Com baixo isolamento, cidades apostam em combo de dados para liberar comércio

(FOLHAPRESS)

Os índices de isolamento social em cidades paulistas e o avanço no total de casos confirmados do novo coronavírus em cada região têm sido alguns dos parâmetros analisados sobre as possibilidades de reabertura gradual da economia a partir da próxima semana, cujo anúncio será feito nesta sexta-feira (8) pelo estado. Com índices de isolamento abaixo de 50%, prefeituras pedem a análise de um combo de dados para que consigam reabrir o comércio.
O assunto tem sido discutido em reuniões virtuais feitas por prefeitos do interior de São Paulo nas últimas três semanas. Na segunda-feira (4), voltou a ser tema de um encontro entre cinco prefeitos e o governo paulista.
As prefeituras têm pedido que a gestão João Doria (PSDB) leve em consideração não apenas a movimentação das pessoas a partir de dados de celulares, mas também a disponibilidade de leitos nas cidades, os índices de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e enfermaria, o total de casos e mortes, o nível de crescimento de casos e a intensidade de testes que cada município tem feito.
O receio das prefeituras, muito pressionadas por entidades ligadas ao comércio pela prolongada quarentena, é que os índices de isolamento estão muito abaixo do ideal e, se forem usados como principal parâmetro para definir o relaxamento ou não, a tendência é que o número de locais que poderão ter flexibilização será menor.
À Folha de S.Paulo o secretário Marco Vinholi (Desenvolvimento Regional) afirmou que, em “última instância, o comitê de especialistas, a ciência, é que vai decidir”. O grupo de 12 especialistas do centro de contingência da Covid-19 é liderado pelo infectologista David Uip.
A taxa média de isolamento no interior está em 47%, menos que os 52% verificados há 15 dias. O mais baixo, nesta quarta-feira (6), foi registrado em Limeira, com 37%. Em Araçatuba, está em 38% e, em Ribeirão Preto, Catanduva e São José do Rio Preto, 39%.
“Essas expectativas foram colocadas em reuniões com o governo, [pedimos] que sejam usados todos os indicadores para decidir a autonomia dessas regiões e cidades. A realidade é diferente da capital”, afirmou o prefeito de Ribeirão, Duarte Nogueira (PSDB).
A ocupação de leitos de UTI para Covid-19 na cidade, nesta quinta-feira (7), estava em 32% e, em enfermaria, 18,8%. Há 330 casos confirmados da doença, com 8 mortes.
Nogueira disse que hoje há quatro laboratórios para testagem na cidade, sem necessidade de contraprova do Instituto Adolfo Lutz, que têm condições de analisarem 400 exames por dia.
Já o prefeito de Bauru, Clodoaldo Gazzetta (PSDB), disse que a definição do governo deve levar em conta também as características de cada região paulista.
“Bauru é uma cidade de comércio e serviços. Se comparar com Sorocaba, Campinas ou São José dos Campos, é outro perfil, é industrial. O impacto é diferente em cada local. Flexibilizamos o que podíamos, dentro do decreto [estadual]. Tudo está funcionando, mas sem atendimento ao público”, afirmou.
Segundo ele, se o estado delegar aos municípios a regulamentação do processo, como Goiás fez, ao dar autonomia às prefeituras, cada um terá a responsabilidade de tomar as medidas com critérios. “Mas, se ele assumir a responsabilidade de regular, o que cabe a nós é sermos suplementares. Temos de achar um caminho comum, com diálogo com setores comerciais”, disse.
Avanço da doença Se o índice de 47% de isolamento no estado se mantiver, até o fim de maio todos os 645 municípios paulistas terão casos e óbitos por Covid-19, segundo estudo elaborado pelo governo estadual e apresentado pelo diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. A doença já se espalhou por 371 municípios de São Paulo.
O governo está classificando as regiões do estado como zona vermelha (maior risco), amarela (risco elevado) e verde (menor risco) para determinar o ritmo da flexibilização do isolamento social.
Segundo Vinholi, as áreas metropolitanas de São Paulo, de Campinas e da Baixada Santista serão classificadas como regiões vermelhas e é muito improvável que se autorize qualquer abertura gradual na semana que vem.
“Esses locais passam por grande aceleração no número de contaminações, baixa taxa de isolamento e grande parcela da população faz parte do grupo de risco”, disse.
Na região amarela, onde o risco é um pouco mais baixo, estariam as regiões do Vale do Paraíba, Sorocaba, Piracicaba, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, mais distantes da capital, e que podem ter algum tipo de flexibilização.
Comerciantes da região de Campinas, maior cidade do interior, podem começar uma campanha de “desobediência civil” e abrir as portas à revelia do governo, caso Doria não anuncie o início da flexibilização nesta sexta, de acordo com Edvaldo de Souza Pinto, presidente do Conselho da Acic (Associação Comercial e Industrial de Campinas).

Divulgação: