O tempo que voa

O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

Jaime Leitão

O tempo tem uma dinâmica própria que está sempre nos surpreendendo, algumas vezes nos deixando completamente sem rumo.

Nos últimos dias, várias mortes aconteceram de pessoas que conhecemos, a distância, pelo trabalho desenvolvido em atividades variadas, outras, pelo contato próximo.

Fomos surpreendidos esta semana pelo falecimento da Sônia, mãe do meu ex-aluno e amigo, o cineasta premiado João Paulo Miranda Maria. Ela vivia a sua fase mais plena, escrevendo poesia e mantendo no Face uma página com o título: Poesias de Sônia Elisabete Miranda Maria. Mais uma vítima da Covid.

Um dos seus poemas tem como tema justamente esse tempo que escapa de nós: “Que coisa boa/ É rir à toa/ Contagiar uma pessoa/ E o sino que soa/ É o tempo que voa”.

E a alegria é a sua marca que está presente em fotos que ela postou entre os seus poemas.

Essa sua alegria contagiante não a impedia de refletir sobre a perda do seu marido, o José Maria, há quatro anos. Esse sentimento está presente no poema: “É triste ficar/ sem a sua presença./ É um vazio/ que atormenta a mente/ e dói no coração”.

Sônia estava vibrante, fazendo teatro, projetando um livro de poesias e uma participação no próximo filme do João Paulo.

O poema da Sônia que mais me tocou foi este: “De longe o ar sopra e traz o vento,/ Ele não para e segue adiante./ O vento em movimento/ dança pelo meu corpo/ e despenteia os meus cabelos/ erguendo minhas roupas./ Tampouco procuro./ Não é futuro,/ é o momento duradouro”.

É o momento da vida que queremos que dure para sempre, mas somos tomados pelo efêmero, esse tempo que voa e bate em nós incessantemente.

Esta semana perdemos também a grande atriz Eva Wilma. Eu a vi pela primeira vez na televisão, na TV Tupi, na série “Alô, Doçura”, contracenando com o seu primeiro marido, o ator John Herbert . No teatro, eu a vi, mais de uma década depois, em um dos seus papéis mais marcantes, na peça teatral “Esperando Godot”, de Samuel Beckett, obra-prima desse dramaturgo irlandês. Na peça Eva Wilma contracenou com Lilian Lemmertz, Lélia Abramo e Maria Yuma.

A morte do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, aos 41 anos, após tanto sofrimento, nos toca profundamente. Era um político jovem, que demonstrava preocupação com a realidade social terrível do Brasil, com a grande distância que há entre os mais ricos e os mais pobres, ainda mais agora, nesses tempos de pandemia. Covas, perdendo para a avassaladora doença que o devastou, resistiu como pôde e só deixou o seu cargo quando não havia como seguir em frente. Tocante demais foi a ligação amorosa do seu filho Tomás, de 15 anos, que esteve com o pai até os últimos momentos.

No domingo à noite, mais uma notícia amarga. O MC Kevin, de 23 anos, teve morte trágica ao cair do 5º andar de um hotel na Barra da Tijuca, no Rio. Não sou apreciador do funk, mas não posso deixar de lamentar a morte de um jovem tão promissor, com milhões de seguidores nas redes sociais e que representa a voz de uma periferia sofrida, que vê em ídolos como ele uma luz de esperança.

O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

jaimeleitaoleitao@gmail.com

Divulgação: