Medicamento contra o câncer é ilegal

Laura Tesseti

Professor aposentado Gilberto Orivaldo Chierice explica que a substância está sendo analisada há muitos anos; Vigilância Sanitária informa que é preciso que o medicamento seja registrado

A paralisação no fornecimento de uma substância descoberta após 20 anos de estudos, que estaria apresentando resultados satisfatórios para a cura contra o câncer, está causando transtornos para a Universidade de São Paulo e também para quem acredita que a cápsula seja a solução para a doença.

Gilberto Orivaldo Chierice, professor aposentado da USP, após muitos anos de estudos, conseguiu desenvolver a fosfoetanolamina sintética, que imita uma substância presente no organismo e sinaliza células cancerosas para que o sistema imunológico realize o combate.

O medicamento estava sendo distribuído gratuitamente na universidade em São Carlos, mas uma portaria da própria instituição de ensino proibiu a confecção e qualquer tipo de distribuição da substância. A decisão foi tomada devido a não haver registro dos procedimentos e da legalização do medicamento junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Para o professor aposentado, ele conseguiu desenvolver uma substância que pode curar o câncer, mesmo um tumor não sendo sempre igual ao outro.

Durante entrevistas divulgadas, Chierice explicou que, com a ingestão das cápsulas, as células cancerosas são mortas e o tumor desaparece entre seis e oito meses de tratamento, claro que sempre pensando que cada caso é um caso e que o período pode variar de acordo com o sistema imunológico de cada paciente.

Na internet é possível encontrar relatos de pessoas que usaram a substância por um tempo e contam que o tumor “secou”.

REGULARIZAÇÃO

Para a farmacêutica da Vigilância Sanitária de Rio Claro, Silvana Silvério Baldin, é preciso tomar muito cuidado com o que se espera de um medicamento, pois a esperança de pacientes em situações críticas pode se acabar, caso a melhora não venha conforme prometido pelo uso da substância.

“A fosfoetanolamina não possui registro na Anvisa, então já é algo bastante preocupante. Para ser comercializada é necessário que o registro seja feito, mas antes disso a substância que é candidata a se tornar um medicamento precisa passar por várias etapas”, explica.

Todo medicamento é preciso ser testado em células, caso tenha uma posição positiva, a partir daí começam os testes em humanos.

“Pelo que pude acompanhar do assunto, os pesquisadores não solicitaram esse registro à Agência Nacional de Vigilância Sanitária”, fala a farmacêutica.

Existem três fases para que uma substância seja regulamentada como medicamento. “Na primeira fase é analisada a toxidade, se será prejudicial para a saúde, etc. Já na segunda um número maior de pessoas recebe as doses da droga e é observada a eficácia dela contra a doença. Na terceira e última, o número de pacientes que recebem a substância aumenta e geralmente são testados em pessoas de diversos países”, aponta Baldin.

Além disso, é necessário que uma indústria farmacêutica esteja interessada em receber esse relatório, após todos os testes serem realizados. O CEP – Comite de Ética e também o CONEP – Comissão de Ética em Pesquisa precisam aprovar os procedimentos usados.

“São necessários muitos cuidados quando falamos em cura absoluta de uma doença, pois as pessoas que já receberam diagnósticos negativos de seus médicos tentam encontrar qualquer esperança para se apegar, uma planta, um fruto, então temos que ter muita responsabilidade diante do que fazemos e divulgamos”, diz Silvana.

Redação JC: