THIAGO AMÂNCIO
CAMPINAS, SP (FOLHAPRESS) – No dia em que o Brasil confirmou que mais de 400 mil pessoas já morreram de Covid-19, chegaram ao Brasil as primeiras doses da vacina contra a doença produzidas pela farmacêutica americana Pfizer e pelo laboratório alemão BioNtech.


Esse primeiro lote tem 1 milhão de doses (o suficiente para imunizar 500 mil pessoas), 1% dos 100 milhões de doses que as fabricantes deverão entregar até o fim de setembro, e será distribuído igualmente aos estados.
Produzidas no interior da Alemanha, as vacinas saíram de Colônia e foram por terra até a Bélgica, onde foram embarcadas em um avião com destino a Miami, nos EUA, antes de finalmente chegarem ao Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), na noite desta quinta (29).


Estiveram no aeroporto para recepcionar as vacinas os ministros da Saúde, Marcelo Queiroga, das Relações Exteriores, Carlos França, e o das Comunicações, Fábio Faria. A presença do chefe da Economia, Paulo Guedes, também estava confirmada, mas ele não foi ao evento. O presidente da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, também esteve na cerimônia.


As autoridades fizeram um breve pronunciamento na chegada da vacina no qual defenderam o que chamaram de “esforço e planejamento” do governo Bolsonaro para trazer as vacinas ao Brasil, sem mencionar que a atual gestão recusou sucessivas ofertas do laboratório em 2020.


Queiroga afirmou que nos próximos seis dias o governo vai distribuir 16,8 milhões de doses de vacinas a todo o país e, rebatendo críticas, disse que “negacionismo é negar o óbvio”, antes de terminar com o lema do presidente de “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”.


Pressionadas pela marca das 400 mil mortes e pelo início da CPI que investiga o governo Bolsonaro por má gestão da pandemia, no entanto, as autoridades foram embora sem responder a perguntas da imprensa, e apenas equipes de imagem (cinegrafistas e fotógrafos) tiveram autorização para se aproximar dos ministros.


Ao todo, a carga com as doses pesa cerca de 900 kg. Elas serão armazenadas em 16 ultracongeladores, nos quais a temperatura fica em torno de -85°C, segundo o Ministério da Saúde.


Segundo o Ministério da Saúde, os estados vão receber os imunizantes com temperaturas entre -25°C e -15°C, faixa em que as vacinas podem ficar por 14 dias. Nas salas de vacinação, as doses serão guardadas em temperaturas entre 2°C e 8°C por até cinco dias, diz a pasta.


As vacinas que chegam ao Brasil já têm o registro definitivo aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde fevereiro e podem ser aplicadas em pessoas maiores de 16 anos.


Autorizada para uso em diversos países, a vacina da Pfizer apresentou eficácia global de 95% nos testes e uma eficácia de 94% em indivíduos acima de 65 anos.


As vacinas que chegam agora no fim de abril poderiam ter sido entregues em dezembro do ano passado, segundo a primeira proposta feita pela empresa e rejeitada pelo governo Bolsonaro. O presidente usou como justificativa a exigência de que o governo arcasse com a responsabilidade civil em caso de efeitos colaterais do imunizante, mas contrato semelhante há havia sido firmado com a AstraZeneca.


Pressionado pela escalada de mortes no país, o governo fechou acordo com os laboratórios em março deste ano. Conforme mostrou reportagem do jornal Folha de S.Paulo na quarta (28), o governo pagou por um seguro internacional para cobrir a responsabilidade em casos de eventos adversos do imunizante.


A aquisição de seguro custou R$ 6 milhões, dinheiro depositado para a empresa inglesa de seguros Newline Underwriting Management Limited. As ordens bancárias foram emitidas pelo Ministério da Saúde em 30 de março.
No dia seguinte, o governo antecipou o pagamento por 20% das doses de vacinas da Pfizer, com um depósito de R$ 1,14 bilhão.


No contrato com a Pfizer, tornado público pelo ministério apesar do acordo de confidencialidade, existe uma cláusula em que a pasta reconhece que a vacina e componentes relacionados “estão sendo desenvolvidos rapidamente devido às circunstâncias de emergência da pandemia”.


“O comprador reconhece que a eficácia e os efeitos a longo prazo da vacina ainda não são conhecidos e que pode haver efeitos adversos da vacina que não são conhecidos atualmente”, cita a cláusula.


Segundo o mesmo contrato, a Pfizer fará um seguro para cobrir responsabilidades sobre suas atividades. “Para fins de absoluta clareza”, cita o contrato, “isso não incluirá nem constituirá seguro de responsabilidade por produto para cobrir quaisquer reivindicações de terceiros/pacientes”.

A sua assinatura é fundamental para continuarmos a oferecer informação de qualidade e credibilidade. Apoie o jornalismo do Jornal Cidade. Clique aqui.