No Dia do Palhaço, comemorado na última sexta-feira (10), a ‘Reportagem da Semana’ escolheu mostrar como é o trabalho de um grupo muito especial, que faz as pessoas rirem e terem alegria em momentos difíceis, e num cenário improvável: a cama de um hospital.
Em 2015, uma trupe de palhaços iniciava um projeto que leva até hoje alegria e amor aos hospitais de Rio Claro. Com roupas coloridas, rostos pintados, acessórios nas mãos e acompanhados de muita animação, os 20 integrantes da USI (Unidade de Sorrisos Intensivos) vem há seis anos alegrando os corações de pacientes e familiares de três hospitais da cidade.
Mais que divertimento, o encontro é um ato de amor ao próximo. Afinal, a cada porta que se abre, os palhaços levam mais diversão e apoio a quem, por algum motivo, precisa de cuidados médicos.
Inspirados pelo consagrado grupo ‘Doutores da Alegria’, que desde 1991 trabalha a arte da palhaçaria em hospitais públicos no Brasil, os rio-clarenses contam, ainda, com apoio dos ‘Remédicos do Riso’, de Jaú.
Na ‘Cidade Azul’, antes da pandemia que assolou o país, os integrantes da USI frequentavam semanalmente os hospitais da Unimed, da Santa Casa de Misericórdia e do São Rafael. Com o isolamento social, o projeto sofreu uma pausa. No entanto, eles já se preparam para voltar com as visitas.
“Cada integrante cria o seu clown (termo em inglês que significa palhaço) dentro de uma coerência e os padrões da USI. Inclusive, quando uma pessoa inicia o trabalho, uma das oficinas é sobre a caracterização e essa busca do seu clown interior. Normalmente, é algo que te remete ao passado ou alguma circunstância vivida. O trabalho, na prática, consiste em visitas, onde ao chegar no hospital, fazemos uma oração, pedimos permissão a Deus e nos colocamos como seus instrumentos do bem”, comentou a coordenadora Rosimeire Teresin, de 53 anos.
Para ela, ser um voluntário é dispor de tempo, de forma responsável e com muito comprometimento, para desenvolver qualquer atividade em benefício do próximo, sem esperar retorno. “É claro que não é possível resolver todos os problemas de todas as pessoas, mas sentar e ouvir uma pessoa idosa e enferma, ou ainda provocar o sorriso em uma criança, sem dúvida, faz a diferença”, explicou.
Para a coordenadora Ariane Louise Corso, de 45 anos, se trata de um trabalho representativo, pois considerando o mundo atual com tantas coisas ruins, ganância, onde a maioria das pessoas pensam somente nos valores materiais e onde quase nada é de coração, ver nos olhos dos semelhantes um pouco de alegria em um momento de tanta fragilidade faz com que cada integrante se sinta muito importante aos olhos de Deus.
“A USI faz com que seus integrantes se sintam diferentes, pois ao dedicarem algumas horas de suas vidas para esse ato de amor percebe-se um crescimento no ponto de vista pessoal e humano na vida de cada um. A coordenação e o time se sentem muito felizes e recompensados por poderem praticar esse ato de amor para a sociedade”, citou.
‘Cada porta que se abre é uma surpresa’
Caio Henrique Scaggion, de 35 anos, participa do projeto há três anos. O empresário que se transforma no palhaço Doutor Tibúrcio, nome escolhido por sua filha Alice, de 6 anos, disse ao JC que sentiu no coração para participar após ficar internado cinco meses no Hospital Boldrini, em Campinas.
“Tenho uma doença autoimune. Me lembro que toda quinta-feira eles iam e eu ficava ansioso pela visita, que me animava. Prometi para mim mesmo que quando eu tivesse alta ia procurar um grupo para levar alegria para essas pessoas. Vim para Rio Claro e vi que a USI estava abrindo uma seleção. Fiz a entrevista, as preparações e passei e agora sigo”, comentou.
Scaggion acredita que as pessoas precisam de cuidados, mas também de bom humor, ou apenas um sorriso. “Não consigo explicar o que é isso. Cada porta é uma surpresa. A gente entra de um jeito e sai de outro. Fazer a diferença na vida de uma pessoa não tem explicação. Tem pessoas que moram no hospital e que esperam a gente. É muito gratificante”, finalizou.
A funcionária pública Josimeire Moura da Silva, de 51 anos, também entrou para a Unidade de Sorrisos Intensivos há três anos. Ela conheceu o projeto quando acompanhava o pai entre idas e vindas no hospital.
“Esse grupo fez toda a diferença na minha vida. Meu pai infelizmente teve um câncer, ficou internado várias vezes e eles iam fazer a visita. A expressão dele quando os integrantes entravam no quarto, me marcou muito. Isso fez eu acreditar que eu precisava continuar fazendo a diferença na vida das pessoas. Me sinto muito grata”
Sobre ajudar o próximo, ela diz: “É uma alegria, uma sensação de paz, realização. Eu saio muito mais feliz do que quando eu entrei”.
Alegria que cura
Pesquisas científicas confirmam que o riso funciona como estimulante do cérebro na produção de beta-endorfinas, substâncias que têm importante potencial analgésico, contribuindo para o alívio ou eliminação da dor, melhorando a circulação, a pressão arterial, as defesas orgânicas contra infecções e alergias, e relaxando os vasos sanguíneos. Estudo feito pelo Centro Médico da Universidade de Maryland (EUA) mostrou que rir protege contra infartos e doenças coronárias.