Pré-diabetes é fator de risco para ataque cardíaco mesmo em jovens, aponta estudo

Folhapress

Uma pesquisa feita por cientistas americanos encontrou uma possível associação entre ser pré-diabético (quando o nível de açúcar no sangue está entre 100 e 125 miligramas por decilitro) e ter ataques cardíacos, mesmo em indivíduos jovens, com idade entre 18 e 44 anos.

De acordo com o estudo, ter o diagnóstico de pré-diabetes pode indicar um risco 1,7 vezes maior de hospitalização por problemas cardíacos em comparação com aqueles com nível de açúcar no sangue normal (abaixo de 100 mg/dL).

Apesar desse risco mais elevado, os pesquisadores afirmam que não foi encontrada uma associação entre pré-diabetes e a ocorrência de parada cardíaca ou infarto.

Os resultados preliminares da pesquisa foram divulgados no dia 14 de maio no seminário Qualidade de Atendimento e Desfechos de Pesquisa Científica, organizado pela Associação Americana do Coração, em Reston, Virginia (EUA).

O levantamento analisou dados de 7,8 milhões de americanos com idade entre 18 e 44 anos hospitalizados em 2018 no país, de acordo com dados da Amostra Nacional de Internados, que reúne os dados públicos de internação nos Estados Unidos.

Do total de pacientes analisados, 31.000 (0,4%) possuíam níveis de açúcar no sangue que os classificavam como pré-diabéticos. Entre eles, a taxa de incidência de ataque cardíaco era de 21,5 a cada mil indivíduos, enquanto nas pessoas com nível de sangue normal era de 3 a cada mil.

Além disso, a prevalência de outros fatores de risco, como hipertensão, colesterol elevado (68,1% contra 47,3%) e obesidade (48,9% contra 25,7%) era maior nos pré-diabéticos. Os cientistas também observaram que os adultos pré-diabéticos internados para ataque cardíaco eram em sua maioria homens negros, hispânicos ou asiáticos, em comparação com outras etnias.

Apesar dessa incidência aumentada de ataque cardíaco, os cientistas não encontraram maior ocorrência de infartos ou acidentes vasculares em pessoas com pré-diabetes em comparação com os não pré-diabéticos.

“É possível que a pré-diabetes possa influenciar os resultados a médio ou longo prazo após um infarto do miocárdio, considerando que não é uma condição de saúde tão aguda quanto o diagnóstico de diabetes tipo 2”, disse o pesquisador e autor do estudo Akhil Jain, do Centro Médico Católico de Misericórdia em Darby (Pensilvânia).

Segundo Jain, se não tratada, a pré-diabetes pode progredir rapidamente para diabetes do tipo 2, que é um fator conhecido de risco cardiovascular. “Estudos futuros devem se concentrar mais em desfechos com pré-diabetes e indivíduos sem essa condição em pacientes hospitalizados que tiveram infarto para avaliar esse risco”, explica.

De acordo com ele, o estudo tem como objetivo indicar quais medidas de saúde pública e campanhas devem ser feitas para reverter o quadro e evitar novos diagnósticos de diabetes no futuro. “É essencial criar uma conscientização entre adultos jovens sobre a importância de realizar exames de rotina que podem indicar diagnóstico de pré-diabetes, controlar alimentação e realizar atividades físicas para prevenir ou atrasar o desenvolvimento de diabetes tipo 2 e a doença cardíaca que pode estar associada”, disse.

Nos EUA, segundo dados do Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês), 88 milhões de adultos possuem diagnóstico de pré-diabetes, o que equivale a mais de um terço da população. O Brasil não possui dados atualizados, mas uma estimativa de 2015 pela Sociedade Brasileira de Diabetes estima que cerca de 20% da população adulta era pré-diabética, ou 40 milhões de pessoas.

Já a porcentagem de adultos vivendo com diabetes cresceu nos dois últimos anos, chegando a 9,14%, ou cerca de 15 milhões de pessoas.

Para Paulo Lotufo, epidemiologista e professor titular da Faculdade de Medicina da USP, existe às vezes uma interpretação equivocada do que é pré-diabetes, pois, segundo ele, diversos mecanismos podem atuar para quebrar a chamada homeostase (equilíbrio) glicêmica no organismo, não somente o consumo de açúcar.

“Basicamente, sabemos que quanto mais afastado do limite de glicemia que é considerado normal, de 60 mg/dL, aumenta-se o risco de ter diabetes, mas o nível de açúcar que pode ser classificado como pré-diabetes é algo questionável. De toda forma, sabemos que há um aumento do nível do açúcar acima de 100 mg/dL em pessoas que estão acima do peso, e mesmo em indivíduos jovens, aumentando o risco de doenças cardíacas”, explica.

De acordo com Lotufo, porém, é importante que as pessoas que possuem a chamada síndrome metabólica –colesterol alto, sobrepeso, nível glicêmico alto– fiquem atentas e tentem reverter o quadro antes de chegar ao diabetes tipo 2, quando são necessários tratamentos com medicamentos.

“É muito comum ver no atendimento de rotina clínica homens que chegam com sobrepeso, nível glicêmico elevado, colesterol e que ganharam peso muito rápido. A perda de peso nesses pacientes em pouco tempo já é suficiente para baixar a glicemia para um nível inferior a 100 mg/dL”, explica.

Redação JC: