Ednéia Silva
Depois do Outubro Rosa, marcado pela campanha de mobilização para prevenção do câncer de mama, agora chegou a vez do Novembro Azul, dedicado às ações relacionadas ao câncer de próstata e à saúde do homem. O mês foi escolhido porque em 17 de novembro é comemorado o Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata. Para falar sobre o tema, o Café JC entrevista o médico urologista Alexander R. Salem. A reportagem foi feita pelos jornalistas Ednéia Silva e Wagner Gonçalves.
JC – Estamos em plena campanha do Novembro Azul. Esse tipo de mobilização ajuda na conscientização dos pacientes?
Dr. Salem – Sim, ajuda. Já notamos um movimento maior no consultório neste mês por causa da campanha. Muitos pacientes comentam que vieram por causa da campanha de prevenção que também está sendo realizada nas estradas. Essas iniciativas são muito válidas para a prevenção e o tratamento da doença.
JC – O que é a próstata e para que serve?
Dr. Salem – A próstata pesa cerca de 20 gramas, tem o tamanho similar ao de uma castanha, e está localizada embaixo da bexiga. Ela produz o líquido espermático que alimenta o espermatozoide.
JC – Qual é a incidência de câncer de próstata no Brasil?
Dr. Salem – O câncer é considerado a doença da sociedade moderna. A cada 7,6 minutos é feito um diagnóstico de câncer no país. O Inca (Instituto Nacional do Câncer) estima o surgimento de 68.800 novos casos neste ano. O câncer de próstata é o segundo tipo mais comum entre os homens e perde apenas para o câncer de pele. A doença mata mais de 13 mil pacientes por ano, um óbito a cada 40 minutos.
JC – Como é feito o diagnóstico?
Dr. Salem – A doença pode ser detectada através do PSA (sangue) e do toque retal. Sempre ressalto a importância de fazer os dois exames, porque o PSA pode ter resultado normal, enquanto o exame de toque retal apresenta alteração e vice-versa.
JC – Sempre existiu um preconceito muito grande em relação ao exame de toque. Isso ainda ocorre?
Dr. Salem – Ainda existe reticência, mas houve também uma grande melhora na aceitação do exame. Muitos homens ainda precisam ser convencidos a fazer o exame, por medo do resultado e também pelo preconceito. O exame é melhor aceito entre os pacientes mais jovens, entre 45 e 60 anos. Quanto maior a idade, maior o medo e o preconceito. É importante esclarecer que o toque retal é a forma mais eficaz de diagnóstico. A alternativa seria o ultrassom transretal, mas esse exame é muito mais agressivo.
JC – O câncer de próstata tem cura?
Dr. Salem – Se o diagnóstico for precoce, a chance de cura é de 90% sem a necessidade de fazer quimioterapia, somente com cirurgia ou radioterapia. Se o diagnóstico for tardio e o câncer já estiver em metástase, o índice de chance de cura cai para menos de 20%. Se o tumor atingir o osso, a chance de sobrevida diminui drasticamente.
JC – Quando devem ser iniciados os exames preventivos?
Dr. Salem – Se o paciente tiver parentes de primeiro grau (pais e irmãos) que tiveram câncer ou forem negros, devem fazer o exame a partir dos 40 anos de idade. Quem não se enquadra nessas situações pode começar os exames a partir dos 45 anos. O exame deve ser anual. A rede pública de saúde também disponibiliza o exame através do Cead (Centro de Especialidades e Apoio Diagnóstico).
JC – Homens mais jovens podem fazer o exame?
Dr. Salem – Nada impede que os homens façam o exame antes das faixas etárias recomendadas. Em homens com menos de 40 anos a incidência da doença é pequena. O paciente mais jovem que atendi tinha 42 anos.
JC – Há algum sintoma que denuncie o câncer de próstata?
Dr. Salem – O câncer de próstata é uma doença altamente silenciosa. Quando começa a dar sintomas, geralmente já está em estágio avançado. Nessa fase o paciente tem dor ao urinar, emagrece e apresenta sangue na urina. É importante distinguir o câncer do aumento da próstata, chamada hiperplasia prostática. Os sintomas são praticamente os mesmos, mas a hiperplasia não é câncer. Somente o exame pode fazer o diagnóstico correto.
JC – Além do exame, existe algum tipo de prevenção ao câncer de próstata?
Dr. Salem – O melhor método preventivo realmente é o exame. Mas evitar a obesidade, gordura animal e o sedentarismo e manter uma alimentação saudável ajudam na prevenção à doença. A prevenção diminui em 21% o risco de mortalidade.