Um arquiteto humanista

O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

Jaime Leitão

Paulo Mendes da Rocha, além de grande arquiteto, que ganhou o maior prêmio da arquitetura mundial, o Pritzker, equivalente ao Nobel, em 2006, pensava além do concreto. A sua preocupação maior era com o humano, como integrar o indivíduo no espaço urbano, acolhendo-o, não o rejeitando, como acontece principalmente nas grandes cidades.

Uma das frases mais conhecidas de Mendes da Rocha é: “Arquitetura não é para ser vista, é para ser vivida”.

Uma das suas criações mais marcantes foi a reforma e a restauração da Pinacoteca do Estado. Fui a duas exposições lá, uma delas a do escultor pernambucano Francisco Brennand. Arquitetura e escultura se harmonizavam, se abraçavam de uma forma extraordinária.

Projetou em parceria com o seu filho, Pedro, também arquiteto, o Museu da Língua Portuguesa. Paulo Mendes da Rocha tinha um grande apreço não só pela arquitetura, também pela escultura, literatura, pintura. Outra obra sua que visitei foi o MUBE (Museu Brasileiro de Escultura), em um espaço imenso, que já recebeu esculturas de grandes mestres da escultura nacional e internacional.

Além dele, só um outro arquiteto brasileiro ganhou o Pritzker, Oscar Niemeyer, em 1988.

Uma das maiores preocupações de Mendes da Rocha era em relação àqueles que passam várias horas por dia se deslocando da casa para o trabalho e do trabalho para casa. Ele pensava em adaptar edifícios ociosos, esqueletos urbanos, em moradias populares que atendessem às necessidades daqueles que passariam a residir próximo de suas residências, mas esbarrou muitas vezes na burocracia e na especulação imobiliária. Era um arquiteto rebelde, inquieto, incansável, transformador.

Arquitetura para o arquiteto que nos deixou agora aos 92 anos é sinônimo de poesia, de arte e, principalmente, inclusão, acolhimento.

Com o centro da maioria das metrópoles vivendo um processo de degradação que cada vez mais se avoluma, é necessário mais do que nunca que lições e ideias de arquitetos como Paulo Mendes da Rocha sejam colocadas em prática.

De agora em diante, construirá edifícios, museus, galerias no espaço e nas estrelas.

O colaborador é cronista, poeta, autor teatral e professor de redação.

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