Vilmo Rosada: o ítalo-brasileiro que mudou a ‘cara’ de Rio Claro

Primeira residência em que viveu o escultor, na Avenida 5, completa 80 anos em 2024. Nascido na Itália, Vilmo Rosada se tornou Cidadão Rio-Clarense antes da sua morte

Quem anda pela região central de Rio Claro talvez não perceba no dia a dia. Mas, quem passa pela Avenida 5 e com o olhar atento vai se deparar com a fachada de uma residência que se destoa das demais. Construído há exatos 80 anos, isto é, apenas 10 anos após a fundação do Jornal Cidade, o imóvel conta com um valor arquitetônico e artístico grande e representa um pouco do que Rio Claro foi no passado.

Trata-se da primeira casa onde viveu na Cidade Azul o escultor ítalo-brasileiro Vilmo Rosada (1905-1987), que recebeu em 1967 o título de Cidadão Rio-Clarense diante da sua inestimável contribuição para o município. Conforme o livro Patrimônio Edificado, do Arquivo Público e Histórico de Rio Claro, essa foi a primeira casa que Rosada morou ao lado da esposa Belmira Mônaco.

A construção surpreende, conforme registra a publicação, com os elementos de vários estilos arquitetônicos utilizados de forma ousada e coerente que valem destaque, como a laje sinuosa moderna e elaborada em concreto armado, as colunas torsas com base e capitel em estilo dórico grego. O portão de entrada, a porta social e a esquadria em curva que remetem ao estilo Art Nouveau.

Segundo explica os registros históricos do livro Patrimônio Edificado, a residência tem em sua parte externa duas esculturas de soldados romanos no período da guerra, feitas pelo próprio escultor, reacendendo a inspiração pelos traços arquitetônicos greco-romanos.

Na sala da residência ainda se encontram esculpidos na parede, Nossa Senhora e Jesus Cristo, feitos também pelo próprio Rosada. E próximo à mesa de jantar, um cenário da Santa Ceia, talhado e esculpido na parede, que exprime sua total admiração pela arte sacra. Os familiares que ainda residem no local guardam até hoje as ferramentas de trabalho que eram utilizadas pelo patriarca.

Algumas das Obras de Vilmo Rosada

Pelo Centro, na Praça da Liberdade – defronte à Matriz São João Batista – outra obra de Vilmo Rosada pode ser vista. É o busto do Dr. Vasco da Silva Mello, feita em 1962 em homenagem aos funcionários de um centro de saúde.

Em 1935, a entrada do Cemitério Municipal São João Batista foi escolhida para receber o Monumento ao Soldado Constitucionalista, uma monumental escultura em bronze, sobre uma lápide rosa, obra-prima da autoria de Rosada, projeto solicitado pelo então prefeito da época, Humberto Cartolano.

Na Loja Maçônica “Estrela do Rio Claro”, localizada na Rua 4, há uma sala com grandioso acervo artístico de esculturas e alto relevos de autoria do premiado escultor. No dia 16 de agosto de 1964, foi inaugurado no Jardim Público um monumento em homenagem ao educador Arthur Bilac, outra obra de Vilmo Rosada.

O icônico leão que está no alto do monumento instalado dentro do Parque Municipal do Lago Azul é de autoria do escultor. Presente no brasão da bandeira municipal criado pelos professores Dr. Zulmiro Ferraz de Campos e Carlos Hadler, que fora transformado em lei em 1932, o leão em ouro em repouso simboliza o povo rio-clarense descansando após vitórias políticas e liberdade conquistada.

Acervo

Peças e documentos pertencentes a Vilmo Rosada hoje compõem o acervo da Pinacoteca Municipal Pimentel Jr, no Casarão da Cultura, obras essas cedidas pela família do escultor e que foram restauradas.

Admiração

Um dos grandes nomes das artes plásticas da atualidade, o rio-clarense Camilo Riani expressa sua admiração pelas obras de Vilmo Rosada. “Lembro-me da admiração e do fascínio que sentia na infância ao me deparar com as esculturas do Vilmo Rosada. Os bustos nas praças, os pilares humanizados da casa dele, na Avenida 5, entre tantas outras obras inesquecíveis que tive o prazer de conhecer e admirar pessoalmente”, comenta.

Riani destaca que nunca tiveram contato pessoal e próximo. “Porém, como todos os artistas, nossa conexão se dá profundamente por meio de nossas próprias obras, gerando uma presença clara no outro, como uma ‘artexperiência’ viva. Posso dizer que aprendi muito sobre anatomia observando atentamente, ainda menino, os detalhes das obras desse grande artista. Isso me influenciou na observação detalhada de rostos, resultando num verdadeiro fascínio pela expressão artística fisionômica, desembocando em minha carreira como caricaturista”, acrescenta.

Para o também artista, Vilmo Rosada “foi e é, sem dúvida, um dos maiores artistas de nossa história. Em cada rosto que crio em minha arte caricatural, há um toque de inspiração deste grande mestre da escultura de nossa cidade”, finaliza.

Lucas Calore: