‘Não vou dizer que sou excelente presidente’, diz Bolsonaro, sob pressão de vacina e de ofensiva pró-impeachment

Foto: Carolina Antunes/PR

RICARDO DELLA COLETTA – BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Em meio a críticas sobre a atuação do governo federal na pandemia da Covid-19 e após o governador João Doria (PSDB) ter protagonizado o início da vacinação no Brasil, Jair Bolsonaro afirmou nesta terça-feira (19) não poder dizer que é um “excelente presidente”, mas fez uma contraposição com administrações anteriores.

“Não vou dizer que sou um excelente presidente, mas tem muita gente querendo voltar o que eram os anteriores, reparou? É impressionante, estão com saudades de uma […]”, disse o presidente, em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.

A fala do presidente foi transmitida por um site bolsonarista e ocorre também em meio a uma ofensiva de campanhas de opositores a favor do impeachment de Bolsonaro, impulsionadas pelo colapso da saúde em Manaus e pela reação negativa em relação ao início da vacinação no país.

Em meio ao desgaste do governo, Bolsonaro acenou para sua base ideológica na segunda (18) dizendo que “quem decide se um povo vai viver na democracia ou na ditadura são as suas Forças Armadas”.

Nesta terça, na breve interação com apoiadores, Bolsonaro também disse estar “cumprindo missão” à frente do governo.

O presidente está sob forte pressão com o avanço do coronavírus no Brasil e a eclosão, na semana passada, de uma situação crítica em Manaus após o esgotamento dos estoques de oxigênio.

Bolsonaro ainda sofreu uma derrota política no fim de semana, após ver fracassar a tentativa do governo federal de importar um lote de 2 milhões de vacinas da Oxford/AstraZeneca na Índia. Com isso, o pontapé da imunização no Brasil foi protagonizada por Doria, visto como adversário político pelo Palácio do Planalto e provável adversário em 2022.

Além de Doria ter protagonizado o ato simbólico de vacinação da primeira brasileira, o Ministério da Saúde só tem no momento doses da Coronavac para distribuir aos estados.

Desenvolvida por uma farmacêutica chinesa em parceria com o Instituto Butantan, a Coronavac esteve no centro da chamada “guerra da vacina” entre Doria e Bolsonaro.

Bolsonaro já se referiu ao imunizante como “vacina chinesa” e prometeu que ela não seria comprada pelo Ministério da Saúde. A pasta acabou firmando contrato para a compra de 100 milhões de doses da vacina do Butantan.

Nos últimos dias, movimentos como o Vem Pra Rua e o MBL (Movimento Brasil Livre), que encabeçaram as manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), reforçaram pressão pela saída de Bolsonaro.

Nomes da política à direita e à esquerda, como João Amoêdo (Novo) e Fernando Haddad (PT), também aderiram à campanha pelo impeachment nas redes sociais.

Ainda nesta terça (19), o vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, comentou declarações de Bolsonaro do dia anterior. Na ocasião, o presidente disse que “quem decide se um povo vai viver na democracia ou na ditadura são as suas Forças Armadas”.

Mourão afirmou que as forças armadas no Brasil estão totalmente despolitizadas e “não comprometidas com nenhum projeto ideológico.”
“O presidente [Bolsonaro] já tocou nesse assunto várias vezes, é óbvio. Se você tiver forças armadas indisciplinadas ou comprometidas com projetos ideológicos, a democracia fica comprometida. Não é o caso aqui no Brasil, obviamente. Mas nós temos o nosso vizinho aí, a Venezuela, que vive uma situação dessas”, disse.​

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