O número de pessoas infectadas pelo coronavírus cresceu 53% em duas semanas, entre a primeira e a segunda fases da pesquisa nacional sobre a doença, a Epicovid-19. A segunda rodada do estudo foi a campo entre os dias 4 e 7 de junho.

Trata-se da variação do número de pessoas que tinham anticorpos para a doença, testadas na Epicovid-19, em 83 cidades para as quais é possível comparar os dados das duas etapas. Nesses municípios, a taxa de infecção passou de 1,7% da população para 2,6%. Na contagem oficial de casos, a evolução foi de 33,5%.

A relativamente baixa proporção de pessoas infectadas indica que a imunidade coletiva (“de rebanho”) ainda está longe. A infecção pelo coronavírus praticamente terminaria quando cerca de 65% de uma população estivesse infectada (essas projeções variam e são objeto de controvérsia).

Considerada a taxa de infectados na pesquisa e a evolução recente da doença, levaria ainda de dois a três meses para que um estado como São Paulo chegasse perto da imunidade coletiva. No entanto a taxa de crescimento de novos casos cai, embora muito lentamente.

No conjunto do país, pelos dados oficiais, o número de casos tem crescido ao ritmo de cerca de 100% por quinzena. No estado de São Paulo, ao passo de 81%.

Nas 120 cidades em que os pesquisadores puderam fazer mais de 200 testes vivem cerca de 68,6 milhões de pessoas, das quais 2,8% tinham anticorpos, na estimativa da Epicovid-19. Logo, cerca de 1,9 milhão de pessoas tinham sido até então infectadas, tenham ou não apresentado sintomas da doença.

Pelos números oficiais, até 3 de junho esses municípios haviam contado 296.305 casos e 19.124 mortes. Em geral, são contados oficialmente apenas casos sintomáticos, dada a escassez de testes, entre outros problemas do sistema de saúde.

Assim, o número total de casos de infecção deve equivaler a seis vezes o total de casos oficiais, ao menos nessas 120 cidades (na primeira etapa da pesquisa, era de sete essa relação entre casos de infecção e casos oficiais). A estimativa da Epicovid-19 sugere uma taxa de letalidade alta, de 1% (isto é, a porcentagem do total de infectados que acaba por morrer).

“Os resultados dessas 120 cidades não devem ser extrapolados para todo o país, nem usados para estimar o número absoluto de casos no Brasil, pois são provenientes de cidades populosas, com circulação intensa de pessoas e que concentram serviços de saúde”, dizem os autores do estudo.

A diferença de taxas de infecção pelas regiões brasileiras é grande. “As 15 cidades com maiores prevalências incluem 12 da região Norte e 3 do Nordeste (Imperatriz, Fortaleza e Maceió). Na região Sul, nenhuma cidade apresentou prevalência superior a 0,5%”, diz o estudo.

Na pesquisa, a cidade de São Paulo continua com algo próximo de 3% de infectados. No Rio de Janeiro, de 7,5%. As capitais com maior prevalência na segunda etapa foram Boa Vista (RR), com 25,4%, Belém (PA), com 16,9% e Fortaleza (CE), 15,6%.

O estudo é um um teste de uma amostra da população. Os pesquisadores colheram exames gratuitos de 31.165 de 133 cidades de todos os estados do país.

O trabalho é coordenado por Pedro Hallal, epidemiologista e reitor da Universidade Federal de Pelotas, em colaboração com pesquisadores de Universidade de São Paulo, a Universidade Federal de São Paulo, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, a Fundação Getúlio Vargas e a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

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