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Folhapress/ Ana Luiza Albuquerque

A Polícia Militar do Rio de Janeiro matou ao menos seis pessoas na manhã desta quinta-feira (3) durante operação no Parque Floresta, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Moradores da região, porém, contabilizam pelo menos 15 mortes e afirmam que alguns foram assassinados mesmo depois de rendidos.

Em nota, a corporação afirmou que as equipes foram atacadas a tiros por criminosos e que, por isso, houve confronto. Sete suspeitos foram presos e outros três, feridos, estão sob custódia no Hospital de Belford Roxo. Segundo a polícia, foram apreendidos oito fuzis, cinco pistolas, quatro granadas e drogas. A ocorrência está em andamento na 54ª DP (Belford Roxo).

A IDMJR (Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial), instituição de defesa dos direitos humanos que atua na Baixada, afirma que recebeu inúmeros relatos de moradores sobre pessoas sendo mortas pela polícia, mesmo após terem sido encurraladas. Procurada, a Polícia Militar afirma que a operação seguiu rigorosamente as determinações legais.

Segundo a organização, houve operação em ao menos quatro bairros. Em um dos áudios, um morador afirma que em apenas uma rua foram mortas 5 ou 6 pessoas, e que em Vila Pauline, bairro vizinho ao Parque Floresta, havia corpos em várias casas.

Em um dos vídeos recebidos pela IDMJR, visto pela reportagem, um homem abrigado em uma casa filma uma intensa troca de tiros e policiais do lado de fora. Em seguida, ele grava o próprio rosto e diz que está encurralado. Horas depois, amigos lamentaram a sua morte nas redes sociais.

Em outra gravação, uma moradora afirma que a ordem não era para prender, mas sim para matar. “Estavam querendo se entregar e eles não estavam deixando, estavam metendo bala para dentro da casa”, diz.

A instituição procurou o Ministério Público do Rio de Janeiro, responsável pelo controle externo das polícias, que respondeu ter sido notificado pela polícia a respeito da operação.

O órgão também pediu imagens e vídeos para auxiliar na identificação dos envolvidos e afirmou que está em contato direto com a corregedoria da polícia para adoção de providências.

Em nota, o Ministério Público confirmou que recebeu a comunicação da Polícia Militar às 05h53 desta quinta-feira. “A justificativa apresentada diz respeito à necessidade de estabilização do território em razão de confronto entre facções rivais”, afirma o texto.

Segundo o órgão, um relatório com as informações apuradas será posteriormente encaminhado às Promotorias de Justiça com atribuição para análise.

A operação desta quinta-feira ocorreu a despeito da determinação do STF (Supremo Tribunal Federal) que restringiu as operações policiais no Rio de Janeiro para casos excepcionais enquanto durar a pandemia da Covid-19.

A polícia disse, em nota, que o objetivo da ação desta manhã foi “coibir ações criminosas na região, além de intervir em uma disputa territorial entre grupos criminosos rivais”.

Nesta quarta-feira (2), o Supremo voltou a analisar a ação e formou maioria para obrigar o estado a apresentar um plano de redução da letalidade policial em até 90 dias.

Há exatamente um ano, Belford Roxo era palco de uma megaoperação da polícia, que, segundo moradores, se estendeu por meses.

À época, o jornal Folha de S.Paulo noticiou uma rotina de desaparecimentos e assassinatos na esteira da operação, com envolvimento de milícia. Cinco pessoas narraram à reportagem violações de direitos humanos na região desde o início daquela ação.

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