MARCELO TOLEDO – RIBEIRÃO PRETO, SP Em 30/08/2020 00h38
Pela primeira vez desde o seu surgimento, em 1956, a Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos não será realizada neste ano, devido à pandemia do novo coronavírus.
O anúncio foi feito na madrugada deste domingo (30) durante live que contou com montarias em touros e show do sertanejo Gusttavo Lima.
Com isso, a 65ª edição da mais tradicional festa do gênero no país, que estava programada inicialmente para ocorrer de 20 a 30 de agosto e tinha sido adiada para 28 de outubro a 2 de novembro, só será realizada entre 19 e 29 de agosto do ano que vem.
A decisão do adiamento inicial para outubro foi anunciada em maio, quando não havia começado a venda de ingressos antecipados nem tinha sido divulgada a programação, o que normalmente ocorre nos primeiros meses do ano, devido ao avanço de casos da Covid-19 pelo país.
Nas últimas edições, Barretos tem recebido cerca de 900 mil visitantes em seus 11 dias de evento, gerando, claro, aglomerações. Só o estádio de rodeios, onde ocorrem as montarias e os principais shows, comporta 55 mil pessoas, sendo 35 mil nas arquibancadas e 20 mil na arena.
Segundo a organização, foi decidido que não haveria condições de realizar o evento em segurança para o público. “Tentamos e torcemos muito para que tivéssemos condições de realizar a festa ainda neste ano. Mas nossa prioridade é a segurança e a saúde de todos os envolvidos”, disse Jerônimo Luiz Muzetti, presidente de Os Independentes, associação criada em 1955 e que organiza a festa desde o ano seguinte.
Além das provas do rodeio, a programação musical deste ano incluía shows de Alexandre Pires, Bruno e Marrone, Matogrosso e Mathias, Jorge e Mateus, Marília Mendonça, Pedro Sampaio, Zé Neto e Cristiano, Edson e Hudson, Cesar Menotti e Fabiano, Rionegro e Solimões e Gusttavo Lima.
O que ocorre com Barretos não difere do cenário de outras festas do gênero em todo o país. Todos os eventos do tipo, que muitas vezes são a principal atração do calendário anual em cidades pequenas, foram adiados ou cancelados devido ao novo coronavírus.
Para ONGs de proteção animal, rodeios não deveriam existir por deixarem cavalos e touros expostos a som muito alto, pela longa espera nos bretes até o momento da montaria e também pelos currais considerados inadequados. Elas condenam ainda o uso do sedém –uma cinta de lã, que passa pela virilha dos animais, usada nos rodeios. Os eventos negam maus-tratos.
A live da festa, que terá um segundo dia neste domingo, terminará com a entrega ao campeão de montarias em touros de uma camionete avaliada em R$ 340 mil, o maior prêmio nominal já distribuído na festa. Para o vencedor da disputa em cavalos, o prêmio será de R$ 20 mil.
A região de Barretos –assim como outras 12 de 22 áreas no estado– está na fase amarela do plano São Paulo, que norteia a flexibilização das atividades conforme o cenário apresentado pela Covid-19.
Ela não permite atividades que gerem aglomeração e libera a ocupação máxima de 40% da capacidade em shoppings, lojas de rua, bares e restaurantes, que devem funcionar com horário reduzido (oito horas).
Segundo a organização, os ingressos que já tinham sido vendidos depois do anúncio da mudança para outubro seguirão válidos para o ano que vem, seguindo a sanção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) da medida provisória que prevê a regulamentação das mudanças no calendário dos setores turístico e cultural diante da pandemia.
Ela, que está em vigor desde abril, determina que o reagendamento e cancelamento de eventos, reservas e serviços dos setores de turismo e de cultura não obrigam o prestador de serviços a reembolsar em dinheiro os valores pagos pelo consumidor.
Além da festa do peão, também foram anunciados o cancelamento neste ano do Barretos Motorcycles e do Insane Sound, eventos que estavam programados para o Parque do Peão, recinto projetado por Oscar Niemeyer (1907-2012).
O Barretos Motorcycles, que ocorreria em abril e também tinha sido adiado para outubro, agora terá sua 18ª edição entre 30 de abril e 2 de maio do ano que vem, enquanto o Insane Sound –evento voltado ao mercado de som automotivo– será em outubro de 2021.
A origem do rodeio de Barretos remonta ao estradão por onde seguiam comitivas e suas boiadas rumo aos frigoríficos. Até os anos 1950, o município do interior paulista (a 423 km de São Paulo) era conhecido praticamente apenas por causa de sua pecuária.
Barretos era passagem obrigatória das comitivas que levavam o gado entre os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, além de ter um frigorífico desde 1913, o Anglo.
Por dia, até 1.500 cabeças de gado deixavam o estado vizinho rumo aos frigoríficos, o que foi essencial para o surgimento do rodeio e das festas do tipo. Os peões dormiam e se alimentavam nos chamados pontos de pouso, em noites regadas a música e brincadeiras, como montarias, ainda improvisadas, no gado.
Esse costume se disseminou e foi responsável pela realização, em 1947, de um rodeio que integrava a programação de uma quermesse. Essa foi a primeira competição de rodeio da qual se tem notícia no país e originaria, nove anos depois, a primeira edição da Festa do Peão de Barretos.