Produzida de modo artesanal, cachaça feita na região atrai apreciadores

 

Murillo Pompermayer


Cachaçarias Fuzuê e Macaúva, além de produzirem a aguardente, também oferecem espaço para culinária e entretenimento

Tipicamente brasileira, a cachaça é apreciada em todos os quatro cantos do país. Denominada também de outras formas – pinga, aguardente, cana ou caninha -, cultiva fãs em todo o mundo. Diversos são os drinques preparados à base de cachaça, dentre eles a universalmente cultuada “caipirinha”. Anualmente, estima-se que o Brasil consuma 1,2 bilhão de litros, o que equivale a 6,29 litros por brasileiro.

O Estado de São Paulo é o que mais produz, seguido por Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pernambuco, enquanto que a Alemanha é o país que mais importa, totalizando 30% da produção tupiniquim destinada para esse fim. No total, 60 países usufruem desta bebida genuinamente verde e amarela.

A cachaça, por anos, foi vista como sendo muito popular e de qualidade duvidosa. Os produtores especializados, contudo, se encarregaram de, pouco a pouco, mudar o cenário. O devido respeito, tanto por aqui como no exterior, foi consequência. A popularidade mais do que aumentou. A qualidade, idem.

É justamente o caso da Cachaçaria Macaúva, com sede em Analândia. Milton Lima, proprietário, afirma que pesquisa cachaça há mais de 20 anos. Pirassununguense, observava a movimentação da cidade natal em torno da bebida e, curiosamente, quando do advento da tequila no Brasil – e com o status de “bebida chique” -, despertou interesse em entender o porquê da valorização de produtos vindos de fora e decorrente não valorização de nossa cultura. “Fiz o trabalho de conclusão de curso na faculdade com o tema ‘Cachaça do Brasil: da Senzala pra Casa Grande’. Esse trabalho resultou no site www.cachacas.com, somado a uma coleção de cachaças e algumas antiguidades. Assim sendo, foi inevitável a criação da Cachaçaria Macaúva”, conta.

Lima, que além de estar à frente da cachaçaria há 3 anos e meio mantém, também, uma pousada, diz que a “Macaúva” é isenta de modismos. “Levamos a sério a arte da cachaça, e não vendemos nenhum outro destilado. Temos vinhos e cervejas, mas destilado apenas cachaça”, assegura. Lima relata que a casa conta com uma carta de 24 opções selecionadas por ele. “São cachaças de todas as regiões do Brasil: Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba e Paraná.

São envelhecidas em madeiras diferentes, como Bálsamo, Ipê, Jequitibá, Amendoim, e o tradicional Carvalho. O processo começa no plantio, o corte da cana, a moagem, fermentação, destilação, envelhecimento e envase”, detalha.

O empreendedor relata que possui um pequeno alambique na cachaçaria e que, eventualmente, produz com o objetivo, sobretudo, de colocar o hóspede ou o visitante para participar do processo. “Quero que os convidados cortem a cana, que moam, fermentem e possam destilar a sua própria cachaça”, se anima.

Com relação à força da região em se tratando da produção de cachaça, Lima avalia que o interior de São Paulo é, em volume, o maior produtor. “É uma região muito tradicional neste sentido já há anos. Temos grandes indústrias instaladas”, destaca. Aos que desejam apreciar uma boa aguardente com tranquilidade, podem se hospedar em um dos seis chalés disponíveis em sua pousada. Lima diz que a casa proporciona, ainda, música ao vivo, às sextas e sábados, das 19 horas à meia-noite. Aos domingos, há almoço orgânico.

Proprietário da Cachaça Fuzuê, situada no histórico bairro rural da Mata Negra, no Distrito de Ajapi, em Rio Claro, Ivan Elpídio de Oliveira Zurita conta que tudo teve início em 2007.

“Foi quando começamos a realizar um sonho de fabricarmos uma cachaça de qualidade em nossa região”, recorda. Zurita explica que o alambique funciona artesanalmente, de modo tradicional, aliando técnicas modernas de fermentação e destilação. Segundo ele, a matéria-prima (cana-de-açúcar) é cultivada de maneira natural e de modo a apresentar os melhores níveis de açúcar.

A colheita, por sua vez, é feita manualmente, o que permite escolher apenas as melhores canas maduras, evitando a queima do canavial. A fermentação, conforme Zurita, utiliza somente fermento natural, com leveduras vivas e sem qualquer agente químico.

Já a destilação é feita em alambique tradicional. “Durante a destilação, descartam-se as partes de sabor inferior e impróprias para consumo. O produto final passa por um processo de inspeção de qualidade antes de ser embalado cuidadosamente”, descreve. O produtor assevera que a região de Rio Claro possui bastante tradição na produção de cachaças artesanais ou industriais.

“Entre elas, temos conseguido nos destacar pela qualidade”, se orgulha. O empresário conta que agora possui também em suas instalações um restaurante que abre aos sábados, domingos e feriados, das 11 às 16 horas, com almoço a la carte de cortes nobres, e outros pratos especiais.

Desde 2014, a prefeitura de Rio Claro, por intermédio das secretarias municipais de Agricultura e de Cultura, realiza a Festa da Cachaça. Com excelente público nas duas edições – a última ocorreu nos dias 30 e 31 de maio -, o evento reúne produtores locais, de Piracicaba, Taquaritinga, Araraquara, Serra Negra, Santa Rita do Passa Quatro, Charqueada e Limeira.

Com toda renda revertida aos expositores, a festa, que acontece na Central de Agronegócio, na Rua 3-A, Vila Martins, oferece aos visitantes grande diversidade de cachaças e tem como principal objetivo estimular o setor, além do resgate, em Rio Claro e região, da história do destilado.

O administrador Milton Lima, acerca desta iniciativa por parte da prefeitura rio-clarense, pondera que toda ação, que tem como objetivo quebrar o preconceito existente em relação à cachaça, é vista por ele com bons olhos. “É só tomar cuidado pra não fazer disso meramente um negócio, visando apenas o lucro. Tem que ter credibilidade, caso contrário o negócio não é sustentável”, argumenta.

Ivan Elpídio de Oliveira Zurita, por sua vez, diz que integra o grupo de produtores que promovem o festejo. “Recentemente fizemos a 2ª edição e foi um sucesso”, lembra. Finalizando, explana que a festa consegue agregar valor ao produto e movimentar o mercado.

Redação JC: