Favari Filho
Que horas marcava o relógio da antiga estação ferroviária quando instalado no cume da estrutura que ainda conserva características da arquitetura eclética? Construída em 1911, depois que a Cia. Paulista demoliu a antiga gare, o prédio entrou para a história de RC. Desde então, não somente os pássaros podiam ser vistos no céu rio-clarense, mas também as horas que dividiam o trabalho do lazer e que corriam com os ponteiros acelerados da civilização. Com os antigos relógios de bolso o tempo, talvez, passasse mais lento, despido da pressa das composições.
Os trilhos trouxeram o progresso e junto o desenvolvimento da Cidade Azul, que teve início a partir da Rua 1. O ano era 1876 e a antiga Rua do Mato – já conhecida da pequena e pacata vila São João do Rio Claro, que havia sido elevada a cidade há apenas 19 anos – passou a ser a Rua de São José logo quando os dormentes e os trilhos começaram a fazer parte daquele cenário ainda bucólico. Cinco anos mais tarde, o nome foi trocado para Rua Doutor Cesar (ilustre figura) e somente em 1886 a Rua 1 passou a ter nomenclatura atual.
De lá para cá, “café com pão, café com pão, café com pão, virge Maria que foi isso maquinista?”. O progresso chegou e a cidade cresceu! – gritou o entusiasta. E desde os trilhos que separam o Cidade Jardim do Jardim Conduta, passando pelo Educandário Maria Goreti, Concessionária Guardia, Danceteria Panqueca’s, Estação Ferroviária, bar sem porta, Supermercado Sesi, Pizzaria do Lazinho, Cantinho do Sorvete, Cine Tabajara, Lago Azul até os que dividem o Jardim Portugal do Jardim Cervezão, a Rua 1 guarda histórias de pessoas que seguem suas vidas edificando a cidade de Rio Claro.
Do CJ ao JC, a Rua 1 é como a Rua 2, a Rua 3, a Rua 4, a Rua 5, a Rua 6, a Rua 7, a Rua 8… Porém, guarda sob e sobre o seu asfalto – entre as guias e as calçadas -, um constante e crescente passado que se constrói diariamente no presente, além do mérito de ser a número um, o princípio, a evolução. A Rua 1 tem uma simpatia fugaz não percebida a olho nu, algo entre o real e o imaginário possível de enxergar somente com os olhos fechados.
Casa do chefe da Ferrovia deve ser revitalizada
Ali, ao lado do pontilhão da Avenida 7, à margem da linha do trem que divide o Centro da cidade da Cidade Nova, a casa que um dia habitou o engenheiro chefe da ferrovia, Fernando Betim Paes Leme, ficou durante longos anos fechada depois da derrocada da malha ferroviária no Brasil, integrando assim o patrimônio da Companhia Paulista de Estradas de Ferro que se desfazia com o descaso e as intempéries. Um ponto extremamente marcante da Rua 1 que compõe a paisagem da cidade que se modifica a cada dia.
A boa notícia, entretanto, é que existe um projeto de recuperação que integra a segunda etapa de revitalização do Centro Histórico de Rio Claro, que contou até o momento com a reestruturação viária, a abertura das novas pistas no local do antigo pontilhão e a implantação de novos equipamentos públicos, além da ampla renovação paisagística. Está previsto também para ocupar o quintal do antigo engenheiro chefe uma pista de skate e um teatro de arena. A prefeitura informou que as providências necessárias para que a memória da cidade seja preservada estão sendo tomadas.
A mais tradicional das lojas rio-clarenses
A Casa Timoni é um dos pontos de referência da Rua 1 e, possivelmente, não existe um rio-clarense que não tenha entrado ao menos uma vez na loja para comprar algum dos mais de quatro mil itens à disposição. A história do estabelecimento comercial se confunde com a do desenvolvimento de Rio Claro, pois quando da inauguração ainda não havia completado vinte anos da chegada dos trilhos.
O Jornal Regional conversou com Sérgio Luiz Timoni Rodini, que falou um pouco sobre a empresa que dirige junto com o irmão José Carlos Timoni Rodini. Os proprietários, filhos de Nair Timoni Rodini e José Rodini, pertencem à quarta geração da família que atende as necessidades dos rio-clarenses com itens dirigidos aos setores de embalagens industriais, tapeçaria e decoração, além de apresentar soluções na área de proteção de equipamentos com a produção de capas de cobertura, cortinas industriais, entre outros.
O proprietário da Casa Timoni, Sérgio Luiz Timoni Rodini, disse que a maior satisfação em atender em um comércio com toda a tradição que tem a Casa Timoni é o reconhecimento do público. “Quando ouço alguém dizendo que vinha na loja com o avô, sinto muito orgulho. Outro dia um cliente disse algo que me deixou contente. Depois de caminhar por toda a loja olhando os artigos disparou: ‘aqui é o Google do mundo real’, coisas que não tem preço”, finalizou.
A biografia da Casa Timoni teve início há exatos 120 anos, quando Mauricio Timoni abriu um comércio cujo principal objetivo era o curtimento de couros (curtume). Porém, com o tempo foram sendo acrescidos outros serviços como a fabricação de arreios e de calçados, bem como a abertura da loja, na qual comercializava os produtos, originando a empresa Timoni, Irmãos & Cia Ltda.
O avô de Sérgio e José, Antônio Timoni, nasceu em 1885, na Itália, porém logo veio para o Brasil com os pais e irmãos. Com vinte anos se mudou para Pitangueiras, onde iniciou no ramo de selaria e, somente em 1915, convidado por seus irmãos João Timoni e José Timoni, regressou a Rio Claro, para juntos seguirem a sociedade fundada pelo pai Mauricio Timoni. Além de referência no ramo, a Casa Timoni faz parte do cenário da Rua 1 e ainda é uma das poucas coisas que remete a história da Cidade Azul.