Ednéia Silva
O Café JC desta semana fala sobre a proposta do governo federal de cortar 30% dos recursos destinados ao Sistema S, composto por Sesc, Sesi, Senai e Senac e outras entidades, que gerou uma corrente de mobilização em todo o país para impedir a aprovação da medida.
Para falar sobre o assunto, o Café JC entrevista o empresário Assed Bittar Filho, diretor do Departamento de Ação Regional da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Depar/Fiesp) e João Luiz Zaine, gerente regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Rio Claro. A entrevista foi realizada pela jornalista Ednéia Silva. As fotos são de Sidney Navas.
Jornal Cidade – Como o Ciesp recebeu o anúncio sobre o corte de verba destinada ao Sistema S?
Assed Bittar Filho – É deprimente o que esse governo está fazendo. Um governo que tem como lema pátria educadora, como pode tirar recursos do Sesi e do Senai que são modelos de gestão e de qualidade de ensino? As entidades já estão trabalhando com previsão de orçamento menor para 2016, mesmo sem o corte anunciado, por causa da queda na produção. A estimativa é de uma receita 20% menor, percentual que pode chegar aos 30%. Tirar mais 30% da arrecadação é querer matar as entidades. Em vez de mexer com coisa séria, o mais fácil seria cortar privilégios. A medida poderia devolver aos cofres públicos milhões de reais para serem investidos. Pôr gente incompetente para fazer gestão chega-se a uma situação crítica como está acontecendo agora.
João Luiz Zaine – Se somarmos os dois cortes, os 20% previstos mais os 30% propostos pelo governo, vamos ter uma redução de receita de 50%. Como as unidades poderão manter o trabalho de qualidade que vem realizando? O ensino Sesi atingiu com 20 anos de antecedência a meta do Brasil. O bom resultado tem feito muitos municípios aderirem ao sistema de ensino do Sesi.
JC – Como o corte de recursos pode afetar os serviços e atendimentos oferecidos pelas entidades do Sistema S?
Assed – A gestão Sesi/Senai é competente e austera. Em função da queda na arrecadação a receita já vai cair 20%. Se tirar mais 30% não tem como manter o volume de atendimento e formação nas duas unidades.
Zaine – A proposta de cortes nos repasses do Sistema S, em estudo pelo governo federal, pode comprometer o atendimento a 1,2 milhão de alunos do ensino profissional do Senai e 1,5 milhão de trabalhadores pelo Sesi, nos programas de educação, saúde e segurança do trabalho e qualidade de vida.
JC – Que medidas o Ciesp pretende tomar caso o corte de 30% nos repasses ao Sistema S seja confirmado?
Assed – O presidente da Fiesp e do Ciesp, Paulo Skaf, lançou a campanha “Não Vou Pagar o pato” que já é uma estratégia de ação contra qualquer tipo de aumento da carga tributária e outras medidas do governo. Nós vamos para a briga. O único jeito que vemos é fazer pressão em Brasília. Mas acredito que a pressão maior tinha que vir da classe trabalhadora, que será a mais prejudicada, e deveria estar mais revoltada. Se ela insurgir contra a medida ela não será aprovada.
Zaine – A Câmara Municipal de Rio Claro aprovou uma moção de repúdio à proposta de corte. A estratégia tem sido adotada pelos Legislativos de outros municípios. O Parlamento Regional e o Parlamento Jovem também já aprovaram moção de repúdio ao projeto. A posição da Fiesp e do Ciesp é ir para a briga, de confronto mesmo contra a medida.
JC – Vocês destacaram o modelo de gestão do Sesi/Senai e a qualidade do ensino. De que forma isso beneficia quem estuda nessas unidades?
Assed – O Sesi oferece uma formação cidadã e o modelo de ensino é referência em qualquer lugar. O aluno inicia os estudos no Sesi e complementa no Senai. Temos exemplos de vários executivos que se formaram no Sesi/Senai como o Renato Cerri que hoje trabalha na Whirlpool. Os alunos que se formam no sistema saem na frente de muitos estudantes porque frequentam escolas que oferecem vivência prática, além da formação.
Zaine – O Sesi e o Senai são para os filhos dos trabalhadores. Ensino de qualidade e gratuito que proporciona uma formação de qualidade ao filho do trabalhador que pode competir em posição de igualdade com quem estuda nas melhores escolas. Quem estuda no Sesi recebe formação ampla, acadêmica, cultural e esportiva, além de ter a oportunidade de ter a formação técnica do Senai. Com essa formação, a chance do jovem ir por caminhos errados é mínima.
JC – Como vocês avaliam a situação do país?
Assed – Nós só vamos voltar a crescer se tivermos um governo de coalizão, quando as forças e as lideranças políticas se conscientizarem que o país caminha para a catástrofe e que depende delas parar de olhar para o próprio umbigo e criar um governo de coalizão. Dentro dos ministérios é preciso ter gente idônea e competente. Se José Serra e outros nomes ocupassem o Ministério da Fazenda o país voltaria rapidamente aos trilhos. Quando Itamar Franco assumiu a presidência criou o Plano Real que acabou com a inflação no Brasil. E isso só deu certo porque teve um time de gente competente, é o que temos que ter agora. O país precisa de reformas, mas deveria começar pela política. Não tem como administrar essa enorme quantidade de partidos porque as coligações acontecem e depois o governo tem que atender e dividir o bolo.
Zaine – O país precisa voltar a funcionar. Os poderes executivos e legislativos nacionais precisam voltar a se entender para que o país volte a sua normalidade. É necessário que se estabeleça um pacto político-social.