SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) –
Após uma série de novas denúncias de assédio sexual e moral, Marcius Melhem, 48, revelou que demorou um ano para falar porque antes de tudo queria entender o que estava acontecendo. Em entrevista ao UOL, o ator e diretor disse que “depois de um ano, eu consigo entender que tudo que aconteceu e está acontecendo comigo, aconteceu a partir dos meus erros.”
“Hoje eu entendo que tive comportamentos, atitudes, que não cabem mais. Entendo que fui, como homem, e é muito doloroso para mim dizer isso aqui porque me expõe, expõe minha família mais do que já estão expostas, minha ex-mulher, minhas filhas, mas estou aqui por uma questão de dignidade. Já não é uma questão de culpado, inocente, não ser ouvido, condenado, é uma questão de dignidade”, diz.
“Eu fui um homem tóxico, um marido péssimo, uma pessoa que cometeu excessos em se relacionar com pessoas dentro de seu próprio ambiente de trabalho, coisa que eu não via problema, mas hoje entendo todas as nuances que isso pode ter. Entendo que eu, como homem, feri pessoas, magoei, traí, fui galinha, tudo isso foram erros meus e num mergulho muito profundo feito neste ano cada vez entendo mais”, continuou.
A colunista Monica Bergamo, da Folha, foi a primeira a expor a extensão das acusações contra o humorista, por meio de uma entrevista com a advogada Mayra Cotta, publicada em 24 de outubro. Nesta sexta (4), reportagem da revista piauí revelou detalhes sobre dois assédios sofridos por Dani Calabresa que causaram comoção de internautas e artistas. Na época dos fatos, Melhem atuava como diretor humorístico da emissora. Segundo testemunhas e colegas da atriz, as situações aconteceram em 2017.
Ainda em entrevista ao UOL, Melhem afirmou que teve ajuda de amigos e que “mergulhei na minha própria lama para entender, e ainda estou entendendo, os meus erros”. “É preciso dizer que, em cima dos meus erros, e das coisas que efetivamente eu fiz, tem muita coisa sendo falada que é mentira e muita coisa sendo falada que, de forma alguma, eu fiz e isso eu preciso combater.”
O ex-diretor da Globo também criticou a advogada Mayra Cotta que, segundo Melhem, “traçou um perfil meu de um abusador serial e de uma pessoa que tem hábitos violentos” na entrevista a Monica Bergamo. “Eu jamais, embora confesse meus excessos e já confessei aqui e a gente pode conversar sobre eles, eu jamais tive nenhuma relação que não fosse consensual e eu jamais pratiquei nenhum ato de violência com quem quer que seja na minha vida. Esse perfil que foi traçado ali ele não corresponde de forma alguma a quem eu sou.”
Melhem afirmou que já entrou com uma ação da Justiça, na quinta passada (3), contra a advogada Mayra Cotta, que representa as mulheres e testemunhas que o acusam de assédio, para que ela prove as denúncias. “Uma advogada devia ser a primeira pessoa a acreditar na lei, e não buscar justiça pela imprensa. A justificativa que ela usa de que as vítimas teriam medo de se expor, as vítimas estão expostas, estão completamente expostas. Não tem ninguém mais exposto hoje que a Dani Calabresa.”
Disse também que vai tomar medidas judiciais contra Dani Calabresa, pedindo que ela confirme ou desminta relatos de assédio que teria sofrido. “É uma pena eu ter que fazer isso, mas estou interpelando a Dani Calabresa para que ela confirme ou desminta o teor da matéria da piauí, porque eu e ela sabemos que aquilo não aconteceu.”
“Nós sabemos em que ponto a nossa relação se deteriorou profissionalmente e isso está sendo recontado hoje de outra forma nessa matéria [da “Piauí”]. Eu quero acreditar que a Dani Calabresa sabe que aquilo ali não aconteceu e é por isso que estou interpelando ela, porque eu tenho, como ela também tem, toda a comunicação que eu e ela tivemos em todos esses anos. É impossível aquilo ter acontecido e a gente ter durante dois anos a partir dali a relação que a gente teve, de amizade, de carinho, de parceria profissional, como se nada tivesse acontecido. É impossível isso ter acontecido.”
Dani Calabresa, 38, se manifestou publicamente pela primeira vez sobre os novos detalhes que vieram à tona nesta sexta-feira (4) sobre as denúncias de assédio moral e sexual feitas contra Marcius Melhem. A humorista foi a primeira mulher a levar a situação à alta cúpula da Globo.
“Nunca quis ser vista como uma mulher assediada”, afirmou Calabresa, em mensagem postada nas redes sociais. “Mas para recuperar a minha saúde, precisei me defender. Nunca procurei a imprensa. Tomei as medidas cabíveis para conseguir ajuda. Tudo e muito difícil, dá medo, vergonha, mas temos que lutar por respeito e justiça. Não passarão. Assedio e crime!”
Na entrevista ao UOL, Melhem disse que “não é pelo Instagram que a gente vai definir responsabilidades”. “Eu e ela sabemos como era nossa relação. Assim como, com certeza, ela tem tudo o que nós trocamos esse tempo todo, como era nossa relação antes e depois daquela festa, eu também tenho. Mas não estou dizendo isso em tom de ameaça, não. Eu tenho profundo respeito pela Dani Calabresa, não tenho nenhum ódio dela, eu acho ela uma excelente comediante.”
O ator disse que “lamenta muito que tenha chegado nesse ponto, mas é importante que nós dois vamos até a Justiça, para que lá tudo fique esclarecido e a responsabilidade seja devidamente colocada”. “É só o que eu posso dizer. Mas eu não tenho raiva nem dela, nem de ninguém. Trabalhei muito para não ter raiva de ninguém, porque eu não quero duvidar da dor de ninguém e não quero ficar nessa posição.”
Sobre os relatos de assédio citados na reportagem da revista piauí, Melhem disse que aquilo não aconteceu, mas não quis dar sua versão. “Eu não vou contar. O que eu posso dizer é que aquilo que aconteceu naquela festa, aquela narrativa é completamente fantasiosa, irreal. Tenho testemunhas de que aquilo não aconteceu.”
“Não vou expor a Dani dizendo o que aconteceu entre eu ela nem naquela festa nem [interrompe]. O que posso dizer, por exemplo, é que se tivesse acontecido… porque na narrativa da piauí, a partir dali ela teria ficado traumatizada comigo. Isso não aconteceu! Uma semana depois daquela festa, nós trocamos mensagens”, continua o ator, ao ressaltar que ele e as filhas foram convidados pela atriz para ir à Disney.
Perguntado sobre a frase que publicou em um tuíte, “combato o machismo que existe em mim”, e se de alguma forma esse machismo se traduziu em forma de assédio, Melhem disse que nunca ninguém falou ou se queixou de que ele estava assediando alguém.
“Hoje, vejo diferente. Olho para comportamentos que tive, flertes dentro do trabalho, e vejo que alguém pode ter essa leitura. Sinceramente vejo que essa leitura pode existir. Mas, até por isso, é preciso que os casos apareçam. Se aparecer qualquer caso que eu tenha assediado alguém, passado do limite com alguém, que eu tenha sido inconveniente com alguém, inconsequente, eu imediatamente vou reconhecer. Estou disposto a reconhecer qualquer coisa que eu tenha feito, qualquer coisa. Eu já me expus.”
Dani Calabresa agradeceu pelas manifestações de carinho que vem recebendo tanto de amigos, colegas e do público em geral após o caso ser divulgado. “Obrigada pelas mensagens de apoio, agradeço demais a Mano Miklos e a doutora Mayra Cotta pelo apoio. E preciso declarar aqui todo meu amor e gratidão a Maria Clara Gueiros, minha amiga do meio artístico que me apoiou desde o inicio! Que mulher maravilhosa! Amorosa! Justa! (E hilária!).”
O movimento Me Too Brasil divulgou uma nota de apoio à atriz. “Dani Calabresa sofreu calada durante anos. Foi assediada diversas vezes, viu seus sonhos serem despedaçados e ainda enfrentou desconfiança e inúmeras dificuldades para denunciar a série de abusos que sofreu de seu ex-chefe, Marcius Melhem. O Me Too Brasil apoia sua atitude de denunciar, sua força é o exemplo que precisamos para ajudar a diminuir os casos de assédio no Brasil e no mundo”, diz o comunicado.