Folhapress
O ex-juiz Sergio Moro (União) venceu a eleição para o Senado no Paraná neste domingo (2) e assumirá a vaga ocupada hoje pelo senador Alvaro Dias (Podemos), entusiasta da Operação Lava Jato e padrinho de sua entrada na política.
Com 96% das urnas apuradas, ele tinha 34% dos votos válidos. Alvaro Dias, que está no Senado há mais de vinte anos e buscava a reeleição, estava com 24%, atrás de Paulo Martins (PL), que conseguiu 29%.
Esta foi a primeira eleição disputada por Moro, que largou a magistratura em 2018 para ser ministro da Justiça no governo Jair Bolsonaro (PL) e desde então tropeçou em diversos movimentos políticos.
Na campanha, Moro prometeu liderar no Senado a oposição a um eventual governo liderado pelo PT, partido que foi o principal alvo dos processos que conduziu nos anos em que esteve à frente da Lava Jato. Ele assumirá o mandato de oito anos em fevereiro.
Moro conduziu as ações da Lava Jato no Paraná de 2014 a 2018, mas teve sua reputação abalada após a exposição de mensagens trocadas com os procuradores à frente da operação. O Supremo Tribunal Federal anulou suas decisões nas ações movidas contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em entrevistas nos tempos de juiz, ele rejeitou a ideia de ingressar na política várias vezes. “Não seria apropriado da minha parte postular qualquer espécie de cargo político porque isso poderia, vamos dizer assim, colocar em dúvida a integridade do trabalho que eu fiz “, disse em evento da revista Veja em 2017.
O ex-juiz ocupou o cargo de ministro da Justiça por um ano e quatro meses, mas rompeu com Bolsonaro em 2020 e saiu do governo acusando-o de tentar interferir na Polícia Federal. Após a demissão, foi trabalhar para uma consultoria americana que tinha entre clientes empreiteiras envolvidas na Lava Jato.
Em 2021, incentivado por Dias, Moro se filiou ao Podemos com a ambição de organizar uma candidatura presidencial. Ele buscou aproximação com diferentes forças políticas que tentavam viabilizar a chamada terceira via, mas o desempenho fraco nas pesquisas fez murchar o interesse pelo seu projeto.
Em março deste ano, em iniciativa surpreendente, decidiu trocar de partido. Saiu do Podemos e foi para a União Brasil, e ainda trocou o domicílio eleitoral, deixando o Paraná para disputar a eleição em São Paulo.
A mudança de agremiação enterrou suas chances na corrida presidencial, já que os líderes da União Brasil logo rechaçaram a possibilidade de lançar seu nome para a Presidência. A troca de domicílio se mostrou outra aposta errada, abrindo caminho para questionamentos na Justiça Eleitoral.
O desgaste aumentou quando Moro disse à reportagem, em abril, que usava o estado de São Paulo como um “hub” para suas atividades profissionais e que seu endereço era um flat recém-alugado na capital paulista. Em junho, o Tribunal Regional Eleitoral cancelou a transferência de seu domicílio.
Sem opções, o ex-juiz da Lava Jato voltou ao Paraná e se lançou ao Senado contra o ex-padrinho político. O movimento causou constrangimento também para outro participante da Operação Lava Jato, o ex-procurador Deltan Dallagnol, que permaneceu no Podemos e gravou vídeo elogiando Alvaro Dias.
Na campanha eleitoral, o ex-juiz buscou reatar vínculos com o bolsonarismo e concentrou críticas no PT para tentar alavancar sua candidatura. Ele chegou a republicar um vídeo de Bolsonaro questionando a anulação de sentenças do ex-presidente Lula e produziu sátiras e paródias mirando petistas.
Em 2021, o Supremo concluiu que Moro agiu de modo parcial ao conduzir as ações movidas contra Lula no Paraná e por isso anulou suas decisões, incluindo a sentença do caso do tríplex de Guarujá. Nos meses seguintes, o ex-presidente conseguiu se livrar de dezenas de ações em outras jurisdições.
No início da campanha, Moro fez questão de anunciar que não votaria em Lula em hipótese alguma no segundo turno, exibindo uma propaganda na TV que afirmava ainda: “Em relação ao Bolsonaro, uma coisa eu posso dizer: nós temos o mesmo adversário”.
A reaproximação foi uma reviravolta no tom que adotava ao tentar viabilizar sua candidatura presidencial, quando associava o mandatário a uma “turma da rachadinha” e a agressões contra jornalistas.
Na campanha estadual, Moro tentou ligar Alvaro Dias à “velha política” e a partidos de esquerda, como o PT e o PSB. Dizia lutar “contra o sistema” e apoiou a reeleição do governador Ratinho Junior (PSD).
Em setembro, houve mais um embaraço a sua candidatura, quando uma juíza de segunda instância determinou buscas no apartamento dele em Curitiba para apreender material de campanha irregular. O ex-juiz da Lava Jato havia informado que seu comitê de campanha ficava no imóvel onde mora.
O pedido de busca partiu da coligação integrada pelo PT no Paraná, que questionava irregularidade na propaganda do adversário, como a falta de menção aos suplentes da chapa. O ex-magistrado falou em perseguição.
O legado de Moro como juiz da Lava Jato começou a ser cada vez mais contestado. Parte de suas 45 sentenças expedidas na época da operação foi anulada nos últimos anos por causa de mudanças de entendimento do STF e questionamentos sobre a tramitação dos casos.