Fundador da rede Ricardo Eletro é preso em SP por sonegação fiscal de R$ 390 mi

IVAN MARTÍNEZ-VARGAS – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O empresário Ricardo Nunes, fundador e ex-controlador da Máquina de Vendas, dona da rede Ricardo Eletro, foi preso na manhã desta quinta-feira (8) em São Paulo em uma operação que investiga sonegação fiscal de R$ 387 milhões de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em Minas Gerais.

Apelidada de “Direto com o Dono”, a operação prendeu também Laura Nunes, filha do empresário, em Belo Horizonte.

Pedro Magalhães, que em seu perfil no LinkedIn afirma ser diretor financeiro da Ricardo Eletro, teve mandado de prisão decretado, mas não foi localizado em sua casa, em Santo André, e é considerado foragido. Questionada sobre o vínculo de Magalhães com a empresa, a Ricardo Eletro não se manifestou.

A força-tarefa investiga a sonegação de ICMS em Minas Gerais ao longo de cinco anos, entre 2014 e 2019, por empresas controladas nesse período por Ricardo Nunes. A operação foi comandada pelo Ministério Público de Minas Gerais, pela Secretaria da Fazenda mineira e pela polícia civil do estado.

A Ricardo Eletro, hoje em recuperação extra judicial, e outras companhias ligadas a Nunes, recolhiam o ICMS embutido no preço dos produtos, mas não repassava ao Estado, segundo investigadores.

A Justiça de Minas Gerais determinou também o sequestro de imóveis de Ricardo Nunes avaliados em aproximadamente R$ 60 milhões, para pagamento da dívida tributária.

Ao todo, a força-tarefa da operação “Direto com o Dono” cumpriu nesta quinta quatorze mandados de busca e apreensão em Belo Horizonte, Contagem (MG), Nova Lima (MG), São Paulo e Santo André.

Um segurança de uma das casas em que os policiais cumpriam mandado de prisão foi detido por tentar impedir a entrada dos agentes, segundo o governo mineiro.

O Ministério Público de Minas Gerais diz que a investigação ganhou força após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), de novembro de 2019, “que definiu como crime a apropriação de ICMS cobrado de consumidores em geral e não repassados ao Estado”.

Em 2011, Ricardo Nunes já havia sido condenado pela Justiça Federal a três anos e quatro meses de prisão pelo crime de corrupção ativa por ter pago propina em 2008 a um auditor fiscal da Receita Federal para que a Ricardo Eletro não fosse autuada por sonegação de impostos em Minas Gerais.

O esquema envolvia a contabilização de vendas por valores inferiores ao cobrado dos consumidores.

Procurada, a Ricardo Eletro afirma que Nunes e seus familiares deixaram de ser acionistas da Máquina de Vendas no ano passado. O controle da empresa foi assumido, em 2018, pelo fundo Starboard.

“A Ricardo Eletro pertence a um fundo de investimento em participação, que vem trabalhando para superar as crises financeiras que assolam a companhia desde 2017, sendo inclusive objeto de recuperação extrajudicial devidamente homologada perante a Justiça, em 2019”, diz a empresa em nota.

Segundo a Ricardo Eletro, a operação desta quinta “faz parte de processos anteriores a gestão atual da companhia e dizem respeito a supostos atos praticados por Ricardo Nunes e familiares” que não teriam ligação com a companhia.

“Em relação à dívida com o Estado de MG, a Ricardo Eletro reconhece parcialmente as dívidas e, antes da pandemia, estava em discussão avançada com o Estado para pagamento dos tributos passados”, afima a empresa.

A reportagem não conseguiu localizar as defesas do empresário Ricardo Nunes, de sua filha Laura Nunes e do executivo Pedro Magalhães.

Redação JC: