Uma ação da Guarda Civil Municipal de Rio Claro no final da noite de sábado (1º) e começo da madrugada de domingo (2), para conter uma aglomeração na Rua 25 entre as avenidas 60 e 62, no bairro Jardim Panorama, terminou com um homem de 29 anos ferido e com a morte da jovem Gabrielli Mendes da Silva, de 19 anos.
A reportagem do JC esteve no plantão policial e conversou com o delegado Dr. Aroldo Cesário Diniz, que informou os relatos contidos no boletim e a versão do GCM, autor do disparo que feriu as vítimas. “No depoimento, o GCM informou que as equipes foram até o bairro após várias denúncias de que havia aglomeração de pessoas, baile funk e festa clandestina no local, onde tem um bar. Chegando, tentaram terminar com a aglomeração e teria havido revolta por parte das pessoas, que atiraram pedras nas viaturas.
Neste momento o guarda civil municipal disse que estava com uma arma calibre 12, acreditou que o armamento estava sem munição e, ao manuseá-la para colocar uma bala de borracha, ocorreu um disparo acidental, atingindo a jovem que estava a cerca de 40 metros dele, e um outro rapaz”, relatou o delegado que estava de plantão na noite dos fatos.
Já pessoas que estavam no local e preferiram não se identificar deram outra versão: “O guarda já chegou apontando a arma e intimidando. De repente veio o tiro. A Gabrielli ficou caída lá no chão por mais de meia hora e nada de socorrerem. Isolaram o local e ficaram esperando sei lá o quê. Só depois disso que foi levada para o hospital”, disse uma testemunha.
“Uma série de erros. Desde o início da pandemia a GCM já veio várias vezes aqui no bairro. Nesse local é um bar de garagem onde junta gente sim, tem barulho mas não é baile funk. Se tivessem desde o início lacrado o local que nem alvará deve ter e cumprido o decreto isso não teria acontecido. Não conhecia a menina, mas a periferia não pode ser marginalizada desta forma”, ponderou um morador.
O guarda civil municipal foi preso em flagrante por homicídio culposo e teve fiança arbitrada em R$ 5 mil. O valor foi pago no início da manhã de domingo (2) por um grupo de GCMs e o autor do tiro colocado em liberdade.
Diante dos fatos, a Secretaria de Segurança, Defesa Civil, Mobilidade Urbana e Sistema Viário de Rio Claro emitiu uma nota oficial: “A respeito da ocorrência atendida pela GCM, lamentamos muito essa fatalidade. O fato será apurado pela Polícia Civil e julgado pelo Judiciário. Na corporação, será instaurado Inquérito Administrativo para apurar a conduta técnica do GCM com relação ao emprego dos procedimentos operacionais. Não podemos, nem devemos fazer julgamentos precipitados. Até que as investigações terminem, o GCM está afastado das atividades operacionais. O que estiver de acordo com a lei será cumprido”, diz parte do texto que ainda coloca a ocorrência como um fato isolado e lembra que a Guarda Civil Municipal vem prestando excelente trabalho de reforço na segurança pública do município.
A arma calibre 12, que tem toda a documentação em ordem, está apreendida e ficará sob a custódia da Polícia Civil até o fim das investigações. Com apenas um tiro, o projétil se desfaz em vários fragmentos, aumentando a área de alcance de um único ponto para vários. De acordo com a família, Gabrielli apresentava sete perfurações no corpo.
Nas redes sociais inúmeros questionamentos foram levantados sobre a checagem do equipamento pelo profissional da guarda antes de sair às ruas e um movimento se iniciou pedindo o desarmamento da corporação. Sobre os assuntos, o comandante da GCM declarou: “O guarda estava apto a manusear a arma. Todos os nossos profissionais passam por treinamentos rigorosos, cursos e psicólogos. Existe todo um procedimento a ser cumprido antes de sair da sede e é exatamente isso que o nosso processo administrativo e a perícia vão fazer para entender de fato o que aconteceu. O que temos é o depoimento dizendo que foi acidental. Desarmar a GCM é inviável, pois temos um papel muito importante dentro das forças de segurança do município”, afirmou Fernando Godoy.