MARCELO TOLEDO
RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – A pequenina Motuca (SP) viveu momentos de apreensão nos últimos dois meses devido ao agravamento da pandemia de Covid-19. Sem uma rede hospitalar com UTI (Unidade de Terapia Intensiva), ela dependia de Araraquara (a 273 km de São Paulo), da qual um dia já foi distrito para internar seus pacientes.


No entanto, a circulação da variante brasileira do coronavírus fez com que as UTIs de Araraquara ficassem por semanas com ocupação de 100% de seus leitos, o que obrigou Motuca, que tem 4.795 habitantes, a levar seus pacientes para municípios distantes até 185 quilômetros.


A típica cidade interiorana, porém, seria uma das 128 localidades varridas do mapa -as menores do estado– caso as 400 mil mortes relacionadas à Covid-19, registradas nesta quinta (29), estivessem concentradas nos pequenos municípios paulistas. Juntas, elas têm pouco mais de 403 mil habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).


Uma em cada cinco das 645 cidades de São Paulo também sumiria do mapa -desde a menor delas, Borá, com seus 838 habitantes, até Motuca.


Toda a população de Borá, aliás, poderia ter desaparecido logo nas primeiras semanas da pandemia, já que em 9 de abril do ano passado o país acumulava 957 óbitos.


“Temos pedido sempre que a população colabore, é o que tem de ser feito. Fui com o prefeito num assentamento e passamos por uma cachoeira, que faz parte de outro município, e tinha umas 40 pessoas sem máscaras tomando banho, aglomeradas. Se não houver conscientização, a tendência é só piorar”, afirmou Márcio Contarim, secretário da Saúde de Motuca.


Com 7 óbitos registrados dentre 266 casos de infecção confirmados de Covid-19, a cidade tem atualmente três pacientes internados em Araraquara, segundo a secretaria de Saúde do município vizinho.


Motuca, até sua emancipação, em 1993, era distrito de Araraquara, cidade que se tornou símbolo do avanço da variante P.1 do vírus, viu explodir casos, internações e mortes e foi a primeira a decretar lockdown, em fevereiro.
Com a rede hospitalar de sua cidade referência lotada, Motuca enviou pacientes para São Carlos (77 quilômetros) e até Ituverava, distante 185 quilômetros.


“A variante P.1 preocupa, mas, geralmente, temos condições de estabilizar os casos na unidade de saúde local, que tem atendimento 24 horas e sala de urgência com respirador [até a internação]”, disse Contarim.
Uma das preocupações na cidade é a realização de festas não autorizadas, que têm sido coibidas pela Polícia Militar e pela fiscalização municipal.


Da lista de 128 cidades paulistas cujas populações, somadas, equivalem às 400 mil vítimas da Covid-19 registradas no país desde o início da pandemia, ainda estão localidades espalhadas por praticamente todas as regiões do estado, como Ribeirão Corrente e Jeriquara, na região de Franca, Marinópolis e Turmalina, na região de São José do Rio Preto, ou Nova Guataporanga, na região de Presidente Prudente.


Em geral, elas têm pequenas unidades de atendimento de saúde aos seus moradores, sem leitos de UTI, o que amplia a preocupação em meio à escalada na ocupação de leitos intensivos registrada nos últimos meses.


A lista inclui Monteiro Lobato, que, com seus 4.696 moradores, registrou um aumento grande de casos entre março e abril. Sem UTI, a cidade do Vale do Paraíba tem como referência hospitalar São José dos Campos e possui apenas uma UBS (Unidade Básica de Saúde) e uma equipe de saúde da família. Por isso, desde o ano passado a prefeitura contratou até seguranças privados para dispersar aglomerações, inclusive de turistas.


Ex-distrito de São José dos Campos, ganhou o nome em 1949, em homenagem ao escritor, que viveu na Fazenda do Buquira.


Embora seja pouco populosa, registra grande fluxo de veículos que passa pela cidade, já que é rota para o sul de Minas Gerais ou para cidades como Campos do Jordão.


Hoje, Monteiro Lobato tem cinco mortes confirmadas e 224 casos confirmados de Covid-19. Cinco pacientes fazem o tratamento em casa e não havia nesta semana nenhum paciente internado em enfermaria ou UTI.


“Estávamos tranquilos quando começamos [o mandato, em janeiro], mas, de repente, em março, houve aquele pico. Felizmente, achamos que já conseguimos passar pela fase mais difícil. Os índices de internação no Vale estão melhorando. Mas a preocupação tem de ser diária”, disse o secretário da Saúde da cidade, João Francisco Ferreira.


Em Mira Estrela, cidade de 3.106 habitantes na região de Rio Preto, a prefeitura decidiu adotar lockdown em março, seguindo o que fizeram o maior município da região e outras dez cidades, devido à lotação nas UTIs de Rio Preto.
Então com quatro óbitos e 156 casos, hoje Mira Estrela tem nove mortes e 289 confirmações da doença, segundo dados do governo paulista.


De todas as cidades que desapareceriam nesse cenário hipotético, apenas Borá, Fernão e Sagres (as duas últimas com 1.727 e 2.430 habitantes, respectivamente) não registraram até esta semana óbitos ligados ao coronavírus.

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