Grades do local começaram a ser retiradas e espaço recebeu ampliação

Vivian Guilherme

Grades do local começaram a ser retiradas e espaço recebeu ampliação
Grades do local começaram a ser retiradas e espaço recebeu ampliação

Reforçar a ideia da garantia de direitos sociais das pessoas que sofrem com algum tipo de transtorno mental é a proposta do Dia Nacional da Luta Antimanicomial, que foi comemorado no último dia 18. A discussão visa proporcionar formas substitutivas e mais humanizadas de tratamento que não sejam a internação em manicômios ou hospitais psiquiátricos.

A luta antimanicomial traduz, antes de tudo, uma intervenção humanitária e ética que visa a superação dos hospitais psiquiátricos por serviços denominados Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e também a organização de residências terapêuticas, para o acolhimento daquelas pessoas, sem vínculo familiar, que moram nos hospitais psiquiátricos ainda existentes. A proposta é que as pessoas tenham a possibilidade de resgatar a sua dignidade em uma condição de maior autonomia, ao ar livre. Essa proposta está ligada à experiência de desinstitucionalização da Psiquiatria Democrática, desenvolvida em Trieste, na Itália, por Franco Basaglia nos anos 1970.

Em Rio Claro, iniciativa importante marcou o Dia da Luta. Historicamente conhecido como símbolo da internação psiquiátrica na região, a Casa de Saúde Bezerra de Menezes deu início nesta semana a seu projeto cultural. Hoje, intitulado Centro Integrado em Atenção Psicossocial (Cinapsi), o projeto contempla novas abordagens no cuidado da atenção psicossocial.

As atividades de implantação do projeto vêm sendo desenvolvidas desde o ano passado e neste mês tomaram forma com o começo da retirada das grades internas do prédio, ampliação dos espaços e transformação do ambiente para o desenvolvimento de atividades culturais e de convivência. “É uma satisfação poder ter este movimento simbólico de retirada das grades, pois o Bezerra de Menezes, hoje Cinapsi, conseguiu a liberdade terapêutica”, comemora emocionada a assistente social Lea de Oliveira Wenzel Cruz, uma das mais antigas funcionárias do local.

O diretor técnico do Cinapsi, coordenador regional da RAPS14 e coordenador do grupo que elaborou o projeto, Francisco Drumond Marcondes de Moura Neto, conta que o próximo passo é a desinstitucionalização dos 36 moradores do hospital, que no prazo de até quatro meses devem ser vinculados aos serviços de residências terapêuticas. Então, a instituição não abrigará mais moradores, atendendo somente os quadros psiquiátricos agudos e em crise. “A partir do momento em que os moradores saem, é rompida a herança do hospital psiquiátrico. Algumas dessas pessoas estão morando aqui há 30 anos, é uma herança que vai ser superada com essas residências. Estamos vivendo um momento de travessia”, esclarece Drumond.

Segundo o médico, o espaço passou por reformas para possibilitar a implementação de projeto de formação, com duas salas de aula, biblioteca e salas para a organização operacional. E está em funcionamento desde o ano passado os espaços da Unidade de Atenção Intensiva, com 20 leitos e dispositivos para dar suporte ao território. Foram finalizadas neste ano, as novas instalações para a organização de atividades culturais e de convivência, dentre elas, as que englobam artesanato, cinema e música dentre outros.

DEMANDA
De acordo com Drumond, o atual perfil da demanda do Cinapsi está representado por pessoas em crise aguda ou por uso abusivo de álcool e drogas, incluindo as internações por demanda judicial. “Hoje, 80% das internações judiciais estão relacionadas ao uso de droga ou álcool”, afirma o médico.

O diretor explica que a procura por atendimento de quadros psicóticos diminuiu bastante e acredita que isso se deve ao fato de que o Caps tem feito um bom trabalho no tratamento de psicóticos.

Sobre o funcionamento do Cinapsi, ele esclarece que não é um dispositivo de portas abertas. Para receber atendimento, o usuário deve ser referenciado por algum serviço de saúde, seja o Caps ou qualquer ponto de atenção da rede do Sistema Único de Saúde (SUS), como as unidades básicas de saúde, as UPAS, dentre outros. “Hoje há uma grande demanda de cidades que não possuem psiquiatras no Pronto Atendimento. Das 26 cidades que atendemos, a maior parte não possui um psiquiatra na rede pública”, observa.

EQUIPE

Atualmente, o projeto conta com uma equipe multiprofissional composta por psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, enfermeiros, psiquiatras, nutricionista, farmacêutico, educadores físicos, além de monitores de terapia ocupacional e técnicos de enfermagem.

Os profissionais que já atuam concluíram em 2014 o curso de especialização em saúde mental e atenção psicossocial, sob orientação do Centro Universitário Hermínio Ometto (Uniararas). Para este ano está sendo planejada a realização de uma segunda turma do curso com 40 alunos.

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