NATÁLIA CANCIAN – BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O governo de São Paulo pediu R$ 1,9 bilhão ao Ministério da Saúde para tentar dobrar o número de doses inicialmente previstas da vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa chinesa Sinovac, de 60 milhões para 120 milhões.
Segundo o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, o valor serviria para finalizar estudos clínicos, reformar a fábrica de vacinas da instituição e ampliar o número previsto de doses a serem ofertadas.
Inicialmente, o acordo com a empresa Sinovac prevê 60 milhões de doses até o primeiro trimestre do ano que vem, mas o objetivo é ter mais 60 milhões de doses até o fim de 2021.
O pedido de apoio com recursos foi feito em uma reunião nesta quarta-feira (26) com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
Segundo Gorinchteyn, o valor R$ 1,9 bilhão é inicial, mas ainda pode aumentar.
“Inicialmente, esse é o aporte para que possamos dar seguimento à ampliação da fábrica. É o mesmo aporte de recursos que a própria Fiocruz acabou recebendo para iniciar a ampliação da sua fábrica, o que não quer dizer que esse dinheiro cesse, e talvez até precisemos mais, porque precisamos não só de estrutura física, mas de equipamentos que terão que ser alocados”, afirmou.
Ele definiu a reunião como “amistosa” e disse acreditar que o valor deve ser liberado.
“Nesse momento, precisamos de vacinas [contra a Covid-19], não de uma ou duas, mas do maior número de vacinas possíveis”, afirmou, em referência a outras vacinas em estudos no país.
O ministério ainda não respondeu oficialmente sobre o pedido. Caso o valor não seja liberado, a produção será limitada em 60 milhões, diz o secretário.
“Se não tivermos esse investimento, teremos sim que limitar a produção de vacinas. Teremos 45 milhões de doses agora para 2020 e mais 15 milhões de doses até o primeiro trimestre.”
“Mas não temos dúvida de que existe um aceno importante do ministro em preservar vidas”, completou Gorinchteyn.
O presidente Jair Bolsonaro, no entanto, já ironizou a vacina chinesa.
“Se fala muito da vacina da Covid-19. Nós entramos naquele consórcio lá de Oxford. Pelo que tudo indica, vai dar certo e 100 milhões de unidades chegarão para nós. Não é daquele outro país não, tá ok, pessoal? É de Oxford aí”, afirmou Bolsonaro no fim de julho.
Questionada, a equipe que participou do encontro nesta quarta disse não haver possibilidade de interferência política.
“Não vejo a menor possibilidade de o governo brasileiro não entrar na iniciativa do Butantan”, disse o chefe do escritório de representação paulista em Brasília, Antonio Imbassahy, segundo quem o ministro demonstrou interesse pela vacina.
A intenção de pedir R$ 1,9 bilhão extras para aumentar a produção de vacinas foi adiantada pelo jornal Folha de S.Paulo.
Atualmente, a fábrica do Instituto Butantan tem capacidade para produzir 120 milhões de doses de vacinas por ano.
Com a ampliação, a ideia é que aumentar a capacidade de produção gradativamente, chegando a até 400 milhões de doses em cerca de três a quatro anos, afirma o diretor do Butantan, Dimas Covas.
Desse total, 120 milhões seriam inicialmente para a Coronavac, e o restante para outras vacinas. No caso da vacina da gripe, a produção poderia ser aumentada para 160 milhões de doses.
“Isso colocará o Butantan como sendo o segundo ou terceiro maior produtor de vacinas do hemisfério Sul”, diz Covas.
Questionado sobre a garantia de apoio do governo federal à vacina contra a Covid-19, Covas afirma que o ministro se comprometeu com a aquisição das doses caso haja eficácia.
Atualmente, a vacina Coronavac está na terceira e final fase de testes. Os ensaios clínicos acontecem em seis estados, com 9.000 voluntários em 12 centros de pesquisa.
Segundo Gorinchteyn, a vacina apresentou bons resultados nas primeiras fases de estudos.
“Na primeira fase, foram 92,4% de proteção, aumentando na segunda dose para 97%, mostrando que é uma vacina que se propõe a proteger e imunizar”, disse.
O número de efeitos adversos também foi baixo. “A maioria foi relacionado a dor no local de aplicação”, disse.