Há cerca de três anos as ruas de Rio Claro, mais especificamente do Distrito Industrial, receberam mais um morador. Se trata de Seu Hélio, de 60 anos, que sempre teve vida sofrida, mas lutava para se manter. Recentemente, ele perdeu todo o pouco que tinha e foi parar nas ruas, agora tendo que lutar para sobreviver.
“Vim pra Rio Claro com 14 anos de idade. Meu pai viaja muito e acabamos parando por aqui. Com o tempo meu pai morreu, minha irmã morreu também há pouco tempo. Fiquei só eu. Antes disso eu tive uma senhora que era como se fosse minha mãe. Eu cuidava dela e ela de mim, me deu casa, me deu tudo. Ela morreu, os filhos ficaram com a casa e eu fiquei sem nada”, conta Seu Hélio.
Na semana passada, a situação de seu Hélio se agravou ainda mais, quando equipes da Secretaria de Desenvolvimento Social e da Guarda Civil Municipal, através de denúncias, foram até o local onde ele vivia e o abordaram.
Durante a abordagem, Seu Hélio foi orientado a buscar um abrigo, mas ele se recusou. Com isso, seus pertences foram levados do local, o que causou indignação em alguns vizinhos do local e tristeza no morador que vive em situação de rua.
“Não sei se eles estão certos ou errados, mas acho que deviam ter explicado melhor pra mim, me dado um tempo para tirar minhas coisas daquele espaço, não fazerem como fizeram, chamar tudo isso de Guarda para mim. Eu não sou ladrão, não sou criminoso. Pra quê aquilo ali? Queriam que eu colocasse as mãos pra cima, ficasse encostado no muro, levar meus documentos. Levaram minha barraca, minhas roupas e mandaram eu sair fora dali. Não deixaram nada, só a roupa do corpo rasgada. Não me deixaram pegar nada de volta. Eu tinha recebido muitas doações e eu perdi tudo, levaram até a comida do meu cachorro. Eles me falaram que eu tinha que ir internado por seis meses para receber uma ajuda de R$450, mas depois desse tempo eu iria para onde? Voltar para a rua de novo, então não quero. Aqui eu tenho minha liberdade de conversar com um, com outro. Tenho meu carrinho de reciclagem para trabalhar e sobreviver. Eu só quero um lugar para ficar e continuar minha vida”, relatou o morador em situação de rua.
Após essa situação, Seu Hélio seguiu pela região do Distrito Industrial, onde tem recebido a ajuda de muitas pessoas. Mas o que ele quer mesmo daqui para frente, é um lugar para poder continuar na sua luta para sobreviver diante das dificuldades.
Procurada pela reportagem, a Prefeitura de Rio Claro se manifestou sobre a situação envolvendo Seu Helio e garantiu que não houve truculência e grosseria nas abordagens realizadas: “A prefeitura está fazendo várias tentativas de acolher esse senhor, que está vivendo em condições impróprias. Nesta quinta-feira (3), nova tentativa de dar acolhimento a esse morador de rua foi feita pelo município. A primeira foi feita na semana passada, a partir de denúncia de moradores daquela região. A equipe de abordagem da Secretaria do Desenvolvimento Social e a Guarda Civil constataram ocupação irregular de terreno. O senhor em situação de rua vivia em barraco com ratos e larvas (“bigatos”), além de lixo e entulho. O material foi removido e a prefeitura ofereceu abrigo, atendimento em comunidade terapêutica e encaminhamento ao cadastro único. O senhor recusou todas as ofertas feitas pela prefeitura e, embora tenha demonstrado insatisfação com a atenção recebida, não houve registro de maiores problemas. A Secretaria do Desenvolvimento Social informa que uma das novas tentativas de ajudar aquele senhor é incluí-lo no Benefício de Prestação Continuada (BPC), para que tenha alguma renda, e também verificando novos trâmites para que ele seja alocado em abrigo”.