Vivian Guilherme
É com muita atenção que o biólogo Antonio Corrêa Filho atende à porta e recepciona a reportagem do JC em sua residência. Aparentemente uma casa normal, o lar do senhor Corrêa está longe de ser convencional.
Logo na sala de entrada há uma onça e uma lagosta. No escritório, um leão, uma coruja, um tucano, araras e muitos pássaros. Em outra sala há um aquário seco, uma parede repleta de peixes, polvos etc.
Ao longo de seus 85 anos, Corrêa dedicou quase 60 deles à ciência da taxidermia. Piracicabano, mas morador da Cidade Azul e rio-clarense de coração, o biólogo é referência mundial no assunto.
Conhecida por poucos, a taxidermia é a arte de preparar animais mortos utilizando técnicas especiais. A despeito do que pensam os defensores dos animais, a taxidermia obedece às leis naturais e não sacrifica os bichos, pelo contrário, trabalha com animais que já morreram.
Corrêa exemplifica mostrando exemplares de animais que morreram em zoológicos e são encaminhados para que ele faça o tratamento e que possam ser estudados. “Essa onça, por exemplo, morreu no parto”, relata o estudioso mostrando a cabeça de um bicho pendurado na parede do escritório.
Apaixonado pela arte, o biólogo lembra que pessoas de vários cantos do país o procuram para aprender as técnicas ou para pedirem o embalsamento de algum animal. Segundo calcula, já embalsamou mais de duas mil cabeças de boi.
Autodidata, Corrêa se interessou pela profissão ainda pequeno, quando seu pai trabalhava como guarda no Museu da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo. “Eu via tudo aquilo e achava muito interessante, também queria fazer e então comecei”, revela.
Suas técnicas foram compiladas em um livro, “As Técnicas Modernas de Taxidermia”, referência para qualquer pesquisador no mundo. Com tiragem esgotada, o livro foi traduzido também para o espanhol e distribuído por toda a América Latina.
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“Fui convidado a vir para a Unesp em Rio Claro e permaneci um tempo até o doutor Zeferino Vaz dar uma aula inaugural aqui e ficar bastante interessado em saber quem montava aqueles esqueletos que eram tão brancos. Ele pediu para que eu fizesse um esqueleto humano e me mandou os 112 ossos. Eu montei e mandei. Ele ficou vibrando”, relata o professor que diz que logo após o reconhecido médico o convidou para trabalhar e participar da fundação da Universidade de Brasília (UNB).
Com muitos anos de trabalho na UNB, Corrêa retornou para São Paulo na década de 60, novamente a pedido de Vaz, para lecionar taxidermia na Unicamp. Em sua trajetória, colaborou com a criação de um guia de aves e até deu nome a um inseto.
“Eu fui o primeiro a pegar este inseto, ele não estava classificado, a família não era conhecida. Como meu nome é Corrêa, passou para o latim e ficou Coreidae. Fizeram uma homenagem para mim”, revela mostrando a imagem de um dos insetos da Família Coreidae, o percevejo-do-maracujá.