Com pandemia, brasileiros voltam a malhar em casa como nos anos 1980

Shot of a fit young woman doing yoga at home

MARTHA ALVES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Nos anos 1980, a atriz americana Jane Fonda, 83, virou a guru da boa forma com vídeos de ginástica em VHS que se tornaram febre mundial. Com a pandemia de Covid-19, os treinos virtuais no YouTube e no Instagram se tornaram populares e tendência, segundo pesquisa global feita pelo Colégio Americano de Medicina Esportiva.


No Brasil, não foi diferente. Levantamento feito pelo YouTube, à pedido do F5, mostra que os brasileiros estão entre os cinco povos que mais buscaram por “atividades de condicionamento físico em casa” na plataforma de vídeos, nos últimos 12 meses. Eles acompanham treinos pela plataforma de vídeos, participam de grupos no Instagram e fazem aulas virtuais, ao vivo, por aplicativo de videoconferência e redes sociais.


Entre março de 2020 e maio de 2021, estudo feito pelo Google Trends mostra que foram registradas 370 milhões de buscas de vídeos de exercícios com os termos “casa” ou “sem equipamento” no título.


No YouTube, pesquisas sobre “rotina de exercícios diários” aumentaram mais de 3.750%, entre março de 2020 e junho de 2021, em comparação aos 15 meses anteriores. Já os “exercícios para fazer em casa iniciantes” cresceram mais de 2.900% no mesmo período.


Dona de um dos maiores canais fitness do YouTube com mais de 4 milhões de seguidores, a preparadora física Carol Borba confirma essa tendência de aumento na procura por treinos de ginástica online. Desde o início da pandemia em março de 2020, ela viu seu canal dobrar o número de seguidores e visualizações.


Formada em educação física, Carol Borba diz que iniciou o canal em 2016 e, com o tempo, abandonou as aulas presenciais para se dedicar ao conteúdo virtual em uma plataforma em que os alunos pagam para ter acesso aos treinos. Ela publica diariamente exercícios diários para todas as partes do corpo.


No canal, os internautas encontram treinos para diferentes níveis de condicionamento e podem fazer exercícios de levantar peso, por exemplo, com embalagens de amaciante com água que substituem os halteres (equipamento usado para atividade de levantar peso).


A dona de casa Ana Maria Cubissimo, 60, afirma segue a educadora física há cinco anos no YouTube e já perdeu 16 quilos praticando os exercícios. Antes de se exercitar com a youtuber, ela diz que não praticava nenhuma atividade física, estava acima do peso e com dores no joelho.


Ela também passou a fazer musculação em um clube próximo da sua casa, mas que fechou com a pandemia. Com isso, ela intensificou os exercícios em casa. “Carol tem treinos diferentes de abdominal que eu faço [em casa]. Descobri com ela de que gosto de ginástica. Ela é alto astral e põe a gente para cima.”


Com os campeonatos de vôlei suspensos pela pandemia, a jogadora profissional Natália Martins, 36, diz que mantém o condicionamento física malhando em casa com os treinos da youtuber fitness. Ela lembra ainda que conheceu as atividades físicas de Carol Borba há cinco anos e que em dez minutos de ginástica com ela, ficava mais cansada que meia hora de treino.


Nas duas temporadas que jogou na Romênia, a atleta fazia os exercícios online porque pensava que o clube que jogava tinha “pouca malhação”. “Os exercícios me ajudaram no desempenho [na quadra] e indiquei para várias meninas da Romênia. Não quero mais voltar para a academia, é tão prazeroso [o treino], leve. Descobri que posso fazer exercícios usando o peso do próprio corpo.”


Norton Mello, 34, formado em educação física e dono de uma rede de academias, se tornou um fenômeno fitness em 2020 ao reunir mais de 30 mil pessoas em lives diárias no Instagram, de março a dezembro de 2020. Foram 282 treinos online gratuitos para promover a saúde e o bem-estar mental.


Segundo o personal trainer, a pandemia potencializou seu trabalho online, já que as academias foram obrigadas a fechar na quarentena. Ele celebra também os recordes adquiridos no período. “Tenho dois recordes mundiais de lives no Instagram, ao superar 9 milhões [de pessoas] e, em primeiro de junho, com 30,7 mil pessoas treinando ao vivo. É um estádio de futebol do tamanho do Pacaembu.”


As aulas online não eram uma novidade para Mello, que morou nos Estados Unidos e prestava consultoria de treinos há cinco anos para alunos de vários países. “As pessoas imaginam que [as atividades físicas] só acontecem dentro de uma academia. Eu [decidi] levar a academia até elas. Nas lives de treino, eu quero mostrar que elas podem fazer [atividade física] em casa.”


Mello afirma que suas lives apresentam um treino democrático, para todas as idades e com diferentes níveis de treino. Recentemente, ele lançou um plano em que as pessoas têm direito a lives diárias salvas que podem ser feitas a qualquer hora do dia. “Possibilitou a muitas [pessoas] treinarem em casa. A pandemia acelerou em oito anos esse mundo digital.”

A estudante Nataly Debora Manfrim, 31, adepta de atividades físicas, diz que na pandemia se identificou com as aulas online ao ver uma live gravada de Mello, pois o personal trainer trazia uma reflexão nas lives, ao abordar educação, família e afeto. “Norton [Mello] vai muito além dos treinos, a intenção não é você ficar sarado, é saúde. Você faz [o exercício] no seu ritmo, já tem mais de 400 treinos gravados.”


Com o fim das lives grátis de Mello em dezembro do ano passado, Manfrim assinou o perfil privado de treinos no Instagram. Segundo a estudante, o personal muda a dinâmica dos treinos toda semana, oferece aulas extras, lives de dúvidas, com nutricionistas, fisioterapeutas e bate-papo.


“Isso acaba nos aproximando ainda mais e temos de fato a sensação de que ele está treinando na sala de casa ou nós estamos treinando na sala da casa dele. O Instagram privado virou uma família”, diz Manfrim, entusiasmada com as aulas.


A farmacêutica Evelise De Paula, 68, afirma que começou a fazer atividade física com mais regularidade há quatro anos quando conheceu uma professora que dava aulas para a terceira idade em uma academia. Antes da pandemia, ela fazia aulas de alongamento, pilates com bola, postura e aeróbica.


Com o fechamento das academias no ano passado, a farmacêutica comprou uma bicicleta ergométrica e passou a fazer os exercícios que lembrava das aulas com a bola de pilates em casa. Há dois meses, ela começou a fazer aulas de ginástica online com uma professora de educação física, indicada por uma conhecida.


“Eu comecei acompanhando [os treinos] no Instagram, ela fez um grupo de dose diária [de exercício físico] durante 21 dias”, diz. Depois deste período, Evelise continuou com o treino virtual. Ela paga um pacote mensal de aulas gravadas e ao vivo pelo Zoom. “São aulas semanais de 30 minutos. Ela as envia pelo WhatsApp, eu baixo e consigo ver no tablet. A cada 15 dias, entro no Zoom e faço as aulas ao vivo.”

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