Pó de giz na mão, o arrastar de cadeiras e a tradicional ‘barulheira’ de vários alunos falando ao mesmo tempo. Essas são algumas das saudades que os professores das escolas estaduais dizem que esperam não sentir mais, a partir de segunda-feira (30). Afinal, depois de aproximadamente um ano e meio de portas fechadas e aulas online, eles se preparam para, finalmente, retomar as atividades presenciais.

A reabertura acontece após a diminuição das taxas de contágio pelo novo coronavírus. No entanto, ainda é preciso cautela e atenção às medidas de segurança sanitária para evitar a disseminação da Covid-19. Para saber das expectativas sobre o retorno, o JC  traz, na ‘Reportagem da Semana’ de hoje, relatos de professores e também um resumo de como deverá ser esse regresso às aulas presenciais.

Em Rio Claro

Com o registro, em Rio Claro, de que a taxa de ocupação de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Covid está em 19%,  às escolas da rede estadual de ensino se preparam para receber de volta seus mais de 15 mil alunos. A saudade, e também a ansiedade, são sentimentos relatados pelos professores ouvidos pelo JC.

Giovana Andressa Tomaino Gomes leciona na rede estadual há sete anos. Trabalha na escola Professora Oscália Góes Correa Santos, que fica no Jardim Wenzel. A educadora dá aulas de geografia para alunos do ensino fundamental. Ela confessa que está bastante ansiosa, mas também apreensiva com o retorno.

“Estou com muitas saudades dos alunos, das conversas, de ver como eles estão, o que era uma rotina das minhas aulas. [Mas] ao mesmo tempo, estou preocupada com as adversidades e problemas que vou encontrar”, disse ela.

Para Giovana, uma das principais consequências desse um ano e meio de aulas online é a defasagem que alguns estudantes deverão apresentar.

“[O ensino remoto] não é a mesma coisa de eles estarem aqui, tirarem dúvidas e explicarmos uma, duas, três, ou quantas vezes forem necessárias. Mas estamos, desde o ano passado, estudando a melhor maneira para fazer com que eles não fiquem sem o básico ”, relatou ela, se referindo ao conteúdo elementar para o período,

Contudo, para ela, enquanto professora, o ensino remoto se resume em uma palavra: aprendizado.

“Nós nunca imaginávamos dar uma aula de modo remoto. Tivemos que aprender e dominar as tecnologias. É diferente de ter o convívio e socializar. Mas é um legado [que] não vai ser esquecido, vamos apenas aprimorar”, definiu.

Professora Giovana Andressa Tomaino Gomes leciona geografia na rede estadual há sete anos 

Segurança de alunos e professores

Diretor da unidade, Marlio Ferreira de Castro explicou que a gestão da escola construiu um plano para o retorno das atividades presenciais, com as condições da escola em relação aos protocolos sanitários, sendo o distanciamento mínimo de um metro entre os alunos o primordial. Diante do estudo, a escola optou por manter as aulas em um sistema híbrido.

“Em uma semana vem metade da sala e na outra semana, a outra metade. Enquanto o aluno não vem para a escola, ele deve acompanhar de casa pelo aplicativo Centro de Mídias. O professor estará conectado, dando a mesma aula para quem estará na sala e para quem estará em casa”, elencou.

Há quatro anos na direção da escola, Castro observou que, para garantir os protocolos, foram feitas melhorias, com o uso de materiais da Secretaria da Educação e recursos do Estado e da União. A unidade contará com álcool em gel, materiais descartáveis e marcação de solo, entre outras medidas.

“Tudo para preparar o ambiente escolar para o retorno dos alunos”, enfatizou.

O uso de máscaras continua obrigatório. Todos passarão por uma aferição da temperatura ao chegarem no local. Os protocolos também incluem higienização frequente das mãos com água e sabão ou álcool em gel 70%, e haverá o cuidado de manter  ambientes arejados com portas e janelas abertas.

Todos os servidores da rede estadual voltarão às atividades presenciais, sem revezamento. Os que pertencem aos grupos de risco só irão retornar 14 dias após a aplicação da segunda dose ou da dose única da vacina contra a Covid-19. 

A avaliação da professora Giovana em relação aos protocolos de segurança é positiva, com a esperança de que os alunos sigam as regras, primordiais contra o contágio pela Covid.

“Vimos com milhares de exemplos de que [a pandemia] não é brincadeira. Garantir [o cumprimento das regras] 100% não dá, mas buscamos fazer o melhor, e acho que os pais também têm participação nesse comportamento dos alunos”, afirmou.

Apesar de tudo, a professora comentou que a ansiedade é grande para amanhã.

“[Após] um ano e meio afastada, minha mochila vai ser montada com antecipação, pois tem muita coisa para trazer. Não tem como não ficar ansiosa, mas vamos torcer para que seja o melhor possível para todos”, pontuou

Diretor Marlio Ferreira de Castro ao lado dos professores em um dos portões em que os alunos deverão entrar amanhã
Pátio da escola com mesas e bancos interditados

Recém-formado, professor teve três meses de aulas antes da pandemia 

Matheus Maestrello leciona geografia na unidade. Acontece que ele deu apenas três meses de aulas na escola Oscália. Recém-formado, ele não teve tempo para sentir de verdade o ritmo das aulas presenciais na rede estadual. Logo começou a pandemia e o ensino remoto foi adotado.

Mesmo com poucos meses de experiência ‘olho no olho’ com os alunos, a saudade é grande.

“[O presencial] é diferente, conseguimos ver a reação e responder na hora qualquer dúvida. O ensino à distância até proporciona isso também, mas não é a mesma coisa. Muitos alunos têm vergonha de ligar a câmera, de falar e perguntar. Não é a mesma coisa”, opinou.

Apesar das expectativas altas e da saudade, Maestrello reforçou a importância dos protocolos sanitários.

“O medo não deixa de ser presente também. A gente acompanha os dados e pesquisas e por isso nessa volta às aulas a gente está tomando muito cuidado, mantendo o distanciamento social. O mais importante é manter a segurança de todos: alunos, professores e funcionários”, declarou.

O docente também não consegue garantir que as regras serão totalmente seguidas pelos alunos.

“Mas esperamos que os familiares deem a instrução para eles em casa. E na escola faremos o mesmo, deixando bem claro como é importante seguir essas medidas e evitar qualquer aglomeração desnecessária. A preocupação fica, mas faremos o possível para que isso aconteça de uma maneira segura para todos”, completou.

Recém-formado, professor Matheus Maestrello, de 26 anos, teve três meses de aula antes da pandemia; natural de Santa Rosa de Viterbo, ele se formou na Unesp de Rio Claro

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