Karina Matias – Folhapress
A ideia inicial era encontrar um novo comediante para integrar o elenco do Porta dos Fundos e, ao mesmo tempo, levar humor e tirar um sarro dos realities shows. Mas o projeto Futuro Ex-Porta, que estreia neste sábado (30) no YouTube, acabou se revelando muito mais emocionante do que os seus próprios idealizadores imaginavam.
Virou também uma forma de revisitar o passado ao relembrar esquetes e personagens marcantes do grupo, que em 2022 comemora dez anos de existência.
O programa começa com os humoristas do Porta reunidos para selecionar, entre os mais de 7.000 inscritos, os dez concorrentes que vão de fato participar do reality. É divertido ver a reação da trupe com os vídeos de até dois minutos que pessoas do país inteiro mandaram para tentar ingressar na competição.
Segundo Fábio Porchat, havia muito material bom, mas também muita coisa ruim. “Meu Deus do céu, como a gente recebeu vídeo ruim. Mas é uma alegria também, porque a gente se diverte com coisa horrível”, afirma ele, aos risos.
Apresentador do reality, é Porchat quem explica logo no início da atração o porquê do projeto se chamar Futuro Ex-Porta: uma brincadeira com atores que integraram o grupo, fizeram sucesso e então deixaram a trupe.
“Muitos desses atores cresceram e se tornaram maiores do que o nosso canal. Essa é a ordem natural da vida, você dá uma oportunidade para a pessoa, ela se aproveita, fica famosa, rica, depois te trai e some para tentar uma protagonista de novela da Globo e acabar com um programa no Multishow com a Nicole Bahls”, diz Porchat na abertura do reality, enquanto são exibidas cenas de ex-Portas como Clarice Falcão, Júlia Rabello, Marcus Majella, Marcos Veras e outros.
“É chegada a hora de buscar mais um ator para esse elenco, é chegada a hora de eleger o Futuro ex-Porta do Fundos. Vem com a gente escolher o futuro infiel”, prossegue o humorista.
A partir do segundo episódio, com os dez concorrentes já selecionados, o reality fica mais próximo de outros programas do gênero, com os participantes disputando provas eliminatórias. Muitas dessas dinâmicas envolvem a recriação de esquetes antigas, com os participantes interagindo com os integrantes do Porta.
E é aí que as coisas começam a ficar mais emocionantes. Gregório Duvivier, que não é espectador de realities no geral, admite que estava receoso com o projeto. “Fui morrendo de medo, mas me apaixonei pelas pessoas desde o primeiro dia.”
“Eu choro a cada episódio que tem que tirar alguém. Fiquei muito emocionado”, afirma. Porchat entrega que o colega é o “pior jurado que o programa podia ter”.
“Ele nunca queria eliminar ninguém, era um inferno, não ajudava em nada. No final, ele queria que todos ganhassem”, completa. Porchat diz que acabou sendo o Pedro de Lara (1925-2007) do projeto, uma referência ao comediante que ficou conhecido por ser um jurado carrasco em programas de auditório de TV.
“Eu tive que brigar com os meus colegas, que tinha que escolher um só se não iria descredibilizar o programa”, relata. Mas até ele se sensibilizou na primeira eliminação quando fez um discurso a la Pedro Bial no Big Brother Brasil com a intenção de provocar riso, mas o resultado se mostrou o contrário.
“A pessoa chorou, e aí a gente percebeu que não podia brincar com a eliminação, porque seria horrível. As pessoas estavam colocando a vida toda delas ali”, explica. “Os concorrentes levaram muito mais a sério do que a gente imaginou.”
Os humoristas afirmam que se surpreenderam em como muitos dos participantes do reality gostam e admiram o trabalho feito por eles no Porta. “Nós fomos entendendo que estávamos lidando com os sonhos das pessoas que chegavam ali e encontravam os ídolos delas. O programa ganhou essa dimensão muito maior”, destaca o diretor Rodrigo Van Der Put.
Também emocionou o grupo rever a sua própria história por meio dos depoimentos de ex-atores, dos trabalhos antigos revisitados e do próprio estúdio em que foi gravado o reality e que foi batizado de “A Fantástica Fábrica do Porta”.
“Os concorrentes convivem nesse estúdio com personagens do Porta como o Peçanha [interpretado por Antonio Tabet], o Deus da Polinésia [vivido por Infante]… é como se eles [os participantes] vivessem nesta fábrica em que a comédia está sendo feita”, afirma o diretor.
Porchat afirma que a ideia de buscar novos talentos surgiu há seis anos. “A gente queria furar um pouco o eixo Rio-São Paulo e trazer gente de outros lugares”. Dentre os vídeos das pessoas que se inscreveram e são apresentados no primeiro episódio, há algumas alfinetadas ao grupo sobre a falta de diversidade do elenco do Porta.
O humorista diz que eles não se incomodam com isso. “A gente adora alfinetada. O nosso telhado também é de vidro. A gente fica muito atento a isso, tentando corrigir erros estruturais, afinal de contas, o Porta é fundado por cinco homens heteros, brancos e cisgênero.”
“Claro, a pessoa tinha que mandar um bom material, mas estávamos com esse olhar, de abranger todo o Brasil. E acho que conseguimos, tem gente do Rio Grande do Sul, de Goiânia, Alagoas, Brasília”, completa.
Neste sábado (30), são lançados os dois primeiros episódios do Futuro Ex-Porta. No total, serão oito, divulgados um por semana.
No domingo, às 18h, vai ao ar uma esquete especial no canal do Whindersson Nunes no YouTube, para promover o reality. No vídeo, o elenco do Porta visita a empresa do humorista, e se encanta com os benefícios de trabalhar lá, provocando os atores a se tornarem de fato ex-portas.
“Foi uma delícia essa esquete, porque o Whindersson deu um trapa na cara do Kibe [Antonio Tabet], que é o que a gente estava querendo há dez anos. Isso deu uma lavada na nossa alma”, diverte-se Porchat.