Elvis Pereira – Folhapress
Estudos iniciais feitos em diferentes laboratórios sugerem que duas doses da vacina contra a Covid são insuficientes para barrar a ômicron, nova variante do coronavírus. Por outro lado, as análises mostram também que a aplicação de uma terceira dose restabelece bons níveis de proteção.
As pesquisas, contudo, ainda são preliminares, já que a ômicron está em circulação há poucas semanas. Por esse motivo, pesquisadores ressaltam que são necessárias mais evidências para ratificar a força da terceira dose contra a nova cepa, mesma cautela adotada pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
Veja o que se sabe, até o momento, sobre a eficácia das vacinas em relação à variante ômicron.
Tomei duas doses da vacina contra Covid (ou dose única da Janssen). Estou protegido contra a ômicron?
É provável que não, segundo análises preliminares -o que desperta o receio de que possa haver um aumento do número de infectados nos países, mesmo entre aqueles imunizados com até duas doses ou que tiveram Covid.
Em teste de laboratório, a vacina da Pfizer e da BioNTech mostrou perda da taxa de anticorpos neutralizantes no combate à nova cepa. Porém, segundo as empresas, acredita-se que duas doses ainda evitem quadros graves.
Uma pesquisa conduzida por uma operadora de saúde sul-africana indiciou que pessoas imunizadas com duas doses da Pfizer/BioNTech e que foram infectadas com a ômicron têm 70% de chances de não precisar de internação, abaixo do percentual na comparação com contaminados pela delta.
Além disso, a proteção contra infecção pela nova cepa caiu de 80% para 33%. O trabalho baseou-se em 211 mil testes de Covid, dos quais 78 mil foram atribuídos à ômicron, considerando a prevalência da cepa no período analisado.
A queda de proteção foi igualmente observada por pesquisadores da Universidade de Oxford que analisaram amostras de sangue de imunizados tanto com o produto da Pfizer/BioNTech quanto com o da AstraZeneca.
O quadro se repetiu em uma análise de pesquisadores nos Estados Unidos. Eles examinaram sangue de pessoas que receberam duas doses da Moderna ou da Pfizer/BioNTech e uma da Janssen.
Análises na África do Sul e em Israel também sinalizaram a perda de eficácia com duas doses da Pfizer.
Todos esses testes, que não foram revisados por outros especialistas e devem ser vistos com cautela, convergem para o resultado de que a aplicação da terceira dose pode restaurar a proteção contra a doença.
Embora ainda sejam necessárias mais informações sobre a eficácia das vacinas no enfrentamento à ômicron, laboratórios anunciaram que pretendem atualizar versões contra a nova cepa, a serem entregues em 2022.
Já tomei o reforço da vacina contra Covid. Estou protegido contra a ômicron?
Supõe-se que sim, de acordo com dados preliminares.
Resultados iniciais de uma análise feita no Reino Unido com 581 pessoas contaminadas com a ômicron sugeriram que uma terceira dose da Pfizer oferece uma proteção de 70% a 75% contra a nova cepa.
Outro estudo, conduzido em Israel, também indicou maior proteção contra a ômicron com a terceira dose, mas em nível inferior ao alcançado em relação à delta.
A OMS, entretanto, adota um discurso cauteloso e diz serem necessárias mais evidências de que a terceira dose de fato funciona contra a ômicron.
Uma pesquisa sul-africana, por exemplo, sugeriu que mesmo três doses não seriam capazes de impedir a contaminação pela nova cepa.
De qualquer forma, no Brasil, antes do surgimento da variante, já estava decidido que todas as pessoas com mais de 18 anos podem receber o reforço cinco meses após a segunda dose.
Em São Paulo, o intervalo entre a segunda e a terceira dose é de quatro meses.
No caso da vacina da Janssen, o reforço tem sido aplicado no país depois de dois meses ou mais da dose única inicial.
Só com uma dose de vacina da Pfizer, da Astrazeneca ou da Coronavac estou protegido contra ômicron?
Não está, nem contra a ômicron nem contra as demais variantes do Sars-Cov-2.
Os laboratórios que desenvolveram os imunizantes recomendam a aplicação de ao menos duas doses para que tenham o efeito esperado: evitar internações e mortes.
O que a OMS diz sobre a nova variante?
A entidade considera que a ômicron representa um risco muito elevado. Teme-se que ela se propague mais rapidamente que a variante delta, infectando mais pessoas e sobrecarregando sistemas de saúde.
Na África do Sul, por exemplo, a quantidade de novas infecções diárias disparou após a identificação da nova cepa no país. Além disso, há relatos de casos de reinfecção.
Na avaliação da OMS, existe uma série de incertezas sobre a nova cepa, que, até esta terça (14), tinha casos confirmados em 77 países, entre os quais o Brasil.
Por que a ômicron ‘dribla’ a vacina?
As vacinas são desenvolvidas com base na sequência genética do coronavírus. Com isso, se uma nova cepa com mutações difere de forma significativa de variantes anteriores, existirá a chance de que ela escape das defesas do corpo.
Pesquisadores do hospital Bambino Gesù, em Roma, na Itália, concluíram que a ômicron conta com 43 mutações na proteína S (spike ou espícula), utilizada pelo Sars-Cov-2 para entrar nas células humanas.
Imunizantes da Pfizer, AstraZeneca e Janssen, por exemplo, têm essa proteína como alvo para ensinar o organismo humano a combater a doença.
No caso da Coronavac, que se baseia na tecnologia de vírus inativado, o produto ensina o sistema imune a combater o coronavírus inteiro, não apenas a proteína spike. Assim, é possível que sua proteção seja mantida contra a nova variante.
Porém, em todos os casos, são necessários novos estudos para ratificar isso.
A ômicron provoca quadros graves de Covid?
Não há evidências que demonstrem isso, por enquanto.
A maioria dos casos na Europa, segundo a OMS, apresenta sintomas leves. Outros infectados ficam assintomáticos.
Cenário similar tem sido visto na África do Sul, onde há mais internações de pacientes com Covid, mas sem impacto no número de mortes -no país, menos da metade da população se vacinou completamente.
Por enquanto, o único óbito relacionado à nova cepa de que se tem notícia ocorreu no Reino Unido. No país, os casos confirmados de ômicron passam de 4.000.
A dose de reforço provoca efeitos colaterais?
,Sim, pode provocar, assim como a primeira e a segunda doses. No entanto, geralmente são leves e não representam perigo, segundo especialistas.
As reações mais comuns repetem as observadas após a imunização com a primeira e com a segunda dose: dor no local da injeção, mialgia (dor no corpo), cansaço, dor de cabeça, febre, calafrios e inchaço no local da injeção.
Outros efeitos colaterais menos frequentes são náuseas, vômitos, diarreia, hematomas e vermelhidão no braço, febre alta, sudorese excessiva e coceira na pele.