Flagrado com dinheiro na cueca, Chico Rodrigues reassume mandato no Senado após fim de licença

RENATO MACHADO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O senador Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado com dinheiro em sua cueca, reassumiu o seu mantado parlamentar nesta quinta-feira (18), após mais de quatro meses afastado.
Ele pediu licença para interesses pessoais, de 121 dias, após ter sido flagrado com maços de notas durante operação da Polícia Federal, em Boa Vista, em outubro do ano passado. O senador é suspeito de desviar recursos destinados para o enfrentamento à pandemia do novo coronavírus –Rodrigues nega.


Na quarta-feira (17), o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso havia autorizado o retorno do parlamentar a suas atividades, com o término da licença, mas determinou seu afastamento de comissões que tratem do enfrentamento à Covid-19.


Aliados do senador defendiam um novo afastamento, para evitar um início tumultuado de gestão para o novo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Os dois são correligionários.


Rodrigues também era vice-líder do governo Bolsonaro no Senado, quando foi flagrado com o dinheiro.


O parlamentar encaminhou um documento à presidência do Senado anunciando seu retorno, no qual afirma que passou por um período de “enorme padecimento pessoal, familiar e político”.

Rodrigues acrescenta que foi vítima de “escárnio” e “veleidades” e que não conseguiu até o momento se defender das imputações “brutais e kafkanianas” contra ele. Afirma que chegou a tomar medicamentos para se recuperar.


“Tomo a iniciativa de, humilde e respeitosamente, prestar alguns esclarecimentos fundamentais neste momento, visto que as circunstâncias terríveis que assombraram a minha vida me impediram inclusive de poder sequer me defender das brutais e kafkanianas imputações feitas contra mim, numa avalanche do destino que me privou de qualquer condição mínima de reagir e de me contrapor”, afirmou.


“Foram meses de condoída e solitária prosternação, em que encarei o escárnio, veleidades e, mais do que nunca, encontrei-me com meu eu mais profundo.”


O parlamentar se defende das acusações, afirmando que nunca teve máculas em sua carreira política. E afirma que entrou em pânico com policiais federais em sua residência, chegando a levantar dúvidas sobre as intenções da operação de busca e apreensão.


Rodrigues justifica seus atos –sem mencionar diretamente a tentativa de esconder dinheiro na cueca– por conta do pânico provocado pela situação.
“Por aquele momento de desespero, quero pedir desculpas a todos se não consegui manter o comportamento de equilíbrio mais adequado. Poderia ter tido uma reação psicológica melhor? Certamente. Poderia ter lidado com a sensação de pânico, apesar de minha idade e condição de saúde, de forma mais equilibrada? Sem dúvida nenhuma”, afirmou.


“Posso ser criticado por diversos motivos, mas o que é fundamental, do ponto de vista do interesse público e da sociedade, é que não cometi nenhum ato ilícito, nenhuma ação desabonadora, nenhuma prática ilegal. É isso que me fez e me faz sentir tranquilidade no fundo de minha alma, apesar de toda a humilhação pública que enfrentei (e que em si mesma já é uma punição, severa, antes mesmo de ser julgado e, tenho certeza, inocentado)”, completa.


O senador afirmou que os recursos encontrados durante a operação da PF seriam destinados para o pagamento de funcionários das empresas da família. E que, por conta da tensão do momento, cometeu os atos que ganharam grande repercussão.


“Posso ter cometido atos que, vistos de fora do prisma daquele lugar, naquele momento, com o medo e a responsabilidade de ter de assegurar os recursos destinados ao pagamento dos funcionários de empresa de minha família, podem ser rotulados como ridículos ou lamentáveis.”


“Os recursos encontrados comigo e que num ato de desespero e desequilíbrio momentâneo, cuja autocrítica hoje é fácil de realizar, mas na aflição e surpresa do acontecimento foi um impulso de autoproteção, constituem valores totalmente compatíveis com o meu patrimônio e, mais importante, estão devidamente declarados em meu imposto de renda. Portanto, são recursos lícitos, legais, oficiais e de origem declarada”, completa.


Por fim, o senador afirma que não poderia ter se beneficiado dos recursos das emendas para proveito próprio, alegando que elas não teriam sido liberadas.


“Ou seja, como falar em ‘desvio de recursos de emendas’ que não foram pagas ou gastas? Encaminho também, em apenso, outros documentos comprobatórios de minha conduta que julgo pertinentes”, conclui.
Rodrigues havia entrado em licença para interesses pessoais, aprovada pelo plenário do Senado. Como a licença era de 120 dias, seu suplente imediato deveria ter sido convocado.


No entanto, trata-se do filho do próprio senador, Pedro Arthur Rodrigues. Lideranças partidárias defendiam que a convocação poderia aumentar a crise, por isso o suplente nunca foi chamado. Ao longo de mais de quatro meses, portanto, o estado de Roraima permaneceu com apenas dois senadores.


Durante a licença, o parlamentar não recebeu salários e nem pode usufruir do seu gabinete parlamentar. Por outro lado, usufruiu de plano de saúde e manteve direito ao imóvel funcional.

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