O Dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, inspira muitas pessoas a refletir e comentar sobre a data. Uma dessas pessoas é a advogada Maíra Recchia, que é de Itapira, mas trabalha em praticamente todas as regiões do país.
Especialista em gênero, feminista e atuante em muitas iniciativas pelos direitos das mulheres, ela afirma que há muito a ser comemorado nesta data, mas ainda há um longo caminho que as mulheres têm de percorrer para atingir a igualdade.
“Sou um pouco contra a romantização dessa data, embora o dia seja necessário para relembrarmos e celebrarmos a luta árdua de nossas antecessoras para a conquista de direitos mínimos. Contudo, precisamos muito avançar! Conquistamos o direito ao voto, mas ainda não estamos a contento nos espaços de poder político”, diz ela.
Maíra pondera, ainda, que “depois de muito tempo de luta, conquistamos o direito ao divórcio, mas as mães ainda são irresponsavelmente acusadas de alienação parental. Tivemos aprovações de leis importantes como a Lei Maria da Penha, a Lei do Feminicídio, da importunação sexual, e do minuto seguinte, mas o Brasil ainda é campeão nos índices de violência contra a mulher. E de violência sexual contra crianças – sim, o lugar mais perigoso para mulheres e meninas continua sendo dentro de casa”, alerta.
Desigualdade salarial e julgamentos
A advogada lembra que as mulheres avançam nos postos de trabalho, conquistam nossa independência financeira, mas enfrentam injustiças. “Por exemplo, ganhamos 30% menos que os homens nas mesmas posições, ainda que precisemos gastar mais pelos padrões estéticos (com os quais não coaduno) para sair de casa”.
Ela acrescenta, também, que mulheres são rotineiramente assediadas, interrompidas, julgadas, silenciadas, sexualizadas e suas competências são postas a todo o momento à prova. “Ainda nos perguntam, nas entrevistas de emprego, se temos filhos, se queremos ter, se casamos, se nos separamos, com quem nossos filhos ficam e tantas outros questionamentos que os homens jamais escutaram”, ressalta.
Para Maíra, a sociedade, patriarcal, tenta desacreditar a mulher perante sim mesma. “Estamos sempre magras demais, gordinhas demais, assertivas demais, agressivas demais, passivas demais. Às vezes, somos as loucas e as desequilibradas. Na verdade, a única certeza em que querem que acreditemos é de que nunca seremos suficientes. De todos os avanços que tivemos, dos mais tímidos aos mais robustos, o fato é que ainda não alcançamos nossa efetiva emancipação social”, avalia.
Sistema opressivo estimula competição
A advogada argumenta que os congressos da imensa maioria dos países se mantêm sem a observância da pluralidade de gênero e raça. “Mulheres são tolhidas ou não citadas em espaços de entrevistas (mesmo quando a matéria é de um precedente alcançado por elas). E temos pouca presença feminina nos postos de liderança”, diz.
“Como se apesar das conquistas, a sociedade ainda não nos reconhecesse como aptas a ocupar os espaços públicos, em uma vã tentativa para nos manter umbilicalmente atrelada aos ambientes privados das residências. Sem nenhum demérito, obviamente, daquelas que ficam em casa por decisão própria, o que em nada lhes diminui”, acrescenta.
Finalmente, como parte de um sistema de opressão, Maíra cita o fato de que historicamente, as mulheres são ensinadas a competir, a julgar mais ferozmente as decisões umas das outras, a apontar o dedo, a colocar a culpa sempre em outras mulheres, em uma estrutura machista e patriarcal, onde os homens são sempre poupados.
E finaliza. “Meu desejo para estes e outros 8 de março é de união genuína. Que a sororidade seja uma prática e não uma teoria distante. Que não nos dividamos e não nos machuquemos. Que sejamos degraus umas para as outras, em verdadeiros arrimos de luta. Que mantenhamos a ternura e o colo afetuoso quando necessário. Precisamos urgentemente contrariar esse sistema patriarcal dominante que nos coloca em categorias subjugadas. Só ganharemos quando estivermos todas onde sonhamos. Enquanto faltar uma de nós, não poderemos descansar! Viva 8M e que a mudança seja feminina!”.