O verdadeiro educador é aquele que estimula o pensamento crítico, questionador, não é o que alfabetiza a criança, o adolescente e mesmo o adulto de forma rasa e estereotipada.
No último dia 19, completaria cem anos um dos educadores mais brilhantes do século 20, não só no Brasil, mas em todo o mundo: Paulo Freire.
Era polêmico porque abria mentes, não as mantinha fechadas, lacradas. E abrir mentes em um país conservador como o nosso, e que viveu mais de duas décadas oprimido pela ditadura, tem um custo muito alto.
Eram justamente os oprimidos, os mais pobres e explorados que se transformaram no foco central dos seus ensinamentos. Para ele, educar sem abrir as comportas do pensamento na verdade não é educar, mas dominar, uniformizar as pessoas, tratá-las como se fossem seres iguais, um rebanho sem nenhuma identidade.
É de Paulo Freire a afirmação: “Quem ensina aprende ao ensinar. E quem aprende ensina ao aprender”.
Essa interlocução entre educador e educando aciona o ato de pensar de maneira estimulante. Paulo Freire sempre foi contra o ato de educar praticado de forma autoritária, castradora, e essa sua maneira de ser provocava reações contrárias de quem encarava a educação como algo automático, frio, muita informação e quase nenhuma formação e reflexão.
Quanto mais pensam os indivíduos, de forma livre e sem amarras, menos os poderosos se sentem à vontade para exercer a sua tirania, seja em uma ditadura sem disfarces, seja em uma democracia que não respeita os indivíduos e a diversidade que existe em cada país e em cada cultura. Por isso é que eles buscam doutrinar, utilizando muitas vezes a religião como ferramenta para padronizar mentes, arrastá-las para o território fechado do pensamento único e opressor.
Paulo Freire é muito mais valorizado e lido no exterior do que aqui, onde ele é visto com desprezo e hostilidade por forças conservadoras, o que dá a medida da situação trágica que vivemos no Brasil hoje, em pleno século 21.
O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.