Maurício Businari – Folhapress
Uma idosa de 79 anos foi mordida por um tubarão em Ubatuba (SP). Este é o segundo caso de ataque confirmado na cidade do litoral paulista neste mês.
Um estudo realizado pelo biólogo e especialista em tubarões Otto Bismarck Fazzano Gadig, professor doutor da Unesp (Universidade Estadual Paulista), confirmou que a mulher, que terá a identidade preservada, foi mordida por um tubarão de médio ou grande porte.
Ela se banhava na Praia Grande, em Ubatuba, no domingo (14). Pela análise da mordedura, o animal era possivelmente um tubarão-tigre ou cabeça-chata, comuns no litoral do Brasil.
O primeiro caso registrado foi de um turista francês, no início de novembro, que foi atacado por um tubarão de pequeno ou médio porte, resultando num ferimento na perna direita.
Antes desse caso, o último ataque por tubarões ocorrido na cidade foi há 30 anos, envolvendo uma menina que acompanhava o pai numa pescaria.
A idosa foi ferida na perna esquerda e, segundo testemunhas, teve que ser levada às pressas para a Santa Casa da cidade. A ferida apresentava ao menos cinco agentes perfurantes, que correspondem a dentes largos e com borda serrilhada, em pequeno número, grande tamanho e com espaçamento importante entre suas extremidades, maior do que a altura da coroa dos dentes.
A lesão, segundo o especialista, resultou na exposição da musculatura superficial da panturrilha e microlesões em alguns dos vasos superficiais.
“A lesão é resultante de uma ação mecânica ativa de agente externo animado (animal marinho em movimento), e não de ação passiva de agente externo inanimado (choque involuntário com rocha, vidro, pedaço de madeira, prancha de surfe, metal, demais artefatos humanos, resíduos sólidos ou similares)”, informou Gadig.
“A ação perfurante e cortante não foi acompanhada de grande pressão. Isso é indicado pelo fato de que a impressão da mandíbula é claramente incompleta e o tecido atingido é superficial.”
Na reconstituição do ataque, realizada através da análise detalhada de relatos e imagens, o professor acredita que o animal abordou a idosa pelo lado esquerdo, deslocando-se da parta mais funda do mar para o raso.
O movimento que resultou no ferimento indica o primeiro contato com a parte superior da mandíbula do animal e o movimento brusco de puxar no sentido oposto, provocando o levantamento da pele do membro atingido de dentro para fora.
Além disso, tanto os pontos de contato de dentes evidenciados em trecho do contorno da lesão, como as microlesões nos vasos sanguíneos da musculatura superficial da panturrilha, exibem o mesmo sentido e direção, reforçando a ação mecânica ativa unidirecional.
“Com base nesse conjunto de observações preliminares acima expostas, podemos concluir que o agente causador do trauma foi uma espécie de tubarão de médio a grande porte, com cabeça arredondada, focinho curto, boca proporcionalmente larga, dentes largos, serrilhados e moderadamente recurvados. Características que remetem exclusivamente a duas espécies. O tubarão-tigre (Galeocerdo Cuvier) e cabeça-chata (Carcharhinus Lucas), habitantes da costa brasileira”.
Esses animais são, de acordo com o especialista, predadores costeiros de grande tamanho quando adultos e se alimentam basicamente de peixes de médio porte. Eles se aproximam das regiões costeiras para cumprir suas funções e processos naturais, como alimentação e reprodução.
Por meio de nota, o Instituto Argonauta para a Conservação Costeira e Marítima informou que o número de incidentes não provocados em todo o mundo cresce a um ritmo constante desde 1900, sendo que, a cada década, o número registrado é maior do que na anterior.
Ainda segundo o instituto, este fato tem a ver com o maior número de humanos habitando o planeta e frequentando as praias. Além de que esse comportamento pode estar sendo influenciado pelas mudanças climáticas.
“Nos últimos anos, temos notado uma presença muito maior de baleias em nossa região do que em anos anteriores, talvez relacionada com a disponibilidade de alimento. Com os tubarões pode estar ocorrendo o mesmo, embora nesta época do ano seja um padrão o aparecimento de algumas espécies mais próximas em busca de alimento ou para darem à luz filhotes. Isto, associado ao aumento na frequência de pessoas no litoral durante esta época do ano, contribui para aumentar as chances deste tipo de encontro”, explicou o presidente do instituto e diretor do Aquário de Ubatuba, Hugo Gallo Neto.
A entidade agora está solicitando aos agentes públicos que atuam no resgate emergencial e atendimento hospitalar das vítimas, que registrem por fotos e vídeos o local das lesões, bem como forneçam dados para contato e autorização das vítimas, para facilitar o trabalho dos pesquisadores.
Segundo o instituto, ainda é cedo para conclusões a respeito do comportamento dos tubarões nesses ataques, mas os técnicos acreditam que as pessoas não precisam deixar de frequentar o mar. Porém, podem tomar algumas medidas de precaução, como se manter em grupos, não avançarem para águas profundas ou turvas. Uso de joias brilhantes e nado quando estiver com sangramento de um ferimento também devem ser evitados.