CLÁUDIA COLLUCCI E PHILLIPPE WATANABE – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O efeito das aglomerações nas festas de fim de ano já começa a se refletir no aumento de óbitos e internações nos hospitais públicos e privados na cidade e no estado de São Paulo.

No estado, as internações subiram 19% nas últimas duas semanas (entre 29 de dezembro a 12 de janeiro): de 11.070 para 13.175. A taxa de ocupação de leitos está em 66,3%.

Além da alta de hospitalizações, o estado registrou 2.467 novos óbitos: de 46.195 para 48.662.

Na capital paulista, nesse período, o total de mortes passou de 16.163 para 16.990. Foram 827 novos óbitos, um aumento de 5,5% em relação a todo período da pandemia em apenas 14 dias.

Nas duas semanas anteriores (de 16 a 29 de dezembro), ocorreram 462 novas mortes, o que resulta em um aumento de 79% entre os dois períodos, segundo análise do projeto Info Tracker, da Unesp e da USP, a pedido da reportagem.

As internações em hospitais públicos municipais, em enfermarias e UTIs, cresceram cerca de 13% em duas semanas, de 1.868 para 2.103.

Dos 43 distritos da capital paulista que têm hospitais com leitos para tratamento da Covid-19, houve aumento de hospitalizações em 32.

Para os pesquisadores, o cenário representa o começo de uma nova fase crítica da pandemia, com maior sobrecarga nos hospitais.

Segundo Wallace Casaca, professor da Unesp e coordenador do Info Tracker, que monitora a pandemia no estado desde seu início, a taxa de contágio (Rt) do vírus na capital também está subindo. Estava em 0,78 no fim do ano e, nesta quarta (13), em 1,4.

O índice, que aponta quantas pessoas serão contaminadas por um infectado e ajuda a estimar a velocidade de transmissão da doença, deve estar sempre abaixo 1 para que a tendência de queda de casos se mantenha.

“É uma bomba que a gente estava esperando. Se continuar alto assim, comprometeremos fevereiro também com hospitais lotados e alta de casos mesmo com a vacinação.”

Casaca explica que, para o cálculo dessa métrica, é necessário ter o total de casos confirmados. Em geral, para um caso entrar como confirmado, leva-se em média de cinco a dez dias por causa do atraso entre a coleta do material para teste e a divulgação desse resultado.

“O Rt de hoje, na verdade, leva em conta o que houve há dez dias. A taxa de contágio voltou a subir a partir do dia 5, ou seja, bate com o período das festas de Natal e Ano-Novo.”

O epidemiologista Paulo Menezes, professor da USP e coordenador do centro de contingenciamento da Covid-19 do governo paulista, diz que parte desse aumento da taxa de contágio pode ser resultado das notificações de casos de Covid que ficaram represadas no final do ano.

Mas ele não tem dúvidas de que houve um aumento real de internações e óbitos e acredita que, se as medidas de endurecimento da quarentena não tivessem sido adotadas no final do ano, a situação poderia ser ainda pior hoje.

O estado vem registrando média diária de mortes por Covid-19 acima de 200. O valor não ficava acima dessa marca desde o dia 16 de setembro de 2020.

“A transmissão é intensa em todas as regiões. O impacto que se espera com a vacinação é uma redução progressiva do número de óbitos e internações dos grupos de maior risco. Mas o vírus continuará circulando entre os jovens e os adultos. Nós vamos continuar tendo um número importante de casos durante meses e meses”, diz Menezes.

Por isso, reforça o médico, será necessário manter todas as medidas de proteção e de distanciamento social.

Hospitais privados paulistas também registram aumento de internações por Covid, segundo levantamento do SindHosp (sindicato dos hospitais, clínicas e laboratórios paulistas) em 76 instituições.

Em dezembro, 40% dos leitos clínicos e de UTI estavam dedicados à Covid. Hoje são em torno de 60%.

Segundo Francisco Balestrin, presidente do SindHosp, embora as taxas de ocupação permaneçam semelhantes –em torno de 84% (UTI) e 65% (leitos clínicos)–, o espaço dedicado a pacientes com Covid aumentou bastante nas últimas semanas.

“Parece comentário de tia velha e chata, que está sempre dizendo que vai piorar, mas vai piorar. As pessoas não estão levando a sério as regras de ouro, como uso de máscara e evitar aglomerações.”

No Hospital Israelita Albert Einstein (SP), o número de internados por Covid-19 nesta terça (12) bateu recorde e foi o maior desde o primeiro caso diagnosticado pela instituição, em fevereiro de 2020: 140 doentes, contra 138 em abril. Em dezembro, o número de pacientes com Covid oscilava entre 108 e 110.

No Hospital Sírio-Libanês, a taxa de ocupação de leitos para Covid está em torno de 90%, com 174 pacientes internados, sendo 47 na UTI.

Segundo Fernando Ganem, diretor de governança clínica do Sírio-Libanês, também tem chamado atenção um aumento de 20% no movimento do pronto-socorro de pessoas jovens, assintomáticas, que se aglomeraram no final do ano e agora querem fazer o teste para ver se têm Covid.

“Muitas famílias estão exigindo que os seus jovens que foram para festas no final do ano façam os testes antes de voltar para suas casas”, diz.

Há um consenso entre todos os médicos do comitê de contingenciamento de que São Paulo deve chegar em um novo pico de contaminações e internações em uma semana. Para eles, isso é uma consequência direta das aglomerações das festas de fim de ano.

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