OUTUBRO DE 2009. Desde que a notícia de que o Rio de Janeiro receberia as Olimpíadas tomou a imprensa brasileira no dia 2 daquele mês, depois de vencer a concorrência com Madri, Tóquio e Chicago, o Brasil vem passando por momentos de euforia e decepção! Na ocasião, o então presidente Luiz Inácio da Silva enalteceu a conquista: “Os Jogos Olímpicos no Rio serão inesquecíveis, pois estarão cheios da magia e da paixão do Povo Brasileiro”.
Entretanto, ao que consta, não foi apenas de ‘magia e paixão’ que ficaram cheios os brasileiros! Passados oito anos e três dias daquela data ‘inesquecível’, a Polícia Federal prendeu no último dia 5 o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro [COB], Carlos Arthur Nuzman, e o diretor-geral do Comitê Organizador Rio/2016, Leonardo Gryner – ambos investigados por envolvimento em um suposto esquema de compra de votos no Comitê Olímpico Internacional [COI] para a escolha da Cidade Maravilhosa.
Não obstante os R$ 41,03 BILHÕES – dados atualizados em julho pela Autoridade de Governança do Legado Olímpico [Aglo] – gastos pelo Governo para a realização do evento esportivo e o legado oneroso abandonado pelas autoridades [haja vista que a todo tempo pipocam matérias nos meios de comunicação sobre os Elefantes Brancos], os atletas e a população em geral assiste agora a uma nefasta novela de corrupção que envolve políticos, dirigentes e organizadores!
Nesta edição da Quinta Nobre, o Caderno de Esportes traz a opinião de pessoas ligadas à Cidade Azul e que participaram dos Jogos/Rio 2016 acerca dos fatos recentes, confira:
Talisca Reis
pratica Taekwondo há vinte anos e figura entre as vinte melhores do Globo! Desde 2015, a atleta treina na Academia ProTeam e representa a Cidade Azul em inúmeras competições! Ao Caderno de Esportes, a lutadora – que foi reserva nos Jogos Rio/2016 – expôs que ficou chocada com as recentes revelações e enfatizou que o que faltou para que chegasse a titular foram investimento e a participação em competições internacionais com as quais somaria pontos no Ranking Mundial.
CE: Qual o sentimento que nutria acerca das Olimpíadas antes de saber dos casos de corrupção e o que tem agora diante dos fatos?
TR: Com relação ao evento, as melhores possíveis, pois sempre quis participar de uma Olimpíada e ainda mais em casa; já com relação ao ocorrido recentemente, um sentimento de vergonha, pois nós esportistas batalhamos todos os dias por um sonho e, quando menos esperamos, vem alguém roubar aquilo que poderia ajudar no desenvolvimento da prática esportiva.
CE: Quais as dificuldades que os atletas brasileiros na sua modalidade enfrentam e quais motivações fazem com que continuem buscando vaga nas Olimpíadas de Tóquio?
TR: A falta de patrocínio sempre foi a maior barreira, pois as viagens internacionais fazem com que a gente figure entre os melhores do Mundo. Entretanto, o que motiva seguir em busca da vaga é apenas o Sonho Maior de ser Campeã Olímpica.
CARMEN CAROLINA [TÉCNICA DA SELEÇÃO OLÍMPICA DE TAEKWONDO] – Acerca desse episódio, o que tenho a dizer é apenas uma palavra: vergonha! Vergonha por viver em um País no qual os governantes tiram proveito de tudo, esquecendo o princípio verdadeiro do Esporte que ensina valores, regras e disciplina. Ou seja, faz com que o praticante melhore a cada dia tanto como pessoa quanto como profissional. Infelizmente, os caras reprovaram neste quesito envergonhando o Brasil inteiro e uma geração de competidores que lutou e luta todos os dias para defender as cores da nossa bandeira. Estou indignada!
MARILAINE FERRANTI [COORDENADORA DA 8ª DELEGACIA OESTE E COORDENADORA ADJUNTA DE ARBITRAGEM E DIRETORA ADJUNTA DA FEDERAÇÃO PAULISTA DE JUDÔ, ATUOU COMO OFICIAL TÉCNICA DA ARTE MARCIAL] – Acho muito decepcionantes as atitudes dos dirigentes que pensam somente em benefícios próprios. Por já terem sido atletas deviam saber como é difícil o praticante atingir o alto rendimento e o quanto se precisa de pessoas que defendam os interesses e o desenvolvimento do Esporte. Atitudes como essa levam toda a população a desacreditar na máxima de que a prática esportiva ajuda na formação do caráter.
DANILO TREVISAN [ESTATÍSTICO PROFISSIONAL, ATUOU NA MESA DE ESTATÍSTICA NAS PARTIDAS DE BASQUETE] – Vejo esses problemas de corrupção no Esporte como um retrocesso para todo cidadão brasileiro e, mais grave, para todo esportista que, aliás, é quem mais sofre no decorrer do processo. Acredito, entretanto, que a revelação dos fatos seja algo inevitável para novamente voltarmos a crescer.
ENRIQUECIMENTO – Segundo o Ministério Público Federal [MPF], nos últimos anos Nuzman ampliou seu patrimônio em 457%!! Preso em sua casa no Alto Leblon, Zona Sul do Rio, o ex-jogador de vôlei não tem indicação clara de seus rendimentos e mantém parte de seu patrimônio [ao menos dezesseis quilos de ouro, metal que simboliza a excelência no Esporte] oculta na Suíça.
A OPERAÇÃO UNFAIR PLAY foi resultado do trabalho conjunto de cooperação internacional entre os órgãos do Brasil, da França, da Antígua e Barbuda, dos Estados Unidos e do Reino Unido. De acordo com o MPF, documentos e provas revelam que uma organização criminosa comandada pelo ex-governador Sérgio Cabral – que, na foto, aparece ao lado de Carlos Nuzman [presidente do COB], à direita, e Luiz Inácio [presidente do Brasil], Eduardo Paes [prefeito do Rio] e Orlando Silva [Ministro do Esporte], à esquerda – atuou na compra do voto do presidente da Federação Internacional de Atletismo [FIA], o senegalês Lamine Diack, por US$ 2 milhões.