“O que é o Brasil não está no cinema”, diz o cineasta João Batista de Andrade

Lourenço Favari

Em visita a Rio Claro para as comemorações de 29 anos do cineclube Crec, o cineasta João Batista de Andrade falou com a equipe do JC sobre sua carreira, a relação com o movimento cineclubista e analisou a nova geração cinematográfica brasileira.

Aos 75 anos de idade e 52 de cinema, João Batista começou no cinema antes do golpe de 1964. “No começo era um misto de diretor e cineclubista. Fui fazer engenharia na USP e então descobri a política, a literatura e o cinema. E me apaixonei pelas três coisas, tanto que tinha um grupo em cada área”, disse o cineasta.

Cineasta João Batista de Andrade recebeu a equipe do JC

A definição pelo cinema aconteceu logo depois do golpe. “O golpe de 64 desmantelou tudo e eu embiquei a vida para o que eu achava mais viável, que era o cinema”, relembra ao destacar que neste período trabalhou na Cinemateca. Desde então o cineasta dirigiu 17 longas, além de ter trabalhado na TV durante anos.

LIBERDADE DE IMPRENSA

Exibido na última quarta-feira (7), no Centro Cultural Roberto Palmari, o filme “Liberdade de Imprensa” foi produzido em 1967 e já apresenta o tom que o cineasta adotaria por toda sua obra, de caráter social e político.

“Na época do lançamento o filme teve duas exibições, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro. Minha sorte é que ele foi visto pelos críticos José Carlos Avellar e Jean-Claude Bernardet”, enfatiza ao lembrar que em seguida o trabalho foi apreendido pela censura. Com uma proposta nova e temática social, o filme acabou recebendo o nome de cinema de intervenção.

“No início, minha atividade no cinema era como cineclubista e como diretor. Fazia programação e ao mesmo tempo filmava.”

CINEMA POLÍTICO

“Sempre fui preocupado em discutir os problemas sociais na minha obra para as pessoas poderem discutir o real e não a fantasia que a ditadura colocava”, explicou. Temas como grilagem, saúde, alimentação foram alguns dos adotados por João Batista ao longo de sua trajetória. “Eram os problemas urbanos que me interessavam”, completa.

CINECLUBISMO

De acordo com o cineasta, o movimento cineclubista encampou a distribuição de seus filmes. “O movimento utilizou muito os meus filmes nas exibições e ajudou a minha obra a ser difundida”, comemora. Importante destacar que, no evento em Rio Claro, o diretor recebeu homenagem por ter sido um grande apoiador do movimento cineclubista.

“Tanto no documentário como na ficção, faço cinema político, sobre os problemas urbanos.”

PRODUÇÃO ATUAL

João Batista vê com reservas o cinema produzido depois da abertura política. “É difícil analisar o cinema brasileiro. No final do processo de redemocratização eu sentia que meus alunos não queriam envolvimento político. E esse cinema não prosperou. Acho que não virou nada. Que filmes ficaram?”, diz.

Para ele, a sociedade ficou menos dinâmica, não tentou se reinventar e isso teve grande reflexo no cinema. “A grande questão é que o Brasil não está no cinema. Geralmente é a visão da classe média. É o que domina. Não estou dizendo que os filmes são ruins, mas que o conjunto não é revelador”, finaliza.

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