Fabíola Cunha
”Como faço para a vida não parar?”, perguntou-se Keli Menezes Vieira quando perdeu a visão e os dois rins quase ao mesmo tempo, devido à diabetes, há seis anos atrás. “Eu era muito ativa e entre uma sessão de hemodiálise e outra, comecei a frequentar o Cmac, onde fui acolhida, ouvi a experiência de outras pessoas com deficiência visual, aprendi braille e informática…aqui é minha segunda família”, explica.
O local a que Keli se refere é o Centro Municipal de Atendimento à Pessoa Deficiente Visual, que atualmente funciona na Avenida 3, entre Ruas 1 e 2, Centro.
Além das aulas já citadas, há orientação sobre cuidados pessoais e apoio aos cuidadores familiares, utilizando estratégias metodológicas acessíveis, jogos educativos e recreativos, atividades físicas, oficinas de bijuteria, pintura em tela, atividades de vida prática, oficinas de culinária, leituras de textos informativos, reunião de grupos com psicóloga e assistente social, atividades culturais, entre outras ações.
Keli atualmente dedica-se ao curso de pedagogia e pretende direcionar sua carreira para o ensino da informática e braille – processo de escrita e leitura baseado em 64 símbolos em relevo.
No Cmac, a professora de informática e braille atualmente é Adriana Cozza, que enfatiza a necessidade de maior conhecimento do público sobre a deficiência visual, o que melhoraria a qualidade de vida do cego no dia a dia: “Muitas vezes o cego não sai de casa porque é difícil ficar esperando tanto tempo na calçada até alguém ajudar a atravessar, além dos obstáculos como calçadas esburacadas e entulho”, observa.
Adriana enfatiza também que a desinformação prejudica o deficiente visual no mercado de trabalho: “O deficiente visual é mais difícil de ser inserido no mercado, muito pela falta de informação do empregador sobre o que ele pode fazer”.
O Cmac equipe de trabalho é formada por 10 profissionais e três estagiários, entre eles coordenadores, psicólogo, monitoras e cozinheiras.
“Atualmente o Cmac, que tinha como foco de trabalho o atendimento de adultos deficientes visuais, passou a ampliar e melhorar os serviços para atender a todas as pessoas com deficiência”, explica a assistente social Sindy Salla Sá.
Abideraldo Aparecido Canovas está no Cmac há sete anos e trabalha no local como ajudante geral. Como tem baixa visão, ele aponta que prédios públicos, como o do Fórum, não oferecem itens para orientação nas escadas, por exemplo, onde fitas de cor intensa ajudariam a diferenciar os degraus.
Keli, Adriana, Abideraldo e Sindy enfatizam que o conhecimento sobre a deficiência visual tem que ser de mão dupla: tanto para que os portadores ganhem confiança e saiam mais de casa quanto para que o público não-portador entenda no que pode colaborar e conviver melhor.