Em meio às comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil, os Correios lança, na quarta-feira (7 de setembro), o selo comemorativo em homenagem aos 100 anos de Rádio no Brasil em um evento especial no Rio de Janeiro, no Theatro Municipal. Com apresentação de Sidney Ferreira (Rádio MEC) e Luciana Valle (Rádio Nacional), a cerimônia ocorre às 19h. O evento tem, além do lançamento do bloco especial de Centenário do Rádio, um concerto comemorativo de temas “O Guarani” e “Choros 6”.
O presidente dos Correios, Floriano Peixoto Vieira Neto, enaltece essa data tão especial e o lançamento do bloco filatélico: “Em meio aos 200 anos de Independência do Brasil, a nossa empresa mais uma vez se confunde com a história do país, deixando uma lembrança eterna deste momento. Este selo representa a importância, o significado e a história de um século que o rádio têm para todos nós, brasileiros”.
“A primeira transmissão de rádio feita em 1922 a partir das estações instaladas no Rio de Janeiro, então capital federal, revolucionou a comunicação e a cultura brasileira. Hoje, o veículo mantém sua relevância e permanece em constante transformação. Ao integrarem o território nacional pela informação, boa música e veiculação de utilidade pública, as emissoras de rádio geridas pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC) escrevem sua história junto com a própria história das transmissões radiofônicas no país”, destacou o presidente da EBC, Glen Valente.
História do Rádio – Marcando as celebrações do centenário da Independência do Brasil, ocorreram festividades de 7 de setembro daquele ano até 24 de julho de 1923. Para marcar a data, a cidade do Rio de Janeiro (antiga capital federal) passou por grandes obras. O Morro do Castelo foi aterrado, criando uma extensa área sobre o que antes era mar. Surgiram dezenas de pavilhões, que enalteciam a indústria brasileira, o comércio, a agricultura, as grandes invenções e as nações amigas ao Brasil. Tudo compunha a grande Exposição do Centenário. Um modelo igual ao das gigantescas exposições mundiais. O Brasil, na ocasião, demonstrou a seu povo e à comunidade internacional seu potencial. Na exposição promoveu invenções, como aquela, que necessitou a montagem estações transmissoras – especificamente as do Morro do Corcovado, antes só telegráfica, e a da Praia Vermelha. Foram implantadas para demonstração do uso de som e voz a grandes distâncias, com antenas repetidoras na região serrana fluminense e em São Paulo. A ideia era mostrar um avanço tecnológico capaz de fazer transmissões, propagadas pelo ar, sem uso de fios. Algumas ocorreram ao longo do dia 7 de setembro de 1922, como a da área dos pavilhões, com o Presidente Epitácio Pessoa discursando ao povo. Assim como a introdução da ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ainda naquele dia. Eram transmissões cheia de ruídos, que necessitavam de aperfeiçoamento. Foi uma verdadeira descoberta aos olhos dos que ali visitavam a feira e arredores, ouvindo a transmissão. Assim, oficialmente nascia o rádio no Brasil, em 7 de setembro de 1922, com a transmissão, à distância e sem fios. Roquette Pinto (1884-1954), professor, médico, diretor do Museu Nacional e antropólogo, parceiro de Cândido Rondon, pesquisava a radioeletricidade para fins fisiológicos, acompanhava tudo e, entusiasmado com as transmissões, convenceu a Academia Brasileira de Ciências a patrocinar a criação da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que viria a ser a PRA-2.
Entretanto, a rádio só começou a operar em 30 de abril de 1923, com um transmissor doado pela Casa Pekan, de Buenos Aires, instalado na Escola Politécnica, na então capital federal, Rio de Janeiro. Sua ferrenha defesa do rádio educativo fez com que em 1936 doasse sua emissora ao Ministério da Educação e Cultura, sendo hoje a Rádio MEC. Ele também criou, em 1934, a Rádio Escola do Rio de Janeiro, que hoje leva seu nome: Rádio Roquette-Pinto. Aos poucos, o Brasil acreditou na criação de um veículo que pudesse propagar informações, em sua maioria de caráter socioeducativo, baseado no sistema de clubes ou sociedades civis, que mantinham tais emissoras. Foram criadas estações, como a Rádio Educadora Paulista, em São Paulo, a Rádio Clube Paranaense, em Curitiba, e outras, como a Rádio Clube de Pernambuco, de Recife, se reorganizaram com um modelo diferente da radiotelegrafia. Aos poucos outros Estados aderiram à nova concepção. Nos anos 1930, durante o Governo do Presidente Getúlio Vargas, permitiram ao rádio maior investimento e progresso. Das ondas curtas às ondas médias, depois à amplitude modulada (AM), chegamos a “Era do Rádio”. Emissoras, como a Nacional do Rio de Janeiro, foi ouvida por todo país, com seus cantores se tornando ídolos. Surgiram as Rainhas do Rádio e o futebol virou paixão nacional. Radionovelas, como “Em Busca da Felicidade”, “Fatalidade” e “O Direito de Nascer” viraram referência. Grandes redes surgiram, como as Unidas, as Associadas e a Cadeia Verde-Amarela. O jornalismo ganhou tradição com o antológico “Repórter Esso”. O programa A Voz do Brasil, transmitido pela primeira em 1935, batizado de Programa Nacional que, em 1938, passou a ter transmissão obrigatória com horário fixo das 19h às 20h, e o nome alterado para A Hora do Brasil. Em 1962, é rebatizado como A Voz do Brasil. É o programa de rádio mais antigo do país e do hemisfério sul ainda em transmissão.
Em 1950, a TV chegou ao Brasil e o rádio teve de encontrar novo caminho, uma vez que gradativamente passou a dividir a atenção com o novo meio. A música ganhou mais espaço, dos calouros de Ary Barroso e Chacrinha, à animação de Big Boy e a “Jovem Guarda”. Fomos da “Bossa Nova” à “Era Disco”. Em 1962, nasceu a ABERT – Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão e o setor de radiodifusão ganhou maior representatividade. Em 1966 foi inaugurada a Rádio Tropical FM, de Manaus, sendo a primeira rádio do Brasil e da América do Sul a operar em FM estéreo. Em 1967, foi criado o Ministério das Comunicações.
Na década de 90, a proliferação de redes nacionais e regionais de radiodifusão, propiciaram maior espaço até à segmentação de conteúdo de uma programação, entrando também em debate a flexibilização do horário do programa “A Voz do Brasil”, o surgimento dos primeiros sites de rádios brasileiras, o que na virada do século torna-se esteio para criação de outros tipos de conteúdo: web rádios, rádios convencionais com transmissão via streaming e podcasts. E-mails e, posteriormente, as redes sociais. Em 1999, foi fundada a ABRATEL – Associação Brasileira de Rádio e Televisão com a missão de defender a radiodifusão no Brasil.
Hoje, novas diretrizes permeiam a radiofonia. No analógico, a expansão do espectro de FM e a criação da faixa estendida, dando melhor qualidade às emissoras que antes eram de AM. Em vista dos avanços tecnológicos, a profissionalização do meio, com a implantação de um rádio apoiado por dados, com maiores possibilidades interativas com o público, também ganha destaque. Das emissoras locais fomos às grandes redes via satélite, como Band, Jovem Pan, CBN, Transamérica e outras. A prestação de serviço, com o imediatismo do rádio, ganhou mais espaço. O esporte só cresceu, com a sua eloquente locução, cheia de emoção no rádio. Hoje até o humor se casou com o esporte e a Internet apoia e dá novos rumos. O rádio segue se reinventando.
Ter 100 anos não é sinônimo de ser ultrapassado. O rádio continua sendo, democraticamente, o meio que nos acompanha a todos lugares. Nesses cem anos, o rádio no Brasil se expandiu através de sua capacidade de unir a credibilidade e o dinamismo do online, alcançando a marca de mais de 9.000 emissoras e sendo ouvido por mais de 80% da população.
Arte do selo – O conjunto de quatro selos ilustra elementos que sintetizam a história do início do rádio no Brasil. Em primeiro plano à esquerda está o rádio, marcando o início da primeira transmissão em 07 de setembro de 1922. À direita, ao microfone está Roquette-Pinto, responsável por fundar a primeira emissora do país e considerado o pai da radiodifusão no Brasil.
Ao fundo do rádio círculos aumentam gradativamente, representando a propagação das ondas sonoras criando a ideia de a linha do tempo desde a sua primeira transmissão em 1922 até 2022. A técnica usada foi computação gráfica. Foram confeccionados 14 mil blocos, cada um composto por 4 selos (total de 56 mil selos no valor de R$ 3,25 cada selo), que podem ser adquiridos pelo valor R$ 13,00 cada bloco.
Todos os blocos estarão disponíveis, após o lançamento, para venda na loja virtual e nas principais agências dos Correios de todo o país.