Rio-clarense cria museu em casa reunindo objetos raros e históricos

Quem passa pelo Santana, em Rio Claro, e observa do lado de fora uma casa de portão preto que parece comum como as outras, nem imagina que muro adentro existem tesouros em formas de conhecimento, num acervo montado pelo rio-clarense Delton Hebling Junior, de 64 anos.

Psicólogo e Coach por formação, o colecionador abriu as portas de sua casa ao 50+ para apresentar materiais raros, como quadros, esculturas, e também peças antigas como TVs, ventiladores, máquinas de escrever, máquinas fotográficas, termômetros, prensa, móveis e muito mais.

Esse museu particular é uma paixão que foi assimilada de seu avô Salomão, que sempre gostou de reunir objetos antigos. Hebling afirmou que foi oficialmente em 1985 que essa paixão aflorou. Na época, num restaurante dos Jardins, em São Paulo, ele conheceu uma artista plástica que o convidou para uma exposição. A partir disso começou a catalogar todos os objetos que possuía.

“Meus amigos visitavam meu apartamento e achavam muito interessante. Foi aí que comecei a descobrir novas lojas de antiguidades, mas não as caríssimas, e sim os brechós. Eu era praticamente um consumidor frequente. Depois me casei, minha esposa também curtia muito e acabou sendo uma grande diversão para nós”, explicou.

Cadeiras do Cine Excelsior e outras relíquias

A coleção começa a chamar atenção deste repórter já na sala de estar, onde as cadeiras vieram no extinto Cine Excelsior – o primeiro cinema de Rio Claro. A última exibição foi em 1997 com o filme ‘Nirvana’. Na época, Marco Antônio, o filho mais velho de Nico Padula, atribuiu o fechamento à televisão, que teria afastado as pessoas das telonas.

No finalzinho dos anos 30, Nico Padula, um simpático e competente alfaiate, teve uma ideia brilhante e decidiu abrir as portas do primeiro cinema da cidade. Não demorou muito e os resultados desta empreitada foram surgindo com a ampliação do espaço como o Cine Excelsior II (no mesmo espaço), o Cine Teatro Variedades (na Rua Seis) e o Tabajara (na Rua Um), este último, popular entre os mais ‘saidinhos’ por exibir durante anos, apenas os filmes de conteúdo erótico entre outros em sua grade de programação final.

O início dos anos 90 não foi nem um pouco fácil para os empresários do ramo e muitos outros cinemas fecharam suas portas. O cine Excelsior I encerrou as atividades em julho de 1997 e o meses depois o mesmo ocorreu com o Excelsior II. Quem passa hoje pela Rua Quatro, em frente ao Jardim Público, não encontra mais nenhum vestígio desse passado glorioso. A edificação na região central, deu lugar a uma grande loja de departamentos.

Continuando na sala, outro objeto de encher os olhos é um um pote Lalique original dos anos 1920, seguido de um tapete do século 19, saca-rolhas para abrir vidros de remédios, rádios antigos e dos anos 60, vitrola suíça que substituiu os gramofones, presente de Rubens Foot Guimarães –  que dá nome à Escola Agrícola de Rio Claro, uma prensa original, além de um balde que os agueiros deixavam com água limpa e potável nas casas.

As peças mais antigas da coleção são um tapete caucasiano e uma máquina fotográfica Kodak de 1913.  “O tapete caucasiano veio com a minha família da Síria, no final dos anos 1800 e  a máquina fotográfica comprei na Feira do MASP (Museu de Arte de São Paulo)”, recordou.

O colecionador disse que boa parte da coleção de objetos, ele ganhou de amigos ou é herança de família. Os demais foram comprados em galerias ou leilões e muitos em brechós da Bela Vista, na capital paulista.

Ele explica também como cuida do acervo. “Eu não restauro, mas sempre procuro quem faça. Por aqui todos ajudam na limpeza e manutenção das peças até minha esposa Nair e meu filho Daniel. É uma espécie de ritual. Precisa ser feito nos mínimos detalhes para conservar tudo e dá um trabalhão”, citou.

Alguns objetos ajudam Hebling a recordar o seu passado. Por exemplo, o primeiro brinquedo de sua mãe, a dona Alzira, um fogãozinho de lata. Há também uma pasta de couro de seu pai, Delton, com seu nome gravado. E, ainda, a luminária da escrivaninha do consultório original de seu sogro, que é dentista, bem como cabos de guarda-chuvas de sua avó.

“É uma delícia ter essas peças. Minha mãe nasceu em 1925, época desse fogãozinho. É bem antigo. Essas peças da família são muito bacanas. Literalmente é uma volta ao passado. E ao bom passado da minha família”, disse.

Carla Hummel: