(foto ilustrativa/redes sociais)

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Covid-19 fez diminuir drasticamente a diferença entre os números de nascimentos e mortes registrados na capital paulista no último ano. Pelo menos é o que mostram os dados divulgados pela Arpen-SP (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo), obtidos pela reportagem no início desta semana.


No mês passado, as 12.779 certidões de óbito registradas nos cartórios da cidade de São Paulo foram equivalentes a 94,9% do número de certidões de nascimento emitidas no mesmo período (13.464). Como comparação, em março de 2020, no início da pandemia, o número de registros de morte representava 55,6%.


No ano anterior à pandemia (de março de 2019 a fevereiro de 2020), as mortes foram equivalentes a 46,4% dos nascidos vivos na capital paulista, segundo os registros da Arpen-SP.


Os números da associação dos cartórios são uma ducha de água fria em quem, apesar de todas as evidências, ainda duvida da matança generalizada provocada pelo coronavírus no último ano.


Cartórios da cidade de São Paulo registraram, no mês passado, um volume de óbitos 66,2% maior do que em março de 2020, no início da pandemia no Brasil. Já o número de certidões de nascimento foi apenas 2,71% menor na comparação entre esses dois meses. Na média diária, foram emitidas 434 certidões de nascimento e 412 de óbito no mês passado.


Os óbitos registrados na capital crescem ao mesmo tempo em que o número de mortes provocadas por crimes violentos despencam. Último mês disponível para consulta entre as estatísticas da SSP (Secretaria Estadual da Segurança Pública), fevereiro deste ano teve 34 vítimas de homicídio, ante 61 de igual período de 2020 (queda de 44,3%).


PIOR MARÇO DA HISTÓRIA
A diretora de comunicação da Arpen-SP (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo), Andreia Ruzzante Gagliardi, afirma que março de 2021 foi o mês com mais mortes registradas na capital paulista desde o início da série histórica de dados da entidade, em 1999.


No ano passado, durante o primeiro pico da Covid-19, a cidade de São Paulo registrou 10.850 óbitos no mês de junho. Ou seja, o aumento, agora, foi de 17,8%. Em 2019, quando a pandemia ainda não havia começado, o pior mês foi julho, com 7.418 mortes.


“Neste início de mês, os cartórios continuam registrando bastante mortes. Estamos numa fase agudíssima da pandemia e, pelo que estamos sentindo, abril também será um mês bastante difícil”, diz Andreia.
Ainda segundo a diretora da Arpen-SP, houve no ano passado um aumento das mortes ocorridas em casa. “A gente imagina que as pessoas estejam com medo de ir para hospitais. Por outro, muitos procedimentos e cirurgias eletivas foram adiadas”, comenta.


LONGO PRAZO
O neurocientista Miguel Nicolelis considera a situação do Brasil como “inacreditável” e estima que os dados devem piorar ainda mais nos meses de abril e maio. “É como se o Brasil tivesse entrado em uma guerra de grandes proporções”, diz.


Ele avalia que a queda na diferença entre os números de nascimentos e de óbitos pode gerar sérias consequências socioeconômicas para o país a longo prazo. “Começa a ter um efeito estrutural que pode se refletir daqui a 20 ou 30 anos, com a redução no número de jovens e da capacidade produtiva do país, da massa de pessoas produtivas poder suportar todo o sistema previdenciário, por exemplo.”


“Esses problemas são alvos de políticas públicas de grande dificuldade para reverter, como acontece no Japão ou em alguns países europeus com taxa de natalidade negativa”, acrescenta o pesquisador.


Além do aumento nos óbitos, Nicolelis e Andreia chamam a atenção para a redução no número de nascimentos. Segundo eles, isso pode ser explicado por uma mudança no planejamento das famílias diante da pandemia, que passam a ter medo de ter filhos neste momento.

O neurocientista considera ainda que a internet tem um papel significativo no aumento do negacionismo -ou seja, na quantidade de pessoas que desacredita na pandemia. Segundo ele, esse tipo de pensamento é impulsionado por meio de fake news transmitidas via redes sociais ou aplicativos de mensagens. “Isso fez com que as pessoas criassem uma visão paralela da realidade na pandemia”, explica.

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