Pela mão de Lira, Collor ganha espaço no Planalto e quer apoio para reeleição

RENATO MACHADO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Seja acompanhando Bolsonaro (sem partido) em viagens, seja em aparições cada vez mais frequentes no Palácio do Planalto, o senador e ex-presidente Fernando Collor (PROS-AL) vem ganhando abertura no governo federal -uma mudança na visão que um manifestava sobre o outro até pouco tempo atrás.


Antes chamado de “grande mentiroso”, entre outros adjetivos, pelo presidente, Collor esteve em duas viagens recentes de Bolsonaro ao Nordeste.


Na primeira delas, para uma inauguração de obras em Piranhas (AL) em novembro, o presidente afirmou que Collor é “um homem que luta pelo interesse do Brasil”.


O senador também participou, há dez dias, de uma reunião de Bolsonaro com a equipe econômica para discutir preços dos combustíveis.
O próprio presidente relatou que Collor aparecera no Palácio e acabou convidado para a reunião, dando “sugestões, sugestões bem-vindas e acolhidas por nós”.


Já o senador agradou quando recusou o convite do governador João Doria (PSDB) para o lançamento da campanha de vacinação com a Coronavac.
Collor hoje defende Bolsonaro nas redes sociais, com publicações que têm repercussão. Neste mês, ao ler uma crítica do ator Bruno Gagliasso, respondeu: “Vai para Noronha e para de encher o saco”.


Congressistas apontam que a aproximação de Collor com o Planalto se deu pelas mãos do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).


Lira ganhou influência como líder do centrão, que agora dá sustentação ao governo. Ironicamente, Collor criticara a estratégia de Bolsonaro de se aproximar do bloco. Em live da Folha, em maio, ele atacou a participação do presidente em protestos antidemocráticos e também “acordos obscuros” em busca de maioria.


Collor declarou: “Agora, mais recentemente, ele resolve fazer entendimentos políticos. Mas acontece que esses entendimentos políticos é fundamental que sejam feitos à luz do dia, com transparência, com a participação da mídia, da imprensa, da população, para que todos nós sejamos informados de quais as pessoas e quais os partidos políticos que estão sendo chamados para fazer parte do governo e em torno de que projeto eles estão tratando”.


“A questão do toma lá, dá cá é derivada de uma não transparência dos procedimentos”, acrescentou.


Meses depois, foi Lira o responsável por reintroduzir o ex-presidente no Planalto. Seria por uma “dívida” com Collor, que aceitou se lançar em 2018 ao governo de Alagoas em uma campanha tida como suicida contra a reeleição de Renan Filho (MDB), cuja gestão era bem avaliada. Assim, daria palanque e suporte à candidatura do próprio Lira à Câmara e aliados.
A aposta terminou de forma melancólica, com Collor sem decolar nas pesquisas e ainda ficando sem o apoio e os recursos prometidos.


Em um episódio controvertido daquela campanha, sua declaração de bens para a Justiça Eleitoral constava inicialmente com bens também declarados por Lira -o que depois foi corrigido, com os dois negando irregularidades. Collor retirou a candidatura.


Com a aproximação com o Palácio do Planalto, Lira estaria compensando o senador. Essa nova relação significaria para Collor a oportunidade de se tornar o candidato de Bolsonaro ao Senado em Alagoas em 2022.


Do lado do palácio, aliados divergem na análise dessa nova relação e sua importância para o governo. Uns apontam que se trata apenas de satisfazer o desejo de Lira e assim permitir boa relação com o novo presidente da Câmara -que tem a prerrogativa de instaurar processos de impeachment- e com o bloco que dá suporte ao governo, mesmo que o preço seja a associação a um ex-presidente que renunciou às vésperas de sofrer um impeachment e que é investigado pela Operação Lava Jato.


Uma liderança do governo no Congresso, por outro lado, considera ser importante uma boa relação com ex-presidentes da República, principalmente para a imagem de Jair Bolsonaro no exterior, mostrando que não é um político isolado.


Esse parlamentar acrescenta que Collor pode ser um bom conselheiro para temas de relações internacionais e meio ambiente. Isso porque mantém uma visão pragmática de política externa que seria um contraponto à visão mais ideológica predominante no governo.


O congressista afirma que o senador, quando presidente da CRE (Comissão de Relações Exteriores), viajou para a Coreia do Norte e para o Irã.
Em relação ao meio ambiente, a proximidade poderia ser usada para melhorar a imagem do Brasil no exterior, marcada pela alta dos desmatamentos e queimadas.


No governo Collor foi realizada no Rio de Janeiro a Eco-92, e o Brasil assinou então a Convenção do Clima.


Fernando Collor informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não comentaria sua aproximação com Planalto nem se vem contribuindo com o governo e de que forma. O Palácio do Planalto também foi procurado, mas não se manifestou até a conclusão desta edição.

Divulgação: