Três anos depois de denunciar ser vítima de racismo e registrar um boletim de ocorrência, o rio-clarense e estudante de Administração Pública, João Gilberto Lima, 28 anos, teve uma resposta da Justiça que condenou o autor da ofensa pelos crimes de injúria racial e racismo.
O ano era 2017 e João havia ingressado havia poucos meses na FGV (Fundação Getulio Vargas) – faculdade localizada em São Paulo. Sem saber, no dia 6 de setembro, ele foi fotografado conversando com duas alunas brancas por um outro aluno que divulgou a imagem em um grupo de WhatsApp para colegas verem com a seguinte frase: “Achei esse escravo no fumódromo. Quem for o dono avisa”.
Em março de 2018 a postagem chegou ao conhecimento da coordenação, que chamou João para uma conversa. Foi então que ele teve conhecimento da publicação: “Não tinha nenhum vínculo com esse aluno que tirou a foto. Apesar de estudarmos na FGV, não me lembro de tê-lo visto antes. Diante do que fiquei sabendo, procurei o 4º DP de São Paulo e registrei o boletim de ocorrência. Depois fui chamado para prestar depoimento em uma delegacia especializada”, relembra a vítima.
Na época, a FGV suspendeu o autor da postagem por três meses, prazo no qual seria avaliada a expulsão ou não. Ele buscou na Justiça o direito de retornar a frequentar as aulas e conseguiu, porém, depois de um tempo, deixou por vontade própria a faculdade. Já João seguiu frequentando o curso enquanto o processo corria: “Tive muito acolhimento por parte dos meus colegas e da coordenação do meu curso. Isso foi fundamental”, citou.
A decisão a respeito da denúncia foi assinada este ano, no mês de março, pela juíza Paloma Moreira de Assis Carvalho, da 14ª Vara Criminal, do Tribunal de Justiça de São Paulo. O réu foi condenado a dois anos e quatro meses de prisão por racismo e injúria racial. A pena foi revertida em prestação de serviços comunitários. Ele ainda terá que pagar cinco salários mínimos à vítima. A magistrada reforçou que “não convence” a versão apresentada pelo réu de que ele não teria sido o responsável pela foto, postagem e mensagem, já que os fatos narrados por João Gilberto e as oito testemunhas de acusação, todas funcionárias da FGV, foram uniformes e lógicas. A defesa do acusado, que é feita pelos próprios pais que são advogados, disse que irá recorrer.
“É uma condenação importante que abre precedentes futuros. Não se calem, denunciem. O racismo não é brincadeira, é crime e infelizmente existe. Não tenho a pretensão de acabar com isso, nem esse poder, mas acredito que o que aconteceu comigo entra como um importante capítulo nesta luta. A decisão é inédita pelo que o meu advogado me passou e também a partir de uma fala de uma professora de direito da PUC que pesquisa sobre o assunto. Ambos relataram que desde a promulgação da Lei 7.716/1989 há 32 anos a decisão é inédita com enfoque na dupla condenação”, pontuou João Gilberto.