Marcelo Lapola
Diplomata de carreira, ministro de primeira classe com título de embaixador com o cargo de cônsul-geral do Brasil nos Estados Unidos na região de Chicago, Paulo César de Camargo é rio-clarense, com 35 anos de carreira no Itamaraty. Nesta entrevista ao café JC, ele fala um pouco sobre sua trajetória e analisa a importância da realização da Copa do Mundo no Brasil.
JORNAL CIDADE – Fale um pouco sobre sua carreira no Itamaraty. Como surgiu o interesse pela Diplomacia?
PAULO CAMARGO – O interesse pela carreira diplomática começou na verdade com meu pai. Por motivos diversos, ele não teve condições de seguir, mas me inspirou bastante. Sempre gostei muito de ler e, mesmo sendo Rio Claro na época uma cidade bem interiorana, sempre tivemos aqui boas livrarias. Desde essa época em que estudava no Joaquim Ribeiro já me interessava por ler a seção de notícias internacionais dos jornais. Também conseguia ter acesso a revistas americanas, como a Time e a Life.
JC – A entrada no Instituto Rio Branco para estudar diplomacia exigiu muita dedicação?
Sem dúvida. Depois do Ensino Médio no Joaquim Ribeiro, fui estudar Direito em Campinas e lá tive contato com a Aliança Francesa, onde também comecei a aprender o francês. Paralelamente comecei a me dedicar a estudar para o processo de admissão no Instituto Rio Branco. Tive também muita ajuda de professores, como o Chagas e o Jaime Leitão, na orientação a leituras e até na correção de redações. Fiz o vestibular e passei, com 23 anos. Estudei lá por 2 anos.
JC – Quanto tempo de carreira? Fale sobre os principais lugares por onde passou.
Já tenho 35 anos de carreira e nesse tempo tive a felicidade de trabalhar em excelentes lugares, como Washington D.C., Montevidéu, em Nova York e Otawa, no Canadá. Fiz também algumas missões à África e fui o responsável pela estruturação administrativa para abrir a primeira embaixada do governo Lula em São Tomé e Príncipe.
JC – Qual sua avaliação das relações entre EUA e Brasil?
Temos relações muito sólidas. Da minha jurisdição em Chicago faz parte um total de dez estados do Meio-Oeste americano. E seja nas universidades, para empresários ou a população americana em geral, é possível encontrar muitas semelhanças do americano com o brasileiro. Somos muito parecidos socialmente. Os americanos gostam muito dos brasileiros.
JC – Os recentes episódios que revelaram que a NSA havia espionado órgãos do governo e a presidente Dilma Rousseff arranharam de algum modo essas relações?
Não diria que arranhou, mas gerou uma justa insatisfação por parte da presidente Dilma Rousseff e do Itamaraty. É algo que acredito que irá ser sanado de certo modo, mesmo porque Brasil e Estados Unidos têm acordos comerciais e de cooperação, em outras áreas, muito sólidos e importantes.
JC – Qual sua visão a respeito do possível término da exigência de vistos para brasileiros viajarem para os EUA?
Essa questão está sob apreciação dos americanos. Eles têm muito interesse em avançar nisso, até mesmo para fortalecer ainda mais nossas relações e incentivar o turismo. Prova disso é a agilidade maior dada pela embaixada americana no Brasil à obtenção de vistos.
JC – A Copa do Mundo ajuda a melhorar nossa imagem externa? É bom para a economia?
Com certeza, ajuda na exposição do País no cenário internacional. Já promovemos muitos eventos nos EUA com o tema Copa do Mundo, visando a atração de investimentos para o nosso País. E os resultados têm sido muito bons.
JC – E se tivermos protestos populares durante a Copa?
Os protestos, feitos de maneira pacífica, são bem vistos pelos americanos, pois veem isso como o exercício da liberdade de expressão em sua essência.
JC – Cidadão do mundo, hoje como vê Rio Claro, sua terra natal?
Rio Claro sempre foi e sempre será meu ponto de referência. É a minha casa. Meus filhos, desde pequenos, quando falávamos em ir ao Brasil, imediatamente eles diziam: “Rio Claro!” Tanto que penso em voltar a morar na minha querida cidade, quando eu me aposentar. Fazer novos amigos e ficar mais perto dos antigos amigos que tenho por aqui.