casa no final de semana.

Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (4) que “liberdade de expressão tem que valer para todo mundo”. A declaração ocorreu em resposta a um apoiador que, em frente ao Palácio da Alvorada, disse que o mandatário deveria processar críticos que se referem a ele como “genocida”.

Na noite do mesmo dia, em live, o chefe do Executivo chamou aqueles que se manifestam contra seu governo de idiotas, marginais e viciados.

Em meio a esse acirramento, alguns integrantes do Palácio do Planalto fazem um esforço para arrefecer a temperatura da crise institucional.

Contudo, auxiliares presidenciais veem com reticência a possibilidade de o presidente realmente se comprometer a baixar o tom, dado seu histórico intempestivo.

Há leituras diferentes sobre a orientação dada por Bolsonaro para que seus apoiadores não apareçam na Esplanada dos Ministérios, por exemplo.

Há quem defenda que, de fato, ele queira evitar confrontos. Porém também há quem diga que o presidente apenas procurou uma vacina para o caso de haver mais manifestantes contrários a ele do que a favor. Além disso, outros argumentam que, caso o ato seja marcado por violência, Bolsonaro poderá apontar o dedo para seus opositores.

Partidos de oposição, como a Rede e o PSB, divulgaram notas sobre os atos marcados para domingo no país, que devem ocorrem em meio ao agravamento da crise do novo coronavírus, que já deixou mais de 34 mil mortos no Brasil. Ambos desencorajam seus filiados a participar das manifestações.

ESCORREGÃO

Bolsonaro chegou a Águas Lindas de Goiás de helicóptero. Ao cumprimentar bombeiros próximo ao local onde pousou, escorregou no barro e levou um tombo.

Numa cerimônia rápida, fechada à imprensa mas transmitida pela TV oficial do governo, Caiado e Bolsonaro, que haviam rompido no início da pandemia, trocaram afagos em seus discursos.

O governador de Goiás fez uma apresentação com feitos da gestão Bolsonaro no estado. “O governo federal impulsiona o crescimento de Goiás”, dizia um dos slides do governador, que comemorou as oito visitas oficiais que o presidente fez ao estado.

“Em 2019 e 2020, o governo federal concentrou um esforço enorme para dar algo a Goiás que Goiás não tinha”, disse Caiado.

“O governo federal impulsiona o crescimento de Goiás. Investimentos foram realizados em todas as áreas, como saúde, infraestrutura, assistência social e educação. Recordes, conquistas, superação de deficiências”, dizia o início da apresentação de 17 páginas exibida por Caiado.

Bolsonaro retribuiu os afagos do aliado recém-reconquistado. “Depois de ouvir o Caiado, me animei. Confesso que não queria falar. Mas com suas palavras amáveis, verdadeiras, me tocou. Me permite falar um pouco do estado e do Brasil”, disse o presidente.

Bolsonaro enfrenta o seu pico de rejeição desde o início do mandato, em janeiro do ano passado. Segundo pesquisa Datafolha da semana passada, 43% dos brasileiros consideram o governo ruim ou péssimo. Recorde na gestão, esse número era de 38% no levantamento anterior, no final de abril.

Por outro lado, 33% dos brasileiros consideram sua gestão ótima ou boa. Já aqueles que acham o governo regular, potenciais eleitores-pêndulo numa disputa polarizada, são 22%.

De acordo com a mesma pesquisa, as possibilidades de impeachment e de renúncia do presidente continuam dividindo a população praticamente ao meio.

Disseram que o Congresso não deve abrir processo para afastar o presidente 50% dos entrevistados. Para 46%, o Legislativo deveria dar início ao processo. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Em relação à renúncia, 50% acreditam que o presidente não deve renunciar, enquanto a taxa de quem defende a renúncia de Bolsonaro atingiu 48%.

Redação JC: